Opinião – Uma verdadeira alternativa

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Na última campanha autárquica alguns dos planos foi discutido o futuro da Linha Oeste, mostrando a falta de proactividade dos candidatos, que, para além de fazerem algumas afirmações sensatas, nunca demonstraram qualquer compromisso para o futuro, pois ao dizerem coisas óbvias dificilmente podem mobilizar o poder central em relação ao tema.
Uma excepção foi do reeleito Presidente da Câmara de Leiria que fez incidentalmente uma observação (já referida por algumas pessoas), que me pareceu estratégica e que poderia mesmo mudar a função e o destino da Linha do Oeste: ligar a Linha do Oeste a Lisboa por Loures.
Neste jornal a linha do Oeste tem sido um tema recorrente e bem estudado e analisado, mas, como se diz habitualmente, estes assuntos são demasiadamente importantes, para os deixarmos exclusivamente na mão dos conhecedores e dos especialistas.
Por vezes, a ideia decisiva pode surgir de uma conjugação de outros factores e por vezes da vontade e empenhamento de muita mais gente, que de repente, encontre aquilo que pode fazer a diferença e que merece a mobilização geral.

É já moeda corrente dizer que os transportes em comum e os transportes utilizando a ferrovia, ou mesmo outros métodos mais inovadores, são o futuro e que mostram já as vantagens competitivas duns países e regiões em relação aos outros.
Em Portugal a aposta nas vias ferroviárias foi ignorada (intencionalmente) durante muitos anos, tendo o poder político e mesmo a população (por nunca demonstrar uma vontade contrária) preferido a mobilidade por vias rodoviárias, uma vez que isso permita uma maior flexibilidade, mas também a afirmação (discutível) do automóvel como bem distintivo e de afirmação social na vida moderna.
O país encheu-se de autoestradas e vias rápidas, permitindo hoje e com vantagens no curto prazo, que se chegasse a qualquer ponto do país mais distante em poucas horas, invertendo uma deficiência remota que um país pequeno vivera desde sempre.
Em contrapartida, foram abandonados os transportes em comum, especialmente os mais eficientes do ponto de vista energético, chegando este fenómeno a Lisboa e Porto com o abandono (apressado) dos transportes urbanos eléctricos, que hoje são moda (racional) nos países mais avançados.
O sector privado dos transportes não esteve desatento, tendo apresentado como alternativa uma rede completa e permanente de oferta de transportes de autocarro mais ou menos rápido, mas que, por mais barato que seja, não substitui cabal e sustentadamente o transporte ferroviário. A maioria dos países mais desenvolvidos demonstra hoje que o transporte ferroviário é uma oferta mais segura, qualificada, cómoda e eficiente energeticamente nas médias e longas distâncias, que não sejam substituídas pelo meio aéreo.
Ora quem estudar um pouco a linha do Oeste, mesmo que não seja especialista em mobilidade ou transportes, verifica que houve uma atitude envergonhada primeiro e assumida depois, para a sua eliminação, anunciada oficialmente e reiterada, e depois a decisão anulada.
As várias tentativas de encerrar a linha foram-se gorando, mas manhosamente foi feito aquilo que leva mais rápida e facilmente ao abandono da procura: diminuir a oferta, piorar a sua qualidade, criar obstáculos que só um resistente insano pode aceitar.
Um dos problemas mais graves, para além da qualidade da oferta do transporte, é do tempo que a deslocação obriga. Fazer uma viagem de uma centena de quilómetros em mais de 2 horas, é uma coisa que qualquer pessoa verifica que o objectivo é afastar o cliente. Fazer esta deslocação em menos de uma hora seria o objectivo crucial e hoje tecnologicamente o mesmo é possível e viável facilmente.
Obrigar os comboios da linha do Oeste a percorrer um percurso muito mais longo para chegar à capital, atravessando ainda por cima uma área superlotada de circulações, obrigando a atrasos, mudanças de comboios, e muitos mais problemas, condena sem qualquer dúvida o sucesso da operação.
Na reorganização da mobilidade que está a ser feita finalmente em Lisboa, com novo protagonismo dos órgãos autárquicos, aponta-se como decisivo prolongar a linha de metropolitano ao município de Loures, um concelho densamente povoado e que não tem tido acesso a transportes da ferrovia.
Assim, não seria uma solução lógica para os próximos 5 a 10 anos, estudar uma nova ligação à área metropolitana de Lisboa da Linha Oeste, à futura plataforma de transportes de Loures, que fica a pouco mais de uma dezena de quilómetros da linha do Oeste? Não seria uma solução mais económica e com potencial de romper com o actual estado das acessibilidades na região?
Há um exemplo de falta de visão e de planeamento (para não recordar outras razões mais banais, como o negócio dos táxis) que impediu a chegada do metropolitano ao velho aeroporto de Lisboa, com uma linha que chegava ao Campo Grande a passar no final da pista do mesmo. Uma decisão decente e que defendesse o interesse dos utentes do aeroporto teria levada a uma decisão atempada.
Para a linha do Oeste não se pede menos e certamente com alguns milhões de euros (poucos) aquele desvio podia ser feito com vantagem e viabilizando economicamente a linha do Oeste para este século. De outra forma, nenhuma medida de cosmética, mesmo que mais infraestrutural, como a duplicação da via e/ou a sua electrificação permitirá ganhar passageiros que encontrem na nova oferta uma vantagem competitiva e de comodidade. Por isso o que é anunciado e que apenas reduz em menos de 20 minutos o acesso das Caldas à capital é um perfeito embuste.
Oferecer solução que constituem apenas alterações incrementais e de pouca monta, significa que não se quer romper com o stato quo e provocar mesmo alterações radicais, que só esses podem criar uma verdadeira alternativa que mude o paradigma do transporte nesta região.
Com uma nova e verdadeira oferta, o lado da procura – municípios, empresas e os próprios particulares – deviam assumir um compromisso de preferirem este novo meio de acesso à capital, que viabilizaria inevitavelmente este investimento e que diminuiria drasticamente o consumo em combustíveis fósseis.