Porque é que se tem medo do dentista?

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LuisMagalhaesSegredos da Saúde Oral

Enquanto fazia o curso de Medicina Dentária, era comum ir com os meus colegas ver um filme depois das aulas.
Aquele de que me lembro melhor é o “The Ring”, a americanização de um filme japonês de terror, “Ringu”.
“The Ring” é um filme sobre uma rapariga jovem que saí da televisão daqueles que têm o azar de ver uma cassete de vídeo amaldiçoada, e os mata (aparentemente, de susto). E o filme tinha um ambiente tão tenso que com qualquer barulho, ficávamos sobresaltados. Não houve nenhum de nós que, naquela noite, não olhasse com alguma desconfiança para a televisão.
Felizmente a minha era tão pequena que seria muito difícil sair dela algo ameaçador.
O medo faz parte do instinto de auto-preservação do ser humano. É uma resposta inconsciente, e portanto, é difícil de controlar. Mesmo quando sabemos que não há razão para ter medo, as partes mais primitivas do nosso cérebro não ligam aos fatos, porque muitas vezes, em situação de perigo, o tempo que se perde a ponderar os fatos é a diferença entre a vida e a morte.
O mesmo se passa no consultório. É normal aparecerem-me pessoas, envergonhadas, cheias de medo. Pessoas que estão a ser tratadas e estão quase a chorar, mas quando lhes é perguntado, admitem não estar a ter dores nenhumas nem qualquer tipo de desconforto. Apenas têm um medo incontrolável – dos barulhos, dos instrumentos, às vezes até da visão da cadeira.
Não é preciso pedir desculpa. Nós, dentistas, sabemos bem que não é culpa da paciente. A profissão tem uma história de provocar medo, que já remota de tempos em que nem todos os dentistas eram profissionais ou cuidadosos, e é agravada pelas histórias que a sociedade conta – tal como o filme “The Ring” contava acerca das cassetes de video e televisores – que plantam ideias erradas no subconsciente.
Um exemplo é o dos pais que usam o dentista como uma ferramenta de provocar medo, para que as crianças se alimentem bem. É normal que, se o dentista é apresentado como um castigo, quando a criança tiver que visitar o dentista (porque mais tarde ou mais cedo, todos precisam) ela vá com medo. E assim se perpétua o esterótipo.
Para muitos, é óbvio que gostariam de deixar de ter medo, pois a melhoria na vida é tangível. Toda a gente precisa de ir ao dentista, e gosta de ter a boca saudável, e quer fazê-lo sem sofrer um ataque nervoso ou de pânico.
Mas mesmo dominar um medo menos significativo, como o medo de aranhas, tem um efeito positivo na vida: é mais uma conquista à qual recorrer na busca por confiança e auto-estima, dois recursos dos quais nunca se tem demais.
Todas as vitórias da nossa vida foram conquistas contra o medo. Os primeiros passos quando bebé conquistaram o medo de cair.
A primeira viagem de bicicleta conquistou o medo de cair de mais alto. O terminar daquele exame na faculdade foi a conquista do medo de não ser bom suficiente a essa disciplina. E assim por diante. É assim que crescemos e formamos o nosso caracter..
Não é possível crescer sem enfrentar um medo. E todos os medos são conquistáveis, mesmo que uns sejam mais difíceis de conquistar do que outros.
Então, como conquistar o medo do dentista, pergunta o leitor? Esteja atento ao próximo artigo, daqui a duas semanas. Nele, vou detalhar alguns passos a seguir.

Luís Falcão de Magalhães
luis.falcao.magalhaes@gmail.com