Os ritmos quentes de Cabo Verde interpretados por Zezé Barbosa começaram por animar os ânimos dos populares que iam chegando ao Grupo Desportivo e Recreativo de A-dos-Negros, para a sardinhada promovida pelo BE.
Esta é a primeira vez que o bloco concorre em Óbidos, à Câmara e à Assembleia Municipal, e os candidatos andaram durante a última semana em campanha porta a porta por várias aldeias do concelho. O candidato à Câmara, João Paulo Cardoso, encontrou em certos locais pessoas que “parecem que vivem nos anos 50 do século passado”, sem transportes públicos para se deslocar, dinheiro suficiente para comprar os medicamentos ou falta de locais de convívio. Garante que quer combater essas dificuldades e, entre as várias propostas, fala na criação de um roteiro turístico que integre todo o concelho e, ao mesmo tempo, permita a recuperação dos centros das várias localidades.
Por outro lado, o candidato independente pelo BE encontrou outros locais onde os espaços públicos já são iluminados com lâmpadas LED (com mais eficiência energética) e onde há vários restaurantes e outros equipamentos de apoio aos turistas e visitantes. É este concelho a duas velocidades que também é denunciado pelo deputado à Assembleia da República, Heitor de Sousa, que destaca que se trata de um problema comum no distrito de Leiria.
“Dentro de cada concelho há uma macrocefalia da sede do concelho em relação ao resto do território”, diz, acrescentando que este problema pode ser combatido com políticas de ordenamento e recuperação do património, defesa dos direitos de acesso das populações à saúde, ensino e cultura. Na sua opinião, a cultura “não pode ser importada de fora para dentro dos concelhos, com a compra de espectáculos, antes deve permitir que as populações criem os seus mecanismos de identificação própria e formas de expressão cultural autónomas”.
Heitor de Sousa partilhou a sua dificuldade em chegar a A-dos-Negros, tendo de se socorrer do GPS, pois não existem indicações, a partir de Óbidos para se chegar a esta aldeia.
Candidato à Assembleia Municipal, Fábio Capinha, foi uma das pessoas que despoletou o processo de candidatura do BE em Óbidos por seguir de perto as políticas desde partido e por entender que fazia falta uma alternativa no concelho. O jovem militante diz que os turistas vêem Óbidos como o “paraíso na terra”, mas que as pessoas que cá vivem “não sentem isso”.
Fábio Capinha critica o valor do IMI pago em Óbidos, mais alto em comparação com os concelhos vizinhos, assim como os eventos promovidos, que diz serem importados e nada terem a ver com a cultura local.
Parte do “contra poder”, como se afirma, Fábio Capinha começou a organizar actividades culturais em A-dos-Negros, com o intuito de recuperar tradições antigas. O jovem bloquista considera também que há muita criatividade no concelho, mas que não é aproveitada pela autarquia. “Há um poder que se apropriou da criatividade local e que acha que só aquela elite é que consegue produzir cultura, mas nós estamos aqui para desconstruir isso”, concluiu.
O Bloco de Esquerda fará o encerramento da campanha no dia 29, pelas 19h00, na associação do Pinhal de Óbidos.