Ex-alunos da Escola Industrial e Comercial recordaram memórias em almoço de confraternização

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Mais de trezentas pessoas reuniram-se na Lareira, a 8 de Maio, para participar no 17º Encontro dos Antigos Alunos da Escola Industrial e Comercial. Este evento anual é um sucesso há vários anos e reúne várias gerações de então jovens que frequentaram aquela escola caldense mais que centenária.
Antes coube durante largas décadas ao saudoso Professor Adelino Mamede organizar no INATEL idênticos encontros, que, contudo não reuniam as camadas mais jovens.
Muitos têm hoje lugares de destaque em várias áreas da sociedade mas nestes eventos querem apenas reencontrar amigos que não vêem há décadas, para reviver memórias e matar saudades dos tempos de estudantes.

É numa gigantesca sala do restaurante “A Lareira” que se encontram os convivas. “Eh pá, estás cá! Há quanto tempo não nos víamos?”, são expressões que se ouvem aqui a ali e há gente que se abraça enquanto outros “brincam” com as rugas dos amigos que já não vêem há vários anos.
Para ajudar a identificar amigos, este ano todos os convivas usaram na lapela um cartão com o rosto com a identificação e com fotografia actual mas também a dos idos tempos de estudo na escola caldense. “Assim quando não nos lembramos sempre dá para ver como era a pessoa no tempo da escola, não é?”, comentava uma das convivas em amena cavaqueira com um grupo.
“Todos os anos vem participar gente pela primeira vez. Começamos a falar uns com os outros e por vezes parece que as conversas foram interrompidas ontem mas na verdade já passaram 30 ou 40 anos”. Quem o diz é José Ventura, organizador deste evento anual desde 2006. Um ano antes tinha participado no almoço-convívio e tinha ficado com a sensação que era apenas para gerações mais velhas e como sentiu falta de gente da sua idade, propôs-se a organizar e a alargar o âmbito dos participantes. Há quatro anos, quando se voluntariou para a iniciativa reuniram-se entre 150 a 190 pessoas mas  agora, e sobretudo após a criação do blogue (www.alu nosbordalo.blo gspot.com), “a iniciativa tem vindo a crescer pois permitiu comunicar até com aqueles que emigraram e que por vezes fazem coincidir as suas vindas com estas realizações”, contou.
Antes do almoço, a concentração dos convivas decorreu no Parque e foi feita com uma visita ao Museu Malhoa.
Após o almoço houve momentos musicais e de magia, seguidos de um lanche. “Há sempre quem queira falar, partilhar memórias e por isso  vamos deixar isto entregue às pessoas. É por isso que estes eventos são especiais. Valem pela participação das pessoas”, rematou José Ventura.

Grupo do Parque soma mais de 950 anos

Entre os participantes conta-se o famoso Grupo do Parque. Do colectivo fazem parte cerca de 20 caldenses, de várias áreas profissionais, que habitualmente se reúnem aos Domingos de manhã no Parque. Têm uma outra prática mensal: almoçam todas as penúltimas quartas-feiras do mês num restaurante do concelho. “Do grupo sou o único que ainda trabalho, o resto dos elementos já estão todos reformados”, explicava Joaquim Ladeira Baptista, de 80 anos, e presidente do Conselho de Administração da empresa Thomaz dos Santos. Trabalha há 58 anos pois os tempos eram outros e “ainda frequentava a instrução primária, já trabalhava”.
Gosta de pertencer a este grupo de convívio, onde a maioria já passou os 80 anos, pois “mantemos o contacto e o convívio”. Em relação a estes encontros da Escola Comercial e Industrial este conviva diz que veio pela primeira vez em 1963 mas depois “deixei de vir pois tinha receio de já não reencontrar ninguém do meu tempo”. Ladeira Baptista retomou o contacto no ano anterior com estes almoços e com ele acederam vir também os elementos do grupo do Parque que também frequentaram aquela escola. “Vimo-nos todas as semanas e neste dia reencontramos outros e com eles relembramos os tempos em que éramos jovens”, rematou aquele conviva.
António Gonçalves, 82 anos, outro dos elementos deste grupo dedicou a sua vida ao comércio caldense. “Temos sempre a expectativa de reencontrar pessoas que já não vêem há muito tempo, mas agora já conheço pouca gente que vem a estes encontros”, dizia o participante que quer continuar a vir aos almoços-convivio.
João Figueiredo, de 81 anos, dedicou-se à sua gráfica, situada na Rua Alexandre Herculano. “Este reencontro com as pessoas amigas…do antigamente é extraordinário”, comentou este participante que está a  a fazer conta de continuar a vir, para conviver e “reencontrar aqueles que não vemos há dezenas de anos”.
Francisco Martins tem a mesma idade e chegou a chefiar o departamento de contabilidade de uma das direcções da EDP. O que mais aprecia nestas realizações é o facto de estarem representadas várias gerações de alunos. Era um habitué desta realização nos anos 60 e agora decidiu retomar estes convívios com o seu grupo do Parque. “Até agora já encontrei gente que actualmente vive em Lisboa mas que antes, durante a nossa infância vivíamos na mesma rua”, rematou.
Já Joaquim Veneziano, de 80 anos, que é director dos Correios aposentado acha que este tipo de encontros “são excelentes” e só falha quando não está nas Caldas. Lamenta apenas que “há cada vez menos gente da nossa geração”. De qualquer modo, diz que “é sempre com muita alegria que nos juntamos para conviver”.
Emílio Nogueira, de 81 anos e António Próspero, de 76, gostam de conviver e de reviver memorias dos tempos da juventude. O primeiro foi comerciante, tinha mais de 700 clientes desde a Figueira da Foz, no Cartaxo, no Bombarral, em Rio Maior e em Leiria. António Próspero dedicou a sua vida também ao comércio nas Caldas.
“Esta mesa toda junta dá 951 anos”, disse Eduardo Carvalho, 84 anos, que dedicou a sua vida à actividade comercial e também organizou a união dos armazenistas das Caldas. “É sempre bom reencontrar as pessoas amigas, mesmo de outros tempos, pois às vezes moramos na mesma cidade e não nos vemos. Já reencontrei várias pessoas e é sempre muito bom”.
Quem gostou muto de frequentar a Escola Comercial e Industrial  foi Henrique Jordão, de 81 anos. “Foram tempos fantásticos e hoje é bom recordá-los”, disse este conviva que acabou por seguir a sua vida em Lisboa. O Grupo do Parque ainda integra o investigador caldense, Mário Tavares, um dos mais novos do colectivo, que tem apenas 72 anos.

Testemunhos

“Os reencontros são o melhor destes convívios”

“Vivi nas Caldas durante dois anos, quando vim com a minha família de Marrocos. O meu pai é português e minha mãe espanhola e eu e a minha irmã fomos educadas na cultura francesa em Casablanca.
Não falávamos português e a nossa língua sempre foi o Francês mas o meu pai decidiu colocar-nos numa escola portuguesa, para aprender a língua, a história e a literatura deste pais.
No início queríamos ir Colégio Ramalho Ortigão, mas foram fantásticos na Escola Comercial, receberam-nos lindamente.
Tomei conhecimento destes convívio há quatro anos e sempre que me é possível, regresso às Caldas para neles participar. Os reencontros são o melhor deste evento”.

Maria Luísa Torre Blanca


“É nestes convívios que reencontro companheiros que conheci em Montreal (Canadá)”

“Não venho todos os anos mas estive presente há dois e é sempre muito agradável . Faço coincidir as minhas vinhas com estas iniciativas, juntando o útil ao agradável.
O que mais gosto é do reencontro com as pessoas que não vejo há muito tempo. Há  alguns que agora reencontro e que não via há 40 anos.
Entre as pessoas presentes até já encontrei alguns que foram meus companheiros em em Montreal (Canadá) e que acabo por reencontrar aqui. É é sempre muito bom.
Sou agente de viagens há 30 anos e assim que terminou a Escola Comercial e Industrial, emigrei para o Canadá. A escola não me deixou recordações especiais apesar de ter sido algo que me marcou, pois estive lá entre os 11 e os 16 anos, e o que hoje somos, resulta do que aprendemos daquele período.
Temos que agradecer muito ao Zé Ventura, por ter criado o blogue e ter permitido estes reencontros”.

José Luís Carocha

Professora reencontra alunas da Formação Feminina

“Fui aluna na escola e terminei em 1963 e comecei a dar aulas em 1965, primeiro nos cursos de Formação Feminina. Leccionei na Escola Comercial até 1975 e depois fui para o Magistério Primário. Com a Revolução de 1974 passei a dar Trabalhos Oficinais e estive em escolas na  Guarda, na Baixa da Banheira, em Alcobaça e só depois é que regressei às Caldas.
Venho sempre que posso a estes convívios onde reencontro pessoas que não via há largos anos.
É sempre muito bom o reencontro com os amigos e os colegas. Este ano fiquei muito surpreendida pois dantes vinham sobretudo as gerações mais velhas e agora já aqui encontro as minhas alunas da Formação Feminina”.

Fernanda Beatriz


Conviva com 93 anos vai continuar a participar

“Vim sempre a todos os encontros, mas agora já não consigo encontrar ninguém que conheça… tenho que continuar a procurar.
A minha mulher não queria que eu viesse pois está a chover muito e eu trago a bengala para me apoiar.
Estive no Ministério da Economia, trabalhei na Junta Nacional do Vinho e estive quase para emigrar para os EUA, para integrar na policia. Acabei por optar por ficar em Portugal.
Enquanto durar, e já tenho 93 anos, vou continuar a vir a estes almoços-convivios”.

Alfredo Damião


Ex-alunos radicados nos EUA podem participar na edição do próximo ano

“Acho que estes convívios são espectaculares e este ano decidi fazer coincidir a minha estadia em Portugal com esta realização. Normalmente, por causa dos meus afazeres profissionais, nesta altura é raro poder, costumo estar na China.
É muito importante reencontrar pessoas que não vemos há 40 anos! E Se não as reconhecemos logo, sempre há o crachá com a fotografia da altura da escola.
A organização desta iniciativa merece o nosso respeito e consideração. Temos, espalhados por toda a zona metropolitana de Nova Iorque, nos  EUA, um grupo grande de ex-alunos destas escola – entre 30 a 40 pessoas –  e vamos tentar trazê-los para o próximo encontro.
A Gazeta é um elo muito importante na ligação aos nossos emigrantes.
Membro da Associação Regional Caldense há 27 anos – uma ideia de louvar. Agora on-line sabemos o que se passa – a missão é reunir os caldenses que estão espalhados pelos EUA”.

Jorge Ventura


Com mais ou menos rugas, acabamos por nos reconhecer…”

“Estou sensibilizada pois há aqui caras dos tempos da minha juventude e que não vejo há mais de 40 anos.
Fui bailarina e fiz muitos espectáculos no Teatro Pinheiro Chagas. Fazia par com José Correia e ainda chegeui a participar nalgumas peças de teatro no CCC (Conjunto Cénico Caldense).
Cheguei ainda a dar aulas de andebol, voleibol e de ginástica rítmica no primeiro liceu, ainda nos Pavilhões do Parque.
Venho poucas vezes às Caldas, agora só para passear, comer um bolo no Machado e a dar uma volta pela Praça.
Há coisas muito engraçadas que se fizeram naquela escola. Vejo que, com mais ou menos rugas,  acabamos todos por nos reconhecer…”.

Luísa Ramires


“É bom reviver velhos tempos, unindo várias gerações”

“Estudei nas Caldas durante quatro anos a partir de 1963. Viemos morar para cá e a cidade marcou-me muito em termos profissionais e afectivos. Tenho casa na Serra do Bouro e venho sempre a estes almoços pois só encontro estes colegas de escola nestas ocasiões.
Frequentei cerâmica na Escola Comercial e Industrial e hoje sou escultora. Conheci vários ceramistas e artistas caldenses e cheguei a escrever um livro sobre Rafael Bordalo Pinheiro. Organizei também várias exposições de cerâmica das Caldas em Lisboa, também dirigi galerias e sempre que me foi possível mostrei património cerâmico do século XIX, em parceria  com Herculano Elias ou com Nicole Ballu Loureiro.
As Caldas é o espaço da minha adolescência. Frequentei os bailes do Casino e do Lisbonense – que começávamos às 20h30 e só acabavam às oito e meia da manhã – com a  volta à “Rainha”. Eu e mais alguns amigos, saíamos do Hotel Lisbonense com a orquestra que estava a tocar e só depois de dar a volta à estátua  é que acabava a festa.
Hoje é muito gratificante saber que  este grupo não acabou e é muito bom reviver velhos tempos, juntando-se aqui várias gerações”.

Aida de Sousa Dias