Golpe das Caldas vai ser retratado em livro de banda desenhada no próximo 16 de Março

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Gazeta das Caldas
O coronel Silva Carvalho e o criador José Ruy | N.N.

O desenhador José Ruy visitou o quartel das Caldas da Rainha no 4 de Outubro para preparar um novo capítulo do seu livro “Nascida das Águas” dedicado ao 16 de Março e que estará pronto em 2018.
Gazeta das Caldas está a acompanhar a feitura deste novo capítulo e apresenta os primeiros esboços do autor sobre o Golpe das Caldas, agora contado em banda desenhada.

José Ruy, 87 anos, decano da banda desenhada portuguesa, deslocou-se de propósito às Caldas para efectuar uma visita à ESE. Munido de uma máquina de filmar e de papel e lápis, o autor, perspicaz e de olhar atento, foi registando vários pormenores dos locais (ver rodapé) para poder desenhar e contar com maior realismo os episódios do 16 de Março.
José Ruy foi recebido pelo comandante da ESE, Pedro Sardinha, mas foi do coronel Silva Carvalho – um dos protagonistas do 16 de Março que à data era um jovem tenente – que ouviu as memórias dos acontecimentos daqueles dias precursores de grandes mudanças.
O 16 de Março aconteceu numa sexta-feira à noite. “Só cá estavam os recrutas do Norte que se encontravam a finalizar o seu curso”, disse Silva Carvalho acrescentando que naquela noite só estava no então RI5, “apenas um terço da companhia operacional”. Na opinião do militar, “era uma força que se organizou naquela noite para corresponder a um pedido que não chegou de lado nenhum…”.
Enquanto ouvia o relato de Silva Carvalho, o desenhador ia visitando o gabinete do comandante, a biblioteca, a cantina, a central telefónica e registava pormenores do mobiliário e dos edifícios, quer através de desenhos, quer através de uma máquina de filmar.
Entre as casernas da ESE há algumas que ainda têm o mesmo tipo de mobiliário que era usado em 1974. As camas dos soldados, organizadas em beliches, foram desenhadas no momento por José Ruy. O autor da BD em seguida pediu informações específicas sobre o paiol da ESE, onde então eram guardadas as munições da unidade, tendo tido a oportunidade de o desenhar no local.
“Foi uma visita importante pois eu precisava de ver os locais para os poder desenhar na história”, disse José Ruy, explicando que foram igualmente úteis as “vivas memórias” de Silva Carvalho em relação aos acontecimentos vividos.
Com estes elementos recolhidos no quartel caldense o desenhador pode agora “reajustar as vinhetas na história, quando os militares são acordados a meio da noite para partirem sobre Lisboa”. A pesquisa veio possibilitar ainda ao mestre da BD completar as cenas em que “os comandantes são retidos nos gabinetes pelo então tenente Vítor Carvalho”.
Elementos fundamentais para recriar os acontecimentos são também o trabalho de investigação académica de Joana Tornada e os vários artigos da Gazeta das Caldas sobre o 16 de Março.

“Reencontros são uma das felicidades desta profissão”

Joaquim Oliveira Silva é professor de História e de História Militar. Está na ESE desde 2010 e é da Amadora. Qual não foi o seu espanto quando viu José Ruy, autor de banda desenhada da sua terra natal, no quartel das Caldas registando pormenores dos vários espaços. Fez questão de o cumprimentar e contou-lhe que jamais se esquecerá de quando tinha 16 ou 17 anos e decidiu ir a casa de José Ruy, com o seu amigo Rodrigo Dias, para lhe mostrar umas pranchas que ambos faziam. “Ele achou que era um bom trabalho e incentivou-nos a continuar aquele nosso passatempo”, disse o agora professor de História. O seu amigo, hoje um conhecido artista da amadora, ocupava-se dos desenhos da BD, que era então um dos passatempos favoritos dos dois jovens.
Apesar de não se recordar deste encontro específico, José Ruy comentou que estes “reencontros são uma das felicidades desta profissão”.

Gazeta das Caldas
| D.R.

 

Uma das páginas, ainda não terminada do livro com a história do 16 de Março | |D.R.
Uma das páginas, ainda não terminada do livro com a história do 16 de Março | |D.R.