Centenas juntaram-se contra os maus tratos nas crianças

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O laço humano envolveu crianças e jovens de várias escolas e utentes do CEEDRL
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Mais de 200 crianças e jovens juntaram-se no campo de rugby das Caldas e formaram um grande laço azul humano, símbolo contra os maus tratos nas crianças

Dia 30 de abril, 11h30. Crianças e jovens do Agrupamento de Escolas Raul Proença, do Colégio Rainha D. Leonor e utentes do Centro de Educação Especial Rainha D. Leonor, juntaram-se no Campo de Rugby e, juntos, criaram um grande laço humano. A campanha, simbolizada pelo laço azul, teve início nos Estados Unidos quando, em 1989, Bonnie Finney amarrou uma fita azul na antena do carro, em homenagem ao seu neto, vítima mortal de maus-tratos. Com esse gesto quis “fazer com que as pessoas se questionassem” e a repercussão foi de tal ordem que abril passou a ser o Mês Internacional da Prevenção dos Maus-Tratos na Infância.
Ana Catarina Almeida, presidente da Comissão de Proteção de Crianças e Jovens das Caldas da Rainha (CPCJ), explicou que os maus tratos são de ordem física mas também psicológica e que estes últimos, sem deixar marca visível, afligem muitas crianças e jovens, pelo que é muito importante que “fiquem alerta e não tolerem maus tratos de qualquer ordem”. Ao longo do ano a CPCJ dinamiza sessões de sensibilização nas escolas, para os vários níveis de ensino, em colaboração com a GNR e a PSP. E quando são sinalizadas determinadas problemáticas, são realizadas ações mais específicas nessas escolas.

Negligência e exposição à violência
No final de 2023 a CPCJ caldense tinha 73 processos ativos e atualmente aumentou para 120. Ana Catarina Almeida explica que é “normal que durante o ano o número vá aumentando e diminuindo”, mas que há uma tendência de crescimento. A negligência e a exposição a comportamentos no âmbito da violência doméstica representam o maior número de casos. De acordo com a responsável, “as crianças ficam muito expostas aos comportamentos dos pais e, hoje em dia, a lei prevê que é uma vítima tal e qual como quem tem participação ativa”.
Ao nível da primeira infância o principal problema identificado é o da negligência ao nível dos cuidados básicos, mesmo em termos de saúde. Ana Catarina Almeida relaciona este comportamento com duas problemáticas: a falta de habitação e a falta de cuidados de saúde. No que respeita à habitação, explica que há muitas famílias a partilhar casas pequenas e sem as condições mínimas para as crianças. Para além disso, há pais que “não cumprem as consultas, não querem vacinar as crianças, há famílias que são itinerantes e circulam de cidade em cidade…”, acrescentou Ana Catarina Almeida.
A responsável mostra a sua preocupação com o facto de, em muitos casos, tratar-se de migrantes provenientes de locais onde a criança não é valorizada e não acatarem as regras e hábitos portugueses. “Têm como grande objetivo trabalhar e as crianças não têm, muitas vezes, a resposta mais adequada”, denuncia, acrescentando que vão fazer um trabalho de sensibilização para essas famílias.
A falta de resposta ao nível da saúde mental também é um problema, nomeadamente com a carência de psicólogos clínicos, para ajudar crianças e jovens vítimas de maus tratos ou mesmo as famílias. “É muito urgente porque, principalmente, os casais mais jovens são muito intolerantes e nota-se que há alguma instabilidade ao nível emocional, que depois se reflete nas crianças e no ambiente em casa”, explica a presidente da CPCJ, acrescentando que tem a experiência dos atendimentos em que, muitas das vezes, pessoas só querem ser ouvidas.
Ana Catarina Almeida realça que a CPCJ “não quer tirar os filhos aos pais” e que tem o princípio da prevalência na família. No entanto, é necessário que a família altere os seus comportamentos e ganhe competências parentais. Para ajudar nesse sentido, começou a funcionar no início do mês, o Centro de Apoio Familiar e Aconselhamento Parental (CAFAF) da Associação Social e Cultural Paradense, que conta com uma equipa composta por uma assistente social/mediadora familiar, uma psicóloga clínica, uma educadora social e uma educadora de infância. ■

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