Grupo de Peritos confirmam intenção do governo em encerrar urgências de Peniche e reduzir as de Torres Vedras

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Bastonário da Ordem dos Médicos contra cortes no SNS e em defesa dos hospitais de proximidade

O bastonário da Ordem dos Médicos, José Manuel Silva, esteve nas Caldas, no passado dia 13 de Julho, onde criticou os cortes no Serviço Nacional de Saúde (SNS) e defendeu os hospitais de proximidade. No debate sobre a reorganização dos serviços de saúde, organizado pela Comissão de Utentes “Juntos pelo nosso Hospital”, participou também Ana Escoval,  da Escola Nacional de Saúde Pública, que falou dos problemas de um SNS que ouve pouco as pessoas e que está muito centralizado nas doenças e pouco na prevenção.Neste encontro, que juntou mais de 50 pessoas no auditório da ETEO, foi unânime a defesa da continuação do Hospital Termal no SNS, mantendo a génese para que foi criado pela rainha D. Leonor. “Quem se atrever a dizer que o SNS não é sustentável, porque deve 3 mil milhões de euros, tem que dizer que Portugal também não o é porque afinal este serviço apenas contribui com 0,5% dessa dívida [500 mil milhões de euros]”. As palavras são do Bastonário da Ordem dos Médicos, José Manuel Silva, que teceu duras criticas à forma como está a ser governado o país. O responsável defendeu mesmo que “bastaria a renegociação das parcerias público privadas (PPP) no sector rodoviário para pagar a dívida deste que é o melhor serviço público português”. José Manuel Silva elogiou o SNS, cujos indicadores da OCDE “coloca entre os melhores do mundo”, acrescentando que todos os portugueses vão precisar dele mais cedo ou mais tarde. O bastonário disse que não percebe como “um país admite que tenha sido conduzido à bancarrota e que ninguém esteja preso” e defende que é preciso “acordar”, pelo que é fundamental que surjam movimentos de cidadania. “Enquanto o povo português continuar a ser estultamente passivo, nós vamos continuar a ser explorados no nosso património”, denunciou.Referindo-se à reorganização dos serviços hospitalares na região, apelou aos profissionais de saúde para pedirem para ver os estudos do governo acerca do encerramento das unidades hospitalares, exigindo fundamentações técnicas e rigorosas para tomar uma posição. “A minha experiência em termos profissionais é muito defensora dos hospitais de proximidade”, disse, acrescentando que há pessoas que decidem sobre saúde que pensam que o podem fazer com um “passe de mágica no qual se fecha um hospital e desaparecem os doentes”. José Manuel Silva disse que Portugal tem bons indicadores na saúde pública, mas apresenta um número de camas hospitalares muito abaixo da média, com 3,3 camas por mil habitantes, enquanto que a média da OCDE é de 4,9 camas e na Alemanha esse número chega às 8,2 camas por mil habitantes.
A pressão para o privado
Também Ana Escoval, docente na Escola Nacional de Saúde Pública, destacou o papel do SNS, que colocou Portugal com indicadores de saúde ao “nível do melhor que se faz no mundo”. No entanto, encontra dois problemas no sistema: um conjunto de serviços muito centralizado nas doenças e pouco na prevenção, e uma organização que ouve pouco as pessoas. A também presidente da direcção da APDH (Associação Portuguesa para o Desenvolvimento Hospitalar) denunciou que actualmente há uma “pressão significativa para iniciativas privadas e para o aumento dos seguros”, e que é importante reflectir sobre como é que, com os recursos existentes, se pode dar às pessoas o que elas precisam, sem colocar em causa o SNS. Na sua opinião, é fundamental que todas as politicas públicas tenham presente a questão da saúde, fazendo notar que nos últimos tempos têm registado uma alteração significativa na procura, pois as questões relacionadas com a falta de emprego levam a problemas de saúde e também muitas pessoas que estavam no privado tiveram que passar para o serviço público. Também presente no debate, o ex-administrador delegado do Centro Hospitalar das Caldas da Rainha, Jorge Varandas, defendeu que a politica da saúde tem que ter duas pernas, uma financeira e outra da qualidade, mas que actualmente esta apenas está “centrada na perna financeira”. António Curado, porta-voz da comissão de utentes “Juntos pelo nosso Hospital”, reiterou a posição contra o encerramento de unidades e o fecho de urgências enquanto não for criada uma estrutura hospitalar nova. O também médico defendeu que os cuidados de saúde deviam estar centrados nas pessoas e disse que duvidava que venham a existir quaisquer ganhos com a fusão proposta pelo governo. A comissão caldense está integrada na Plataforma Oestina de Comissões de Utentes da Saúde, que já pediu uma reunião ao ministro da Saúde, mas até à data ainda não foi ouvida pela tutela.
O Hospital Termal é “sobretudo um problema de quem o administrar”
“Das 1760 pessoas que vieram às termas sabem qual a percentagem que era da região?” A resposta é de apenas 2% e foi também dada pelo presidente do Conselho de Administração do CHON, Carlos Sá, que assim justificava a situação do Hospital Termal e colocava nas mãos da população local a resolução do seu problema. O responsável explicou que aquele hospital precisava de ter 4000 por ano e que a média tem sido de 1800 pessoas. Esta posição foi de imediato rebatida pelo vereador socialista Rui Correia, que se referiu a Carlos Sá como “forasteiro” e recomendou-lhe que estude a história das Caldas. De acordo com o vereador, já no século XIX “quase todos os utentes vinham de fora” e os caldenses nunca foram os grandes utilizadores daquele hospital. Rui Correia questionou ainda como é possível “não orçamentar a análise das águas e pensar que isso é algo que a Câmara pode pagar”, como tem sido feito desde Março. Para o Bastonário da Ordem dos Médicos, o Hospital Termal é “sobretudo um problema de quem o administrar, que tem que trazer pessoas”. Falou da necessidade de divulgação e questionou sobre quantas pessoas sabem que este está a funcionar.  “Acho que o ministério da Saúde tem uma obrigação estrita em relação ao Termal”, disse Jorge Varandas, lembrando que D. Leonor, na carta de doação, determinou que o hospital que mandou construir era para tratar os pobres e que estes estão “actualmente no SNS”. No debate participaram também os representantes das comissões de Peniche e Torres Vedras, que integram a plataforma, assim como elementos vindos da Nazaré e Alcobaça.
Relançamento do termalismo em discussão a partir de Setembro

A comissão de utentes caldense prevê avançar com acções sobre o relançamento do termalismo em Setembro. “É preciso um trabalho mais incisivo pois o enfoque nos últimos 30 anos nesta cidade podia ter sido outro”, realça António Curado, acrescentando que agora a população está a sofrer as consequências de uma falta de investimento nesta actividade.O responsável refere que o termalismo é uma especificidade própria das Caldas (em relação a Peniche e Torres Vedras) e que é preciso lutar por ela. “Apesar de passarmos por lá durante a marcha [que decorreu no passado dia 7 de Julho], essa simbologia não basta, é preciso referir que não podemos deixar morrer o Hospital Termal”, disse, apelando aos caldenses, de nascimento ou de coração, para não deixarem de “honrar aquilo que os nossos antepassados nos deixaram e permitir  que se desuna o património termal”.António Curado disse ainda à Gazeta das Caldas que a comissão pondera também organizar-se, possivelmente, numa associação permitindo-lhe assim, através da cotização dos associados, arranjar fundos para custear as iniciativas.


Fátima Ferreira

fferreira@gazetadascaldas.pt