Maus cheiros afectam a população do Pó há quatro anos

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Gazeta das Caldas
A empresa Pentacoelho garante que cumpre todos os requisitos inerentes à sua actividade

Desde que a fábrica Pentacoelho se instalou no Pó, freguesia do Bombarral, que a população se queixa dos maus cheiros derivados da sua actividade. Embora a empresa actue de forma legal, os moradores que vivem perto da fábrica não se conformam com a não resolução deste problema, que afecta a sua vida diária de forma constante.

Em Fevereiro deste ano, o adjunto do secretário de Estado do Ambiente, Jorge Machado Dias, e o vice-presidente da CCDR-LVT, Fernando Ferreira, estiveram na empresa Pentacoelho (que se dedica ao abate e comercialização de carne de coelho) numa visita solicitada pela autarquia do Bombarral. O assunto? Os maus cheiros provocados pela actividade desta fábrica e que já motivaram várias queixas da população do Pó à autarquia, à ASAE e à APA (Agência Portuguesa do Ambiente). Mas passados cinco meses, este é um problema que continua por resolver e a afectar os moradores com casa junto à fábrica.
Steve Pedro, 40 anos, vive a 150 metros da Pentacoelho e foi o representante dos interesses da população numa reunião com a Secretaria do Estado do Ambiente, realizada antes da visita ao Bombarral, onde também esteve presente Nuno Bernardino, presidente da Junta de Freguesia do Pó. “Nós temo-nos virado para todo o lado, inclusive já foi feito um abaixo assinado, só que a empresa está legal, tem todas as licenças em dia”, disse Steve Pedro à Gazeta das Caldas, realçando que tão pouco ajuda o facto de “não existir muita legislação relacionada com os odores”.
Ainda assim, o representante recorda que quando a Câmara do Bombarral autorizou a construção da fábrica, “ficou escrito que esta unidade não podia produzir barulhos e odores que incomodassem os moradores população”.
Quanto ao ruído, Steve Pedro não tem reclamações, mas no que respeita aos maus cheiros, a conversa já é outra. Se o vento soprar para Sul, os odores chegam às casas junto à fábrica, afectando cerca de 200 pessoas. “Nós entendemos que a empresa investiu para ali ter a sua unidade, mas nós também investimos nas nossas casas e chegámos primeiro”, acrescentou o queixoso, que não entende como é que com tantos terrenos no concelho, foi concedida a construção de uma fábrica tão próxima de uma zona residencial. Steve Pedro reconhece ainda que “na altura em que foram dadas as autorizações para o projecto, a população não estava devidamente informada e deveria ter mostrado mais interesse”. Os moradores sugerem agora que se faça um estudo que avalie se a Pentacoelho cumpre ou não os parâmetros legais estabelecidos para a categoria dos odores e que a fábrica reduza o seu horário de funcionamento para as oito horas diárias, uma vez que actualmente trabalha 24 horas por dia, o que também poderá contribuir para a intensificação dos maus cheiros.
“Nós não estamos contra a empresa, mas queremos poder ter uma vida normal, poder abrir as janelas de casa, ou fazer festas ao ar livre”, esclareceu Steve Pedro, afirmando que a postura do administrador da Pentacoelho, João Poseiro, tem sido “politicamente correcta”. O morador contou que já se realizaram diversas reuniões em que se sentaram à mesa as várias partes interessadas e onde o responsável da empresa inclusive já pediu sugestões aos queixosos para resolver este problema. “Mas não somos nós que sabemos qual a melhor solução, essa pergunta tem que ser feita aos fabricantes dos equipamentos da fábrica”, acrescentou Steve Pedro, convencido que “tudo se resolve desde que haja dinheiro”.

“CUMPRIMOS A LEI”

Questionada pela Gazeta das Caldas, a Pentacoelho confirma que já foram apresentadas queixas à ASAE, SEPNA (GNR do ambiente), aos ministérios do Ambiente e da Agricultura, à CCDR, à IGAMAOT (Inspecção-Geral da Agricultura, do Mar, do Ambiente e do Ordenamento do Território) e até ao Presidente da República. “Dessas denúncias resultaram dezenas de visitas, inspecções e verificações e em todas elas se concluiu, sem excepção, o normal e regular funcionamento da unidade”, responde a administração, garantindo que cumpre com todos os requisitos inerentes à sua atividade.
A empresa acrescenta que possui uma certificação do sistema de segurança alimentar – ISO220000 e o diploma GPM + Feed Safety Assurance Scheeme, relacionados com o cumprimento de uma série de requisitos na produção de géneros alimentares.
Gazeta das Caldas contactou o presidente da Junta de Freguesia do Pó, Nuno Bernardino, que disse que não queria envolver-se neste assunto, remetendo-o para a Câmara do Bombarral. Por sua vez, o gabinete de comunicação desta autarquia remeteu o assunto para o Ministério do Ambiente.