Morreu Pepe Oneto, o último dos jornalistas estrangeiros que fez a cobertura do 16 de Março

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Pepe Oneto em Madrid, em 2018, quando foi entrevistado pela Gazeta das Caldas a reler a Cambio16

O jornalista espanhol, Pepe Oneto, de 77 anos, morreu na passada segunda-feira numa clínica em San Sebatian, onde tinha sido operado.
Em 16 de Março de 1974, Oneto foi um dos cinco jornalistas estrangeiros que estiveram nas Caldas da Rainha para fazer a cobertura da tentativa de golpe de estado que viria a fracassar. Em entrevista à Gazeta das Caldas, em 16 de Março de 2018, este decano do jornalismo espanhol contou que recebeu uma informação do advogado Mariano Robles Romero-Roblado, que tinha sido amigo de Humberto Delgado e mantinha contactos com militares portugueses. “Disse-nos para estarmos atentos porque em Portugal vai passar-se algo, que há movimentos militares e que devemos ir para Lisboa, mas primeiro que passemos por Caldas da Rainha”.
Pede Oneto veio directamente de Madrid, acompanhado de Walter Haubrich, seu amigo e correspondente do jornal Frankfurt Allgemeine Zeitung.
Nas Caldas esteve junto aos muros do RI5 e assistiu ao vivo às negociações para a rendição dos militares sublevados, tendo seguido depois para Lisboa. Desta viagem a Portugal, Pepe Oneto viria a fazer uma extensa reportagem que foi capa da revista Cambio16 sob o título “Ai Portugal! Exclusiva Cambio16 en Caldas da Rainha”.
Neste trabalho, que citava várias fontes militares sob anonimato, Pepe Oneto praticamente anunciava o 25 de Abril, data que viria a ter forte repercussão em Espanha ao forçar a mudança para a democracia naquele país.
Foi, aliás, durante a Transição (nome pelo qual ficou a conhecida a época em que Espanha deixou de ser uma ditadura) que Pepe Oneto se destacou como um dos grandes jornalistas desse período conturbado e decisivo. E foi precisamente isso que recordaram vários meios do comunicação social esta semana ao noticiar a morte do jornalista e escritor.
Em 1974, os acontecimentos do 16 de Março nas Caldas da Rainha foram também cobertos por Philip Carvallo, da agência France Press, José Antonio Novaes, correspondente do Le Monde e outro jornalista da agência Associated Press, de que não se apurou o nome. Todos vieram de Madrid. Oneto era o último sobrevivente.