“Os alemães são simpáticos, mas mais contidos e não existe aquele “à vontade” português”

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emigGonçalo Pina Cipriano
Caldas da Rainha
26 anos
Hamburgo, Alemanha
Mestre em Engenharia Mecânica com actividade em R&D
Percurso escolar: Escola Secundária de Raul Proença e Instituto Superior Técnico (Lisboa)

O que mais gosta do país onde vive?
A qualidade de vida e a cultura. Ainda que seja muito diferente da cultura do sul europeu, foi uma adaptação mais fácil do que pensava. A organização é transversal no dia a dia. Fica mais fácil quando tudo funciona como o esperado. Um grande exemplo disso é o cumprimento dos horários ao minuto nos transportes públicos.
Em relação a Hamburgo, é uma cidade bastante dinâmica, muito jovem e com uma grande diversidade cultural.

O que menos aprecia?
O incontornável céu cinzento durante o Outono e o Inverno. Não é raro passar mais de uma semana sem que o sol dê um ar da sua graça.
O elevado preço dos produtos frescos e não processados e a relativa limitada gastronomia alemã, rica apenas na quantidade interminável de molhos.

De que é que tem mais saudades de Portugal?
Sinto falta da comida portuguesa, do mar, dos jantares e cafés com os amigos e, claro, sinto a falta da minha família.

A sua vida vai continuar por aí ou espera regressar?
Penso que regressar é um desejo que está sempre presente, mas neste momento da minha vida quero algo diferente. Claro que tudo depende das oportunidades futuras, mas para já, no meu meio profissional, a Alemanha proporciona mais e melhor que Portugal.

“O clima é o ponto fraco de Hamburgo, ainda que a neve acabe por dar um toque de charme”

Vim para Hamburgo pela primeira vez quando estava a terminar o meu mestrado em Engenharia Mecânica. Surgiu a oportunidade de fazer a minha dissertação aqui, no Helmholtz-Zentrum Geesthacht (HZG). Depois de concluir esse trabalho fui convidado a ficar. Acabei por aceitar a proposta e regressar.
Neste momento estou a realizar o meu doutoramento numa parceria entre o HZG e a universidade técnica de Hamburgo, TUHH. O meu trabalho consiste no desenvolvimento de um processo designado FricRiveting, como alternativa à tradicional rebitagem na industria aeronáutica.
O custo de vida é mais elevado que em Portugal, mas a diferença não é tão grande como inicialmente pensava. Neste momento alugo um apartamento e desloco-me todos os dias de carro para o centro. Os combustíveis não são muito mais caros que em Portugal, mas já o seguro é bastante mais caro.
Fora do trabalho, durante a semana o tempo livre é dividido entre ginásio, natação, jantares, ou cafés com amigos. Como trabalho num centro com várias áreas de investigação, é fácil que num jantar à sexta ou sábado estejam presentes 10 nacionalidades. Isso aliado ao facto de haver grande rotatividade de pessoas, faz com que esta seja uma experiência muito enriquecedora também a nível pessoal.
Os alemães em geral são simpáticos, mas mais contidos, não existe aquele “à vontade” português. Duas coisas que achei curiosas: a primeira foi o facto de os alemães serem extremamente civilizados a conduzir, mas também não terem qualquer problema em fazer uma média de 200 km/h onde não há limite; a segunda foi habituar-me a conviver com pastores-alemães, labradores etc. dentro das lojas ou de alguns restaurantes.
O clima é mesmo o ponto fraco de Hamburgo, ainda que a neve acabe por dar um toque de charme.
 
Gonçalo Pina Cipriano