“O que sinto mais falta é do bom tempo e da comida tradicional portuguesa”

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novos_emigranteCátia dos Santos Caetano Law
Caldas da Rainha
26 anos
Garfield (New Jersey) – EUA
Medical Billing / Coding
Contabilidade Médica
Percurso escolar: Escola D. Joao II,
Central Regional Middle School,
Central Regional High School,
Escola Sec. Rafael Bordalo Pinheiro
(Humanidades) Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade de Lisboa, Centura College – Associates Degree of Medical Assisting with Concentration in Management

 

 

 

 

 

O que mais gosta do país onde vive?
Liberdade de expressão, das casas, dos parques para as crianças, dos supermercados gigantes com escolha vasta, até mesmo de produtos internacionais, da ideia incutida pela sociedade de que as mulheres devem de andar sempre bem arranjadas (o cabelo, as mãos, os pés, etc. – coisas estéticas, bastante femininas) e dos restaurantes italianos.

O que menos aprecia?
O Inverno rigoroso, o trânsito que me atrasa a vida pela manhã, o facto das estradas estarem sempre em construção, que não difere muito de Portugal, se bem que nós nas Caldas até não nos podemos queixar. Também não aprecio nada as burocracias que existem para uma pessoa se legalizar nem a quantidade de dinheiro que se tem de gastar. Acho incrível o facto de não existirem edifícios nas cidades de NJ com um espaço designado apenas para passaportes. Tudo é feito num posto de correios e só há um por distrito.

De que é que tem mais saudades de Portugal?
Da minha família, em especial do meu pai, mãe, avó e irmã. Claro que não me posso esquecer da MacFamily, das minhas amigas/os, do convívio por Lisboa com o pessoal da minha Faculdade, da Foz do Arelho e do seu cheirinho a mar e tranquilidade, das Tasquinhas, dos jantares na Bella Milano, dos cafezinhos no Odisseia, Bluu e Picassos, das actividades nos tempos livres de Verão com a Associação Espeleológica de Óbidos, da feira Medieval, de passear por Óbidos e por S. Martinho… no fundo, no fundo, é mesmo de tudo!

A sua vida vai continuar por aí ou espera regressar?
Bom, visto que sou casada com um americano dificilmente regressarei para Portugal definitivamente, mas gostaria de regressar, nem que seja depois de reformada. Por acaso já houve várias vezes em que perguntei ao meu esposo se ele se mudaria para Portugal. Ficou a olhar para mim como se eu tivesse ficado maluca. Se ainda ele soubesse português, mas ainda não sabe… Mas ireis a Portugal de férias com as crianças de tempos em tempos, pois é impossível viver deste lado do oceano sem ter saudades do nosso país, especialmente se a maioria da nossa família se encontra em Portugal.

“A América já não é a América de há 10 anos atrás, mas continua a ser o país das oportunidades para quem quer trabalhar”

Na minha actividade profissional trata-se de mandar as contas médicas para os seguros, ora seja electronicamente ou por correio, e eventualmente receber dinheiro dos seguros de saúde, de automóvel, de trabalho, entre outros, o que se torna num processo “interessante” quando as companhias de seguro não querem pagar por este ou aquele motivo.
Aqui, as companhias de seguro inventam, literalmente de tudo, para não pagarem aos médicos. Esta profissão exige muita paciência e um nível de profissionalismo elevado pois requer que estejamos em constante contacto com os médicos, profissionais dos seus escritórios, e/ou hospitais. As minhas manhãs são, por vezes, caóticas.
Levanto-me as 6 da manhã, preparo as crianças, saio de casa o mais tardar as 7h30, deixo a Mia no infantário primeiro e de seguida deixo o Salvador na escola, que abre às 8h00. Sigo directamente para o trabalho, ao qual devo chegar pelas 8h25, pois o horário é das 8h30 até as 5 da tarde. Uns dias são melhores que outros. Graças a Deus tenho carro, o que facilita imenso, mas há dias em que Garfield tem imenso trânsito pela manhã. Contudo não me posso queixar pois, afortunadamente, tanto o infantário como a escola, estão localizados perto da nossa casa.
O meu modo de vida é bastante diferente do que aquilo a que estava habituada em Portugal. Praticamente não tenho vida social, é de casa para o trabalho e do trabalho para casa, sem contar os dias de ir à Igreja  e/ou de ir as compras. Tenho os fins-de-semana livres e a maioria dos feriados, o que é uma regalia, mas como ainda estou a terminar o curso, as minhas manhãs e algumas tardes são dedicadas ao estudo e aos trabalhos da faculdade. Agora, com a Primavera, já posso começar a ir com os meninos ao parque, mas no Inverno faz imenso frio e este ano só deu para brincarmos duas vezes na rua porque esteve sempre uma temperatura de fazer doer os ossos.
A nível de preços aqui até são bastante razoáveis. Há quem não concorde, especialmente para quem ganha o salário mínimo por hora, que agora é 8,25 dólares (7,76 euros). O que se tem tornado mais caro são as rendas. Acho sinceramente que mais vale comprar casa do que alugar pois hoje em dia a mensalidade duma casa é mais barata do que uma renda.
Quanto às pessoas acho que há de tudo um pouco, especialmente porque existem tantas culturas diferentes em NJ. Na zona onde moro há imensos polacos, italianos e portugueses. Volta na vira vou a andar na rua ou no supermercado e ouço falar em português. Mas os americanos em geral são pessoas simpáticas. Nem todos, claro, mas isso é como em qualquer outro país. Todos os países têm pessoas mais simpáticas e outras menos simpáticas.
Se há coisa que os americanos não dispensam é o seu cafezinho matinal do Dunkin Donuts ou Starbucks, que por sinal e bom, mas que não se compara com um cafezinho expresso de Portugal.
Existem outras duas grandes diferenças entre Portugal e os Estados Unidos. Neste pais existem quase mais feriados do que dias no mês (é força de expressão, claro). Existe um consumismo enorme para cada feriado. É uma coisa incrível. As lojas dos trezentos, mais conhecidas por Dollar Store estão constantemente a modificar as suas prateleiras de acordo com os feriados que existem, seja Dia dos Namorados, Páscoa, St. Patricks, 4th of July, etc…e o mais interessante é que começam a fazê-lo pelo menos um mês antes do feriado chegar, e vendem praticamente tudo até ao dia do feriado. É um consumismo para além daquilo que podemos imaginar.
A outra diferença, que foi a que mais me chocou, é que se paga para ir à praia! Sim, no estado de NJ tem de se pagar para poder ir à praia, já para não falar que se tem de pagar estacionamento, porque dificilmente se encontra estacionamento gratuito. Penso eventualmente em mudar de Estado e/ou região porque, como boa portuguesa que sou, gosto imenso de praia, e ter que pagar cada vez que quero ir à praia com as crianças torna-se dispendioso.
Existem outros Estados com paisagens bem bonitas como Pennsylvania, Philadelphia, Carolina do Sul, entre outros que ainda não visitei, onde o custo de vida é mais barato também. Enfim, embora hajam diferenças, não desgosto por completo de morar aqui pois tenho uma oportunidade mais vasta a nível profissional, e a minha mãe esta a viver cá. Por isso decidi voltar. A América já não é a América como há 10 anos atrás, quando vim pela primeira vez. Mas continua a ser o país das oportunidades para quem quer trabalhar. Posso ainda assim dizer que os portugueses e os americanos têm duas coisas em comum: gostam de comer bem e são bastante patriotas.
Um grande beijinho e abraço para todos os meus familiares, amigos/as que se encontram do outro lado do oceano. Estão no meu coração.   Cátia dos Santos Caetano Law