Silos da Ceres vão ser pólo de podução e animação cultural e de lazer

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Silos

Para quem é trabalhador em nome individual, artista, designer, especialmente para os  ex-alunos da ESAD vai haver em breve nas Caldas uma nova forma low-cost para conseguir um espaço de trabalho onde possam fazer o seu atelier.
Vai ser nos Silos da Ceres que arrancará o projecto Ateliers para começar a funcionar no próximo mês de Agosto, por iniciativa de um grupo de jovens finalistas do cursos de Design de Ambientes da ESAD. O proprietário está satisfeito em dar nova vida ao edifício onde funcionou a sua moagem de trigo e até gostaria de albergar mais iniciativas, sobretudo as que continuassem a atrair a juventude àquele espaço, relacionadas, por exemplo, com o lazer ou com a animação cultural.

Pois está a surgir neste momento nos Silos da CERES um projecto de aluguer de ateliês para trabalho de alunos, ex-alunos da ESAD, designers e artistas que estejam interessados em criarem ali um viveiro de criatividade. “Trata-se de um projecto low cost e dirige-se essencialmente a quem não tem ainda ligação à vida activa”,  disse Nicola Henriques, também finalista da ESAD e coordenador deste projecto.
“Ateliers nos Silos” pretende obter apoios de entidades da região que queiram apoiar a criação do próprio emprego, como, por exemplo, da Câmara Municipal e outras entidades como organismos públicos, fundações, empresas e associações se possam unir à iniciativa. “Há no centro da Europa projectos semelhantes e as Caldas carecia deste que permitisse uma ligação ao maior centro criativo do Oeste e que é a ESAD”, disse o coordenador.
Nicola Henriques é docente de Educação Física e finalista do curso de Design de Ambientes da escola caldense. Tem 37 anos e considera que este projecto poderá permitir aos participantes trabalhar em projectos comuns como se faz em muitas partes do mundo. “Ter aqui cruzamentos de linguagens com imenso potencial que poderão ser úteis no desenvolvimento de projectos comuns”, disse.
Quem quiser integrar este projecto pagará apenas 75 euros de renda mensal por 12,5 metros quadrados. O dobro do espaço custa 120 euros. Tem asseguradas água, luz, internet, segurança e um serviço de apoio para a comunicação de eventos comuns. Parte do pagamento do aluguer será reinvestido para melhorar as condições no edifício.
Entre as condições está uma cozinha comum, uma zona de estar, uma oficina de serigrafia, um futuro laboratório de fotografia, entre outras mais-valias como uma grande área para a realização de exposições. Toda a gente que alugar atelier será motivada a, pelo menos, uma vez por ano realizar uma exposição. Este espaço “também poderá ser alugado a empresas ou funcionar como sala polivalente para workshops”, disse Nicola Henriques.
“Neste momento já temos quase 75% dos espaços arrendados”, comentou o coordenador especificando que da equipa já fazem parte 15 pessoas. Este projecto terá também uma ligação ao Atelier Arte e Expressão.
“Cada pessoa poderá construir o seu espaço de trabalho”, disse o responsável explicando contudo, que não será possível dormir naqueles espaços (como acontece noutros países) já que não estão preparados para ter carácter residencial.
O projecto quer estar em funcionamento no próximo mês de Agosto.
O aluguer dos Silos “convida à realização de projectos”, disse Nicola Henriques que quer manter este projecto em ligação com outros centros criativos que funcionam no Porto ou em Lisboa.
Esta ideia surgiu após um trabalho académico desenvolvido pelo grupo que integrava Nicola Henriques, André Valério e Ana Vieira e que foi transposto para a realidade, após ter sido adaptado às necessidades que existem no mercado.

O que foi a Moagem CERES?

“Este edifício da CERES tem uma ligação à ESAD pois durante dois anos seguidos realizaram-se aqui as exposições de finalistas”. Quem o diz é Manuel Paiva e Sousa, o responsável da Sociedade Industrial Ceres, empresa que ali laborou na moagem de trigo, entre 1966 e 2003.
Esta firma foi fundada pelo seu bisavô em 1921 em Vendas Novas, depois transitou para Montemor-o-Novo e em 1966, após dois anos de construção (negociada com o então Presidente da Câmara Botelho Moniz) começava a trabalhar nas Caldas da Rainha. “Aqui à volta não existia quase nada”, disse o responsável que chegou a empregar 38 funcionários nesta empresa que, em 1985 terminava a construção de um silo (amarelo) para guardar a farinha e farelo.
Logo no ano seguinte, Portugal aderia à CEE. E naquela altura este sector começou a entrar em crise devido à Política Agrícola Comum e precipitou o fecho de muitas unidades no nosso país. “O fecho da maioria das fábricas de moagem de trigo, descasques de arroz e de tomate deveu-se à má negociação para entrada na CEE e à antecipação da abertura das nossas fronteiras aduaneiras, pois estava previsto que até ao ano de 2004 seria o período de adaptação da nossa indústria agrícola e da agricultura”.
O responsável ainda explicou que muitas moagens tentaram adaptar-se aos novos tempos,  em finais dos anos 80, comprando e fechando moagens para que as duas ou três restantes ficassem com dimensão europeia mas “o governo colocou-nos em tribunal por não respeitarmos o Tratado de Roma, intimidando-nos com coimas altíssímas”, acrescentou.
Os custos de produção em Portugal eram muito altos. Ângela Santos que é funcionária daquela empresa há 21 anos conta que na época “conseguíamos pôr no mercado a farinha a 32$00 o quilo enquanto que os franceses punham-na cá a 20 e a 21$00…”.
A funcionária – que é de Salir de Matos e que sempre trabalhou no escritório daquela empresa –  recordou que nos bons tempos vendiam para padeiros e pasteleiros de toda a região. Possuíam também um moderno laboratório e efectuavam as misturas de cereal e de farinha que melhor satisfaziam os seus clientes.
“Produzíamos 90 toneladas por dia e trabalhava-se 24 sobre 24 horas e em muitos Sábados e Domingos”, recordou o empresário.  Ainda assim conseguiram encerrar a empresa sem ir à falência em 2003 contou Manuel Paiva e Sousa.
Quando a fábrica encerra os seus responsáveis apresentaram à Câmara  um projecto para construir três prédios, com uma garagem para 250 lugares e uma pequena parte comercial, constituída por snack-bar, lugar de revistas e esplanada. “O projecto de viabilidade foi aprovado pela Câmara mas a sucessão de crises já começara e o banco com quem eu trabalhava aconselhou-me a não começar a obra”. Manuel Paiva e Sousa ainda teve uma oferta de um grupo espanhol que queria adquirir o edifício “mas só oferecia metade do preço que isto vale”, disse.
O responsável por esta empresa familiar está satisfeito com os projectos que têm surgido para alugar os edifícios e espera que com “esta gente nova se possa a dar outra dinâmica e vida a este espaço”.
O responsável, tal como o seu irmão Luís Paiva e Sousa – que por duas vezes foi presidente da Câmara das Caldas, antes na Primavera marcelista e depois do 25 de Abril – é engenheiro agrónomo. Posteriormente formou-se em Administração de Empresas e em Engenharia Económica.
Na sua mente está também a ideia de reservar espaço nesta sua antiga moagem para dedicar ao lazer e animação cultural, incluindo à noite. “Agora tudo vai depender da evolução dos projectos que cá estão”, disse acrescentando que quer que tenham muito sucesso.

4 COMENTÁRIOS

  1. Com um ccc novinho (só para vista onde foram gastos rios de dinheiro) , museus sem conta ( e as moscas) é preciso um local onde se arrendam espaços num edifício a cair aos bocados..?? Estranha terra que esta mesmo… :-)

  2. NEM FAZ UM MÊS ! desde que me dirigi aos silos e falei com a senhora que trata da manutenção dos edificios, expliquei que queria um espaço para que a minha ‘banda’ podesse ensaiar a vontade, e ela fez-me questao de deixar bem explicito que por menos de 200 euros nao me alugava um espaço, e agora leio isto ? Sou jovem e tenho sonhos , como acham que fico apos ler isto ? Acham que fico com vontade de colaborar com cultura caldense ?

  3. Para o leitor que diz que o edifício está a cair aos bocados…..deve ser algum engenheiro civil ou um entendido na matéria!! O edificio precisa de pintura, quanto à estrutura está optima e recomenda-se! Quanto ao espaço, é central e um pólo, “ninho” de artistas low cost(tal como se faz por todo o mundo!), Para além de outras actividades que ai se possam desenvolver (sem perturbação dos demais inquilinos). Por fim, trata-se de um acordo de vontade entre duas partes (duas entidades privadas)……a inveja é coisa feia!!