Troca directa de serviços já é possível na loja comunitária de Óbidos

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FotoJoanaUm espaço de pessoas e para pessoas. É desta forma que a psicóloga Joana Rodrigues define a Loja Comunitária de Óbidos, um projecto que contempla a troca directa de serviços, banco de livros, workshops gratuitos e a venda de produtos de design social. Outra vertente da loja são os piqueniques, em que as pessoas podem comprar a comida e saboreá-la num dos parques de merenda existentes no concelho e que estão a ser reabilitados.
A responsável está agora a dinamizar o projecto junto da comunidade local de forma a “criar relações” e a cativá-las para a importância da interajuda.

Joana Rodrigues dá consultas de Psicologia e, em troca, limpam-lhe a casa. Este é apenas um dos exemplos da troca directa de serviços que a Loja Comunitária possibilita, sem que seja usado qualquer tipo de remuneração monetária. Há ainda casos de quem oferece explicações de Matemática em troca de lhe passarem as camisas a ferro, de quem tira fotografias em troca de maçãs e de um biscateiro, de uma ilustradora e de uma designer gráfica que oferecem os seus serviços.
Actualmente o valor da troca tem como unidade o tempo e a satisfação, mas está prevista a criação de um banco de tempo, para que as pessoas possam ter um sistema de créditos, que depois utilizam para a prestação ou obtenção de serviços. Para integrar o banco de trocas, as pessoas têm apenas que se inscrever, agora directamente na loja, mas dentro de uma semana através da internet. Aquele espaço serve como ponto de inscrição e até de alguma regulação, embora, como especifica Joana Rodrigues, não hajam muitas regras, funcionando essencialmente na base da confiança e da satisfação das pessoas.
A loja comunitária pretende ser um espaço de desenvolvimento da comunidade e, nesse sentido, serão promovidos workshops gratuitos nas áreas da alimentação saudável, dos consumos, da parentalidade positiva, economia e gestão caseira.
De forma a contribuir para a sustentabilidade do projecto serão comercializados alguns produtos de design social. Entre eles, existe uma carteira de pano com uma ilustração a alertar para os malefícios do plástico, ou uma cana para fazer bolas de sabão que tem uma receita de sabão ecológico para as crianças e familiares poderem fazer em casa.
Está também a ser criada uma almofada que pretende ser um apelo para os bons tempos em família, uma vez que leva consigo uma história e marionetas para a dramatizar.
Os produtos serão desenvolvidos em articulação com os designers, utentes do programa Melhor Idade, centros de dia, pessoas em situação de desemprego e associações do concelho. Por exemplo, com os bombeiros de Óbidos querem desenvolver uma ideia que passa pela criação de uma pequena vassoura para usar nas lareiras e que simbolize a limpeza das matas e dos quintais. “Queremos envolver as várias entidades e que seja um processo de partilha, onde todos nos ajudamos uns aos outros e onde cada um é dignamente pago”, ressalva Joana Rodrigues.
A Loja Comunitária disponibiliza também em conjunto com a associação de pais um banco de livros onde as pessoas podem, de forma gratuita, fazer a troca dos manuais. E, mesmo que não tenham materiais para trocar, podem levar na mesma os livros necessários. A troca dos manuais vai funcionar sobretudo até Outubro. No entanto, durante todo o ano, os interessados poderão consultar e levar livros para apoio escolar. Na estante estão manuais desde o pré-escolar ao 12º ano.

Vamos fazer um piquenique?

Outro projecto que garante a sustentabilidade da loja comunitária são os piqueniques sociais. O primeiro teve lugar a 1 de Junho e reuniu cerca de 120 pessoas no Parque Cinegético de Óbidos, entre elas sete famílias carenciadas, referenciadas pelos Guias de S. Lourenço, a quem foi oferecido o piquenique. A partir de Outubro irão funcionar, a partir de Outubro, num espaço situado junto à Casa do Fontanário, em Óbidos.
Durante o Inverno este projecto irá funcionar essencialmente com a venda de produtos regionais e comida saudável, mas a partir de Maio voltará o conceito de piquenique, em que as pessoas poderão levar o saco com a comida e saboreá-la num dos vários parques de merenda existentes no concelho.
Haverá vários menus que rondam entre os cinco e os 20 euros. Serão feitos menus individuais e para famílias porque acharam que deviam fazer um preço para famílias que tinha que ser convidativo.
“Este é também um projecto educativo porque queremos apelar aos bons momentos em família”, destacou Joana Rodrigues, especificando que as pessoas podem comprar o piquenique já pronto e, deixando uma caução, levar um papagaio de papel, um jogo das latas ou uma corda para saltar. Poderão ainda, mediante o pagamento de uma taxa (porque as toalhas têm que ser lavadas) levar uma toalha de piquenique.
Esta ideia surgiu depois da jovem ter dado um passeio por Óbidos e ter verificado que havia mais de uma dezena de parques de merendas que não estavam dinamizados. Pensou então que uma solução poderia passar pela criação de um saco de papel, que leva o piquenique, com o mapa dos parques.
Há também uma articulação com a Câmara para a limpeza e manutenção dos espaços.
O projecto tem também ligação às escolas, onde querem fazer mini lojas comunitárias. “Trata-se de uma ideia a longo prazo e com o objectivo de colmatar o facto de as pessoas terem resistência a estes novos sistemas”, disse a responsável, que acredita que as crianças neste caso podem ser educadoras.
Estão ainda a ser desenvolvidas parcerias com a ESAD e outras escolas do IPL, assim como com a Escola de Hotelaria e Turismo do Oeste.

Equipa reforçada
em breve

Ex-militar e formada em Psicologia Clínica, Joana Rodrigues trabalhou como psicóloga em contexto hospitalar e não gostou da experiência de trabalhar em situações limite. “Os hospitais não têm capacidade de resposta e comecei a perceber que não existem espaços que façam a articulação entre a comunidade”, disse, acrescentando que, como gosta bastante de trabalhar com pessoas, pensou em desenvolver o seu próprio projeto.
A ideia foi pensada para Óbidos porque Joana Rodrigues veio viver para o concelho com 12 anos e conhece bem a realidade local. Há cerca de nove meses que começou a idealizar a loja, que começou a funcionar em meados de Junho, com a ajuda do Colab (espaço colaborativo). Entretanto, foram dinamizadas várias iniciativas para angariação de fundos, e criados os estatutos, para a constituição da associação para o desenvolvimento comunitário – A Loja, que deverá acontecer na próxima semana.
Joana Rodrigues está também a dar a conhecer a loja comunitária junto da comunidade, nomeadamente nos centros de dia e associações locais. Actualmente conta com a ajuda das pessoas do Colab e de amigos para o desenvolvimento do projeto, mas dentro de pouco tempo pretende reforçar a equipa com a entrada de uma pedagoga, uma educadora social, uma especialista em análises clínicas e uma outra em higiene e segurança e cozinha, a sua maioria pessoas em situação de desemprego.
Está também a terminar duas candidaturas na área da economia social e desenvolvimento comunitário para a obtenção de financiamento.
A loja já está aberta diariamente no nº 16 da Rua da Porta da Vila. Neste momento funciona como montra dos produtos que, dentro de algum tempo, serão comercializados.

Fátima Ferreira
fferreira@gazetadascaldas.pt

1 COMENTÁRIO

  1. esta ideia achei simplesmente genial, acho uma ideia muito interessante, posso dizer que tenho imensos livros e outros objetos que se poder doar seria com imensa satisfação, valores que para mim não têm importância e que para alguém quem sabe seria um bem precioso, como por ex: livros escolares etc, depois gostaria de poder ajudar alguém de alguma forma, crianças, idosos etc…fica aqui a minha opinião e a minha disponibilidade neste desafio. MANUELA