João Garcia Miguel mostra em Óbidos percurso de 30 anos de actividade artística

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Gazeta das Caldas

FotoJoaoGarciaMiguel1“How to do things with bodies” dá título à exposição de João Garcia Miguel que se encontra patente na galeria novaOgiva e Museu Abílio, em Óbidos, até 30 de Setembro. Trata-se de um “desafio” que o autor, artista plástico e encenador, colocou a si próprio de olhar para o seu percurso nos últimos 30 anos.
Depois de Óbidos a mostra segue para Ílhavo, onde ficará exposta na galeria do Centro Cultural.

Um painel de grandes dimensões com módulos coloridos, e ao lado vários pares de luvas, abre a exposição. Situada entre as artes plásticas e a instalação, a peça convida o espectador a construir, ele próprio, a sua obra através da conjugação dos módulos.
Alem de interactiva, a peça tem também uma dimensão “enigmática”, diz o seu autor, na medida em que lança a dúvida a quem não lê a explicação se pode ou não mexer.
A exposição segue depois vários momentos pelos quatro andares da galeria, com trabalhos que vão desde meados dos anos 80 até à actualidade.
O autor não optou por uma sequência cronológica, mas antes por blocos temáticos para apresentação das suas criações.
“A pintura tem muitos trabalhos em série”, explicou João Garcia Miguel, acrescentando que estes revelam tempos, materiais e experiências específicas, dispostas pelas várias salas e recantos. Outras obras encontram-se isoladas, mas acabam por funcionar como pontes entre as séries.
No terceiro piso existe uma espécie de atelier com trabalhos de pintura, cadernos e outros documentos, que permite às pessoas verem o processo criativo do autor. “É uma zona um bocadinho delicada”, revelou, acrescentando que se trata de uma parte mais intimista e que leva também a pessoa a descobrir que os trabalhos expostos são, muitas vezes, “montras de muitos outros caminhos”.
A mostra tem continuidade no Museu Abílio, numa vertente mais ligada à cenografia e onde se encontram expostos dois guiões, em grande formato, que acabam por ter uma componente quase de quadro.

O dialogo entre o corpo e o inconsciente

“A exposição acaba por ser este diálogo intenso entre o corpo e o inconsciente, e o tentar transformar o corpo em objectos comunicantes”, sintetiza, acrescentando que ali podem também ser encontrados objectos resultantes de diálogos com outros criadores, como é o caso de Miguel Moreira ou Elsa Lima, que quis agora homenagear.
João Garcia Miguel, que foi também professor na ESAD durante nove anos, está a expor pela primeira vez em Óbidos. Reconhece que o trabalho, sendo uma mostra, é sempre uma coisa ingrata para o autor porque “fica sempre muita coisa por mostrar pois o espaço é limitado e importa criar uma narrativa”, disse à Gazeta das Caldas.
Revela que o mais interessante foi “tentar encontrar caminhos que se complementam, que saltam de uns para os outros”, falando das várias expressões artísticas que usa no seu trabalho, como é o caso da pintura, performance, teatro, vídeo e fotografia.
Depois de Óbidos, a mostra irá para a galeria do Centro Cultural de Ílhavo. Mas antes, a 26 de Setembro, haverá uma festa de encerramento com alguns acontecimentos performativos.
Com uma actividade artística multifacetada, João Garcia Miguel está neste momento a fazer duas peças, uma baseada no texto “Quem me dera ser onda”, do angolano Manuel Rui, e uma segunda, baseada no “Hamlet”, de Shakespeare, que irá estrear a 16 de Outubro no Teatro Cine de Torres Vedras (do qual é director).
João Garcia Miguel continua também o seu trabalho nas artes plásticas e visuais e está a preparar uma série de trabalhos para apresentar no Brasil, Angola, Espanha e Inglaterra. No meio tempo ainda terá que acabar a tese de doutoramento, que tem por temática a performance e o inconsciente.