António Pedro, a locomotiva que acelerou com o Caldas

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António Pedro destacou-se com a camisola do Caldas durante 10 temporadas

Chegou em 1951 ao Caldas para competir no distrital e subir o clube à 2ª e depois à 1ª Divisão. Médio generoso com o jogo, foi figura de proa do melhor Caldas de sempre. Cumpriu uma década no pelicano e ainda hoje está na memória dos adeptos

António Pedro era natural de Vila Franca de Xira e foi nessa cidade que deu os primeiros pontapés na bola, nas épocas 1943/44, no escalão de juniores.
A subida aos seniores foi ainda no Vilafranquense, em 1945/46. Aos 23 anos, chegou ao Caldas para a temporada 1951/52, aquela em que começou a verdadeira ascensão do Caldas rumo à 1ª Divisão Nacional.
Na altura, estaria longe de saber que iria ficar para a história do clube como uma das suas maiores lendas.
No seu início de carreira no Caldas, António Pedro vestiu a pele de avançado e cedo ganhou o seu espaço como uma das referências do clube. Na caminhada até à final da 3ª Divisão, em que o Caldas só foi travado pelo Lusitano de Vila Real de Santo António numa final com direito a jogo de desempate, António Pedro somou 14 partidas em 16 possíveis e apontou três golos. Foi, para a Gazeta das Caldas na altura, uma das grandes figuras da fase final, que incluiu uma reviravolta contra o Aves, com 6-3 no Campo da Mata após o 1-0 na primeira mão a favor dos Avenses.
O vilafranquense chegava como um avançado, mas na época seguinte iria iniciar a sua adaptação a terrenos mais recuados.
Na época seguinte o Caldas apurava-se para disputar a 2ª Divisão e a influência do jogador, foram 21 jogos e 8 golos no conjunto da fase distrital e nacional.
António Pedro passava a actuar de forma preferencial no meio campo e destacava-se pela sua ímpar capacidade de trabalho.
Manuel Moraes, cronista desportivo à época da Gazeta das Caldas, descreve-o durante a temporada de 1954/55, como um “lutador”, com um largo espectro de influência na manobra do conjunto. António Pedro era um jogador “que nunca deixa de dar o seu apoio à defesa”, mas sem o qual, no ataque, “a máquina de fazer golos empena imediatamente”.
Nessa temporada, António Pedro foi a figura de proa da equipa que, ao vencer o Boavista por claros 4-1 em Coimbra, no jogo de desempate, subiu à 1ª Divisão. No concurso promovido pela Gazeta das Caldas para o melhor jogador da época, à frente de Bispo e Leandro.
Essa capacidade de trabalho e de influenciar positivamente a performance da equipa valiam-se a alcunha de “Locomotiva”.
O Caldas crescia enquanto clube e António Pedro acompanhava esse crescimento. Com perto de uma centena de jogos pelo Caldas e perto de 20 golos, ainda não tinha atingido o limite do seu potencial, como viria a mostrar nas quatro temporadas seguintes.

O GOLO HISTÓRICO AO BELENENSES

Nem a subida de escalão, nem a chegada de craques de outras paragens, inclusivamente os jogadores espanhóis e argentinos que marcaram essa passagem histórica do Caldas na 1ª Divisão nacional, tiraram espaço ao médio, que continuou a ser um jogador fundamental nas quatro temporadas no principal escalão e a sua capacidade de trabalho não passou despercebida, embora nunca tenha logrado dar o salto para clubes mais competitivos.
Nos 104 jogos do Caldas no convívio dos grandes, António Pedro só falhou três. Um deles na segunda temporada e dois na terceira.
Além de António Pedro, Amaro, Anacleto, Lenine, Romeu e os guarda-redes Vítor e Rita cumpriram as quatro temporadas primodivisionárias dos pelicanos, mas nenhum alinhou em tantas partidas, nem marcou tantos golos.
Além de um trabalhador incansável, António Pedro era um médio com golo. Facturou por 21 vezes no principal escalão do futebol português. A sua frieza fazia com que fosse o cobrador de grandes penalidades.
Entre os golos mais importantes, destaque para o tento que permitiu, em 58/59, o empate caseiro a 2 com o FC Porto e na época anterior o obtido no Estádio da Luz, frente o Benfica, ainda que numa derrota por 5-1.
Mas nessa época António Pedro teve uma vítima preferencial, o Belenenses. A 24 de Novembro de 1957, ao minuto 30, a “Locomotiva” apontava de grande penalidade o tento que fez do Caldas o primeiro clube a ganhar ao Belenenses no Estádio do Restelo, terminando mais de um ano de invencibilidade do clube da Cruz de Cristo no seu novo estádio. O centro-campista voltaria a fazer o gosto ao pé frente ao clube do Restelo, ao 89º minuto do encontro da segunda volta, ditando novo desaire do clube de Matateu.
No corolário das suas temporadas na 1ª Divisão, foi considerado em 1958/59 o terceiro melhor médio do campeonato, atrás de Fernando Mendes (Sporting) e Germano (Atlético).

Caldense por opção

Após a participação na 1ª Divisão, António Pedro continuou no Caldas por mais três temporadas, saindo após 10 temporadas ao serviço do Caldas para terminar a carreira ao serviço do Nazarenos na 3ª Divisão nacional.
Continuou depois ligado ao futebol, como treinador de diversas equipas do Oeste, incluindo o seu Caldas.
Acabou por adoptar a cidade das Caldas da Rainha, onde se fixou, como sua, onde constituiu família e faleceu, a 29 de Dezembro de 2008, com 80 anos de idade.