Fez apenas dois golos em toda a carreira e ambos com a camisola do Caldas, clube que ainda viria a treinar, evitando uma descida de divisão

Nasceu no Montijo, onde jogou com Albano e se transferiu para o Sporting. Mas teve de cumprir seis meses na Marinha de Guerra e nunca chegou a representar os leões, sendo “desviado” para o Estoril. Chegou ao Caldas quando já tinha desistido do profissionalismo, mas recuperou a alegria e ajudou o clube a subir à 1ª Divisão. É um dos jogadores com mais jogos pelo pelicano no escalão maior

Foi colega de Albano no Aldegalense e assinou com o Sporting para integrar aquela que viria a ser a mítica equipa dos Cinco Violinos. Mas a vida militar trocou-lhe as voltas e nunca chegou a jogar pelos leões. Quando já tinha desistido do futebol profissional, aos 33 anos, ajudou a subir o Caldas à 1ª Divisão em 1954/55 e por cá ficou, tornando-se no sexto jogador mais utilizado de sempre do clube no escalão principal. Apresentamos Fragateiro, um médio duro e implacável que acabou por radicar-se na cidade e ainda hoje tem um lugar garantido na história do pelicano.
Manuel Fragateiro nasceu no Montijo, terra de grandes craques, e só não fez parte da equipa do Sporting que dominou o futebol português nos anos 1940 porque teve de cumprir um período de seis meses na Marinha de Guerra. Quando voltou da viagem, um dirigente do Aldegalense informou-o que o Estoril lhe dava melhores condições e um prémio de transferência mais vantajoso para o clube do Montijo e o jovem aspirante lá seguiu para a Linha de Sintra.
Porém, como explicou à Gazeta das Caldas numa entrevista publicada em 1993, no “Álbum de Memórias”, decidiu devolver os “dez mil escudos” de prémio de assinatura ao clube de Alvalade, por forma a não sentir que tinha enganado quem nele acreditou.
Apesar do gesto, não se livrou de um “castigo”, aplicado por um… sportinguista ferrenho que era funcionário da Direcção-Geral dos Desportos e o impediu de jogar um ano, por ter assinado dois contratos válidos. Outros tempos…
No Estoril não evita uma descida de divisão, mas logo depois contribuiu para recolocar o clube entre os grandes e por lá se destaca durante sete temporadas consecutivas, até voltar ao Montijo, clube que “herdara” o histórico património desportivo do Aldegalense
Chega ao Caldas em 1953, quando decide deixar o futebol profissional e procurar uma nova actividade que lhe permita encarar o futuro com outros horizontes. Afinal, um futebolista naquele período estava longe de auferir os salários chorudos do futebol moderno e, por isso, era preciso acautelar o que se seguiria após pendurar as chuteiras.
Contudo, no Caldas reencontra a alegria de jogar futebol e rapidamente se torna numa peça imprescindível na manobra da equipa. Depois de dois anos na 2ª Divisão, consegue, por fim, ajudar o pelicano a chegar ao convívio dos grandes, depois daquela final mítica em Coimbra.
Sendo um homem experimentado na 1ª Divisão, aceita o desafio de permanecer no clube e representa o pelicano nas três temporadas em que o clube andou na alta roda do futebol português, sendo um dos mais utilizados nessa década dourada.

AQUELE AUTO-GOLO NA LUZ…

Sendo um defesa obstinado em manter as suas redes invioláveis, Fragateiro raramente subia à área. Aliás, nos registos que se encontram, apenas se conseguem vislumbrar dois golos em toda a carreira. Ambos ao serviço do Caldas e no escalão principal. Mas também teve dias de azar, como naquele dia em que fez um auto-golo na Luz (1-5).
No final da época 1957/58 terminou a ligação ao Caldas e arriscou como treinador-jogador, uma função que era relativamente comum numa época em que o papel do técnico era, muitas vezes, relativizado.
Começou por treinar e jogar o Sporting da Beira (Moçambique), e quando regressou à Metrópole passou por U. Leiria, U. Santarém, Marinhense e Nazarenos. E ainda treinou o Caldas na 2ª Divisão, conseguindo evitar uma descida que parecia certa.

Uma carreira longa e que terminou como jogador-treinador aos 43 anos

Ao longo do percurso futebolístico, Fragateiro representou apenas três clubes como jogador, terminando a carreira no Caldas, na 1ª Divisão. Porém, representou outros emblemas como treinador-jogador, deixando de jogar aos 43 anos.
Manuel da Silva Fragateiro nasceu no Montijo, onde começou a dar nas vistas enquanto jogador no Aldegalense, emblema que veio a dar origem ao Montijo, que representaria mais tarde, já jogador feito. Depois da polémica transferência para o Sporting, acaba no Estoril-Praia, em 1944/45, tendo feito apenas 2 jogos na 1ª Divisão e não conseguindo, assim, evitar a despromoção da equipa da Linha ao segundo escalão.
Apesar da desilusão da época de estreia entre os grandes, renovou e na temporada seguinte ajudou o Estoril a voltar à 1ª Divisão. Seguiram-se mais cinco épocas nos canarinhos, sempre como um dos jogadores mais utilizados e ao lado do mítico Vieirinha, o qual, mais tarde, viria a fazer carreira como treinador e radicou em São Martinho do Porto…
Terminado o ciclo no Estoril, era hora de voltar a casa. Em 1951/52 e 1952/53 representou o Montijo na 2ª Divisão, até receber o convite do Caldas, participando, desse modo, na subida ao escalão principal na inesquecível temporada de 1954/55 e sendo dos mais utilizados nas três temporadas em que o clube jogou na 1ª Divisão nacional.
Foi no Campo da Mata que terminou a carreira como jogador, deixando para trás nove temporadas na 1ª Divisão e um total de 149 jogos. Como bom defesa que se prezava na época, Fragateiro nunca foi um finalizador. Talvez isso explique que só no dealbar da carreira tenha encontrado o fundo das redes contrárias. Na 1ª Divisão anotou apenas dois golos: ambos com a camisola do Caldas. Mas, depois, ainda teve tempo para jogar mais algumas temporadas sempre na condição de treinador-jogador.