“Tremendamente justo”

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Gazeta das Caldas
Pedro Emanuel marca o golo da vitória

Pedro Emanuel foi o herói do jogo ao apontar o golo que, primeiro, levou o jogo para prolongamento e, depois, ditou a épica vitória do Caldas e que provocou uma festa enorme no estádio e que passou para toda a cidade.
No final o avançado, que se estreou a marcar pelo Caldas, estava feliz com o desfecho. “O ambiente que se viveu diz tudo, já no jogo anterior com a Académica foi assim e foi um factor muito importante para a nossa vitória”.
O avançado não tem dúvidas que o triunfo do Caldas “é tremendamente justo”, até porque “somos a única equipa amadora em prova”. Quanto aos seus golos, diz que “marcar é a cereja no topo do golo”, embora privilegie todas as formas de ajudar o colectivo.
Pedro Emanuel realça que se trata de “um grande feito, inacreditável”, sobretudo depois de cinco viagens no fim de semana que deixaram a equipa exausta e “tivemos que reagir a duas desvantagens”.
Autor do primeiro golo, Januário foi um dos jogadores em destaque também nos festejos. No final da partida realçou o trabalho da equipa para responder a duas desvantagens e não tem dúvidas em apontar o apoio do 12º jogador como um factor determinante. “Demos a volta graças ao apoio fabuloso que tivemos”. O extremo quer “continuar a fazer história”, e mesmo contra um adversário da I Liga garante que “vamos dar tudo para ganhar”. Januário, que fez parte da formação no Caldas, foi também determinante na vitória. “Estou cá para ajudar a equipa, como todos os jogadores, e estou feliz pelo golo”.
Outro dos rostos dos festejos foi o jovem brasileiro Felipe Ryan, que fez a assistência para o golo de Januário e realizou uma exibição de encher o olho. “Acho que foi um grande jogo, com duas equipas organizadas e à procura do erro, foi um jogo bonito, com um grande ambiente e os caldenses mereceram isto pela envolvente que criaram”, disse à Gazeta das Caldas ainda no relvado.
O médio ofensivo destacou também a entrega do grupo. “Demos tudo o que tínhamos e o que não tínhamos e escrevemos o nosso nome na história do clube. Não há nada que pague isso”.
Também Militão se mostrava eufórico com o triunfo. Ao intervalo do prolongamento o central pediu ao técnico a palavra e apelou ao sentimento dos seus companheiros. “Não podia ter escolhido melhores colegas para viver este momento”, ouve-se num vídeo divulgado pela Sport Tv, que acaba com o defesa a diz “não há cansaço”
À Gazeta das Caldas disse que “acreditava bastante que íamos ganhar, pela qualidade que o nosso grupo tem, os que jogam mais e os outros também. Temos uma grande equipa e uma união e amizade muito fortes e foi o que mais pesou, juntamente com o apoio que tivemos na bancada”.

COMO A FINAL DA CHAMPIONS

Militão concluiu sublinhando que “é um dia histórico para o clube e para o futebol português e nosso nome está lá gravado”.
José Vala, treinador do Caldas, considerou que se tratou de uma partida emotiva. “O Farense entrou forte, mas defendemos bem e respondemos com organização e equilíbrio”. Na segunda parte, o técnico destacou a reacção aos dois golos do Farense, depois, “a expulsão do Neca foi a chave do jogo”. E apesar de ter sentido a equipa a quebrar fisicamente, “senti que a motivação ia superar o défice físico”. O técnico deixou ainda uma palavra ao avançado Pedro Emanuel, que ainda não tinha marcado depois dos problemas físicos no início da época. “Talvez houvesse desconfiança de fora, nós nunca duvidámos e ele mostrou o que vale”.
Agora o técnico diz que é preciso continuar a sonhar. “Vamos desfrutar dos dois jogos e vamos à luta”. E fez uma comparação curiosa. “O Penas perguntou-se o que era para mim estar na meia-final da Taça com o Caldas, como eu não soube responder ele disse que, se calhar, era como o Benfica chegar à final da Champions. Se calhar é”, afirmou.
Rui Duarte, treinador do Farense, reconheceu erros da sua equipa que ditaram o desfecho favorável aos caldenses.

Arrumado como o Caldas? Não, estes jovens devolveram-lhe a ribalta

Desde pequeno me recordo de ouvir a expressão “arrumado como o Caldas”. Claro que só muito mais tarde soube exactamente o que aquilo significava. Afinal, para as gerações que viveram os tempos áureos do Caldas na I Divisão e depois a descida veloz aos distritais, era a metáfora perfeita para ilustrar situações em que as chances de sucesso eram manifestamente reduzidas. Fazia sentido.
Talvez o Caldas nunca se livre de estar associado a essa expressão: “arrumado como o Caldas”. Apesar das 49 temporadas consecutivas nos campeonatos nacionais e de alguns títulos nas divisões secundárias, não mais o Caldas tinha conseguido voltar à ribalta do futebol português. Estava arrumado…
Estava, já não está mais. O dia 10 de Janeiro de 2018 fica para história, do Caldas, das Caldas e do futebol português. Porque neste dia o Caldas voltou à ribalta e pela porta grande.
Muito se disse e escreveu por essas televisões e jornais que nem o mais optimista dos caldenses esperaria que o Caldas estivesse nas meias-finais da Taça de Portugal. Mas se perguntarem a cada um dos adeptos caldenses que assistiram aos jogos com Académica e Farense se acreditavam que o desfecho seria o que se verificou, poucos responderiam que não. Foi por isso que encheram duas vezes o estádio. E se perguntassem àqueles que domingo a domingo acompanham a equipa quer ganhe ou perca, quer faça sol ou chuva, entre esses ninguém duvidaria que eliminatória a eliminatória o sonho se foi tornando cada vez mais realidade.
“Este grito pode acordar esta cidade”, diz o hino do Caldas, “e de novo reaviver a sua memória”. E aqueles bravos heróis, os 14 que inscreveram directamente o seu nome naquele que passa a ser, (in)discutivelmente, o maior feito de sempre do Caldas Sport Clube, e todos os outros que fazem parte do grupo de trabalho deram o maior grito de todos e reavivaram a memória daquele Caldas glorioso.
Não é por acaso que aquilo que o Caldas conseguiu não acontecia há 24 anos (não se pode incluir nas equipas amadoras nas meias-finais da Taça um Leixões 2000/1 que era claramente uma equipa profissional), e que antes só tinha acontecido outras duas vezes. É porque isso só está ao alcance de um lote muito restrito de jogadores e equipas. O Caldas e os seus jogadores estão nesse lote, e estarão para sempre.