Empresa familiar da Moita de Alvorninha produz licores biológicos

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Pêra Rocha, maçã e dióspiro são as frutas utilizadas na confecção dos primeiros licores biológicos da região. Confeccionados pela empresa Saborbio, da família Martins, da Moita de Alvorninha, os licores são uma forma de aproveitar o excedente de fruta que não era comercializada.
O projecto, que começou a dar frutos em finais do ano passado, está a correr bem e Ana Martins, sócia gerente da empresa, pensa já em adquirir fruta a outros produtores nacionais e em criar novos sabores, tudo biológico.

Nascida numa família de fruticultores na Moita de Alvorninha, que nos últimos anos têm produzido de modo biológico, Ana Martins, de 32 anos, viu nos excedentes de fruta uma oportunidade de negócio. Depois de trabalhar como arquitecta no Japão, França e Holanda, nomeadamente com o arquitecto Rem Koolhaas (que projectou a Casa da Musica no Porto), a jovem regressou às origens e dedica-se agora à confecção de licores de forma artesanal.
“Em Portugal não existe praticamente transformação para a fruta biológica”, conta Ana Martins que, juntamente com a família começou a fazer experiências de aguardente de fruta e licor, que correram bem.
Depois de decidir avançar com a ideia, Ana e o pai, António Martins, constituíram uma empresa, a SaborBio, obtiveram as licenças para poder produzir álcool e, em final do ano passado, começaram a produzir as aguardentes e licores de fruta biológicos. O investimento inicial foi de 15 mil euros, capital próprio da família Martins.
O primeiro licor a ser lançado no mercado foi o de pêra Rocha e a receptividade “foi muito boa”, recorda Ana Martins. “Estes licores são muito bons e diferentes dos outros que existem no mercado, pois são feitos com as aguardentes dos próprios frutos e somos nós que produzimos as aguardentes”, explica.
Actualmente as aguardentes são apenas utilizadas na produção dos licores, mas o objectivo é que venham também a ser comercializadas, quando estiverem “mais velhas”.
Outra das características desta produção é que não se trata de um licor clássico, mas antes um creme, tornando o seu sabor mais doce e com menos teor alcóolico. “Costumamos dizer que os nossos melhores clientes são pessoas que não gostam de licor”, salienta a responsável, acrescentando que o teor alcoólico destes produtos é de 16%.
Depois da pêra Rocha, apostaram também nos sabores de maçã e diospiro, fruta que produzem na propriedade. O mais procurado é o de pêra, “porque é o mais doce”, mas o de dióspiro também suscita muita curiosidade por ser desconhecido. Ana Martins apenas conhece licor de diospiro feito na Nova Zelândia.
Até agora a produção tem sido feita apenas com os excedentes próprios, mas a matéria-prima começa a escassear para a procura, pelo que estão a começar a contactar outros produtores de fruta biológica.

Novos sabores para breve

A comercialização dos licores está a ser feita em lojas de produtos biológicos, lojas gourmet e mercearias, sobretudo na região Oeste e Lisboa. Nas Caldas podem ser encontrados na Mercearia Pena, Musas da Rainha, ou na Praça da Fruta, na banca de produtos biológicos de Sandra Martins.
Semanalmente estão também em Óbidos, no mercado biológico, com provas. Ana Martins estima que em cada sábado dá a provar aos visitantes da vila medieval 200 a 250 copinhos de licor e considera que esta é a melhor forma de divulgação do produto. E mesmo quando as pessoas não compram no imediato, ficam a conhecer o sabor e, mais tarde acabam por adquirir, tal como aconteceu com uma inglesa que depois do seu pai ter provado e gostado, voltou de propósito para levar uma garrafa de licor para lhe oferecer no Dia do Pai.
Óbidos acaba por funcionar como um “tubo de ensaio”, onde consegue testar o produto junto de consumidores de várias nacionalidades. E já tem alguns resultados: “os brasileiros adoram o licor, enquanto que os asiáticos o consideram demasiado doce”, conta.
Os licores biológicos estão também representados nas feiras internacionais onde participam o Turismo do Oeste e o de Portugal, através do programa “Prove Portugal”, sobretudo para fazer a promoção da pêra Rocha. Está a ter uma boa aceitação, sobretudo nos mercados alemão e inglês, que já consomem outros produtos nacionais.
O licor é comercializado em garrafas de 200 e 500 ml. As garrafas pequenas custam entre os 10 e os 12 euros e as grandes entre os 16 e os 19 euros.
Foi também criada a marca “aessencia”, a remeter para a fruta que é utilizada, tanto para fazer a aguardente como o próprio licor. A marca está também na internet em www.aessencia. pt
Para breve está também prevista o lançamento de outros licores, em edições limitadas. Ana Martins já começou a fazer experiências nesse sentido e garante que “tem alguns na calha”.
Entretanto, aproxima-se a época mais trabalhosa, a da colheita. Em Agosto vai começar a fazer licor com peras acabadas de apanhar que, garante, “ficará muito mais saboroso”.
Com a arquitectura “arrumada numa mala”, Ana Martins até encontra algumas semelhanças com a sua actividade anterior, sobretudo ao nível da gestão de projectos e equipas. “Agora costuma-se dizer que as pessoas têm, em média, três carreiras durante a vida e eu já vou na segunda”, brinca a empreendedora, acrescentando que gosta bastante do que faz. “Não é muito complicado nem trabalhoso, mas requer  tempo e as proporções certas”, explicou à Gazeta das Caldas.

Fátima Ferreira
fferreira@gazetadascaldas.pt