Supressões e atrasos diários na linha do Oeste devido a falta de material circulante

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FotoAllanCaldasNas últimas duas semanas a CP tem suprimido comboios na linha do Oeste a um ritmo quase diário (por vezes dois comboios no mesmo dia) porque as automotoras estão avariadas e a empresa não as substitui alegando que não possui mais material circulante.
As velhas automotoras Allan têm tido um elevado índice de imobilizações em oficina, mas isso não faz soar nenhum alerta na CP, que, simplesmente, se limita a suprimir os comboios, deixando os passageiros apeados ao longo da linha, a maior parte deles sem qualquer informação porque as estações estão fechadas e não há como saber que o comboio de que estão à espera, afinal, já não passa.
Esta falta de respeito pelos clientes e pela população do Oeste não tem sido pontual, mas continuada. A empresa sabe que o material está velho e que as reparações não duram muito, mas não se preocupa em arranjar transbordos para os seus clientes nem em preparar um plano B com outro tipo de comboios para assegurar a sua oferta na linha do Oeste.
Contactada pela Gazeta das Caldas, uma fonte oficial da CP diz que no mês de Setembro registaram-se 14 supressões nesta linha (o nosso jornal apurou que desde o início de Outubro estas têm continuado e sido quase diárias) e que as mesmas se devem “a necessidades de imobilização de material circulante que não foi possível antecipar”.
No entanto, na linha do Douro, onde a falta de material diesel também é dramática, a empresa tem recorrido a composições de máquinas e carruagens para assegurar os comboios programados. Uma preocupação que não parece ter para o Oeste.
“Não se trata de uma questão de preferência no tratamento dos clientes de cada região, mas sim da gestão que é possível realizar a cada momento nos vários pontos do país”, responde a CP.
A empresa diz ainda que, “logo que exista disponibilidade”, serão transferidas para o Oeste algumas das automotoras espanholas que alugou à Renfe. No curto prazo será ainda desviada uma automotora actualmente em serviço no Alentejo (ligação Casa Branco – Beja) “que permitirá reforçar o material disponível, por forma a minimizar o impacto na circulação das unidades ainda imobilizadas”.
Uma das consequências de se suprimir um comboio é o não poder assegurar-se a rotação da composição em falta em sentido contrário. E isso atrasa todo o serviço ao longo do dia.
A linha do Oeste tem, por isso, vivido um autêntico caos, com passageiros, incluindo estudantes, a optarem por não comprarem o passe mensal, preferindo o autocarro.
As “imobilizações de material” não são, contudo, uma inevitabilidade. Resultam da má gestão da CP nos últimos anos que se fartou de abater material, mandando para a sucata automotoras que estavam operacionais. O motivo até tinha justificação: havia a expectativa de as linhas portuguesas serem electrificadas, pelo que faria sentido destruir material diesel porque em breve os comboios eléctricos reinariam na geografia ferroviária.
Só que os responsáveis da CP foram tão pró-activos na sua ânsia de transformar comboios em sucata (e sabe-se hoje que o negócio das sucatas até nem é displicente) que quase nada sobrou. Hoje a transportadora pública vive com uma frota mínima em que nem sequer há material para ficar de reserva.
E assim se explica porque motivo, na linha do Oeste, apanhar um comboio pode ser uma lotaria.

BOMBARRAL PROTESTA

A Assembleia Municipal do Bombarral aprovou na semana passada, por unanimidade, um voto de protesto do PS local contra a CP por esta “continuar a desinvestir na linha do Oeste, não honrando o contrato de serviço público de transporte ferroviário celebrado com o Estado e prejudicando de forma flagrante os utentes da mesma, sobretudo no trajecto Caldas da Rainha – Torres Vedras”.
O documento refere as “supressões diárias” do mês de Setembro e diz que os clientes devem ser “respeitados” e até indemnizados pelos incómodos causados.

Carlos Cipriano
cc@gazetadascaldas.pt

Electrificação não está garantida

Apesar da onda de optimismo gerada ultimamente sobre a eventual electrificação da linha do Oeste, esta não está garantida e o projecto marca passo numa empresa que em breve vai deixar de o ser. A Refer, como é público, vai ser fundida com a Estradas de Portugal para dar lugar a uma nova empresa – a Infrastruturas de Portugal, que reunirá a ferrovia com a rodovia.
Com o futuro presidente da empresa, António Ramalho, a anunciar que haverá despedimentos, o ambiente vivido na Refer é de paralisia. Ninguém sabe o que acontecerá ao seu posto de trabalho quando se começar a pôr em prática as famosas “sinergias” em que as fusões são pródigas.
As grandes decisões estão paradas e o presidente da Refer, Rui Loureiro, que já sabe que não ficará na nova administração, é hoje o presidente de uma empresa que vai deixar de o ser, mandando menos do que os seus colegas do Conselho de Administração que transitarão para a futura empresa.
E é aqui que se enquadra o futuro da linha do Oeste. À luz da futura Infrastruturas de Portugal nada garante que este corredor ferroviário venha a ter qualquer investimento. Sobretudo tendo em conta que já existe uma boa rede de auto-estradas no Oeste que assegura a mobilidade de passageiros e mercadorias.
De um ponto de vista estritamente financeiro, poderá ser considerado um bom acto de gestão que esta empresa não despenda recursos nos carris quando o alcatrão já resolve. É por isso que a electrificação da linha do Oeste pode estar em risco.
Questões como desenvolvimento sustentável, o ambiente, a segurança, a gestão do território, tudo isso não serão objecto de preocupação da Infrastruturas de Portugal. Ou seja, para os oestinos, seriam preferível que o governo criasse uma Direcção Geral da Infrastruturas de Portugal, um braço armado do Estado para este sector, do que uma empresa pública, que terá critérios de gestão mais centrados nela própria do que no país.
A fusão da Refer com a Estradas de Portugal não fazia parte do programa do governo nem nunca foi sequer abordada pela troika. Trata-se de uma decisão recente e muito rapidamente posta em prática.

C.C.

Mais passageiros

Depois de ter batido no fundo, o número de passageiros tem aumentado na linha do Oeste, sobretudo depois da melhoria das ligações a Coimbra e à linha do Norte. O material é mau, mas os horários para Coimbra, Aveiro e Porto são bons, melhores até do que os dos autocarros.
Por outro lado, o fim das greves, que eram uma constante até 2012, levou a que alguns passageiros regressassem ao comboio.
Eis, segundo a CP, a subida registada de 2013 para 2014:
• Número de passageiros: mais 34,8 mil (12,5%)
• Passageiros de bilhetes: mais 15,3 mil (8,1%)
• Passageiros de assinaturas: mais 18,5 (22,5%)

C.C.