ANNUS MIRABILIS – Ser trabalhador

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Comemoramos este domingo o 38º Dia do Trabalhador em democracia. O que significa ser trabalhador nesta segunda década do século 21, quando o mundo estremece com o sismo da globalização, fazendo sentir diariamente um sem número de réplicas que derrubam, com maior ou menor estrondo, a velha ordem económica e social, revelando uma outra de tipo novo? O que significa ser trabalhador neste Portugal acossado por uma competição internacional feroz, para a qual não se preparou atempadamente, apesar dos sucessivos avisos e evidências? Estamos mergulhados numa tempestade perfeita, para a qual navegámos com total irresponsabilidade, mantendo ao leme timoneiros que nos afundam enquanto nos prometem salvar, temendo que a sua mudança possa deixar o navio à deriva ou levá-lo para outras tempestades.

Ser trabalhador, neste tempo de tormentas várias, significa, acima de tudo, ser consciente e responsável, ajustando as atitudes e os comportamentos à situação em concreto, sem pretender fugir à realidade e fingir que nada se passa. Ser trabalhador, nas actuais circunstâncias, significa defender cada posto de trabalho e cada empresa, dando mais à economia do que aquilo que se lhe pede e abdicando, temporariamente, de regalias e proveitos não essenciais, até que se relance o crescimento e se produza a riqueza que os sustenta. Ser trabalhador, no Portugal que podemos ser e ter, significa mudar, profundamente, muita coisa que está mal na nossa sociedade, começando pela mentalidade e postura de cada um de nós. Com esta cultura de fraco saber, de grande distância social, de baixa assertividade, de insustentável comodidade e de imediatismo gratificante, não vamos lá, embora saibamos que mudar – tal como respirar – não é obrigatório.
Reflectirmos sobre qual tem sido o nosso papel de trabalhadores é, sem dúvida alguma, a melhor maneira de comemorarmos e valorizarmos este 1º de Maio. Sabemos realmente o que é uma empresa, qual a sua natureza, regras de funcionamento e finalidades? Está claro que a satisfação dos clientes deve constituir o nosso principal objectivo e preocupação organizacional? Participamos convenientemente no desenvolvimento da empresa, nos processos de decisão e de mudança que determinam o seu futuro? Estão os nossos direitos e recompensas ajustados aos correspondentes deveres e obrigações, sustentados na riqueza produzida e na necessidade de sobreviver e progredir? Temos a noção de que os cargos desempenhados são, sobretudo, oportunidades para servir e não mero  reconhecimento do mérito, da qualificação ou da lealdade? Estas são questões que nos devem sobressaltar e convocar, enquanto profissionais sérios e empenhados.
Aos trabalhadores portugueses, incluindo os que desempenham funções de liderança e gestão, o que Portugal lhes pede é que aumentem a produtividade, que inovem, que sejam empreendedores e se internacionalizem. O que o país lhes exige, hoje, é que reduzam os consumos supérfluos e inúteis, que evitem os erros e os acidentes, que sejam mais precavidos e responsáveis. Aos trabalhadores portugueses, o desafio que se coloca é perderem o medo e arriscarem, não temerem as mudanças e os insucessos, procurando aprender com eles e tentar de novo. Diz o ditado que “para grandes males, grandes remédios” e este é o tempo de sermos ambiciosos, corajosos e destemidos, trabalhando em equipa e pondo o bem comum acima dos interesses particulares e mesquinhos. Ser trabalhador, neste Portugal que reclama uma nova esperança, é ter a estima e a confiança necessárias para sermos mais autónomos e assertivos, afastando definitivamente da nossa frente todos aqueles que nos têm bloqueado o progresso e levado por maus caminhos.