Crónica do Québec (Canadá)

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O Impact  de Montréal, sobe de divisão

Não temos falado muito dos desportos em Montreal. Desta vez no entanto não resistimos pois, depois de muitos anos ausentes da Primeira Liga de Soccer da América do Norte, Montreal junta-se agora a Toronto e Vancouver como cidades canadianas possuidoras dum clube na MLS. Aqui no entanto já todos sabiam ainda antes da época do nosso futebol/soccer começar. A equipa da nossa cidade iria  subir de divisão e não houve festa dos adeptos nas ruas da cidade por causa disso.


A explicação é simples. Ao contrário do que se passa na Europa onde a descida ou subida de escalão, são função dos resultados das diversas equipas durante uma determinada época, aqui o direito de subir adquire-se a troco de muitos milhões de dólares americanos (neste momento a valerem menos que os nossos, mas isso é assunto para outras crónicas). E a descida, perguntarão ! Normalmente quando a concessão se torna deficitária, os proprietários ou decidem vender o direito que possuem, de preferência com mais-valias, ou pura e simplesmente fecham.  Para cada concessão que encerra, há no entanto várias prontas a entrar, pois o desporto aqui, como tudo o resto afinal, tem  por objecto o lucro dos investidores, que dependerá sempre das relações com os seus trabalhadores (os jogadores). E não há nada de errado nisso.
Perante esta situação imagine-se o estado de espírito dos actuais atletas, sabendo antecipadamente que na próxima época, não farão em princípio, parte dos quadros do clube Impact de Montreal, já que a diferença de qualidade da actual liga, a que poderíamos chamar de Divisão de Honra, está muito aquém da Primeira Liga, a conhecida MLS , iniciais de Major League Soccer, cujos padrões de qualidade segundo alguns especialistas, estarão à altura da Primeira Liga Francesa de Futebol.
Assim, e já há algumas semanas, o anterior treinador do Impact,  Marc dos Santos pediu a demissão. Jovem nativo de Montreal, e com família directa ligada à cidade de Caldas da Rainha,  fez na nossa Província, praticamente toda a sua aprendizagem neste belo desporto. No último defeso, como dizem os insiders, levou os seus jogadores a estagiar no Norte de Portugal.
Numa atitude responsável, e perante a quase impossibilidade de tirar o máximo rendimento dos seus atletas, que estão num dos últimos lugares da classificação, deixou o campo livre para que os dirigentes da equipa procurassem um substituto. O sucessor já está escolhido, tem um palmarés impressionante como jogador, tendo ganho três Taças da MLS e outras três Taças USA, e jogou durante 14 épocas em diversos clubes da liga. Era o  treinador adjunto da selecção dos Estados Unidos durante a recente campanha do campeonato do Mundo na África do Sul.  O seu nome é Jesse Marsch, é americano, e não fala francês. O que se torna, pasme-se, num problema para alguns jornalistas, mais acérrimos defensores da língua de Molière. Além disso está por dentro de todos os meandros da direcção da Liga, pois todos sabemos que, por muito bons que sejam os atletas, se não houver aqui e ali, alguns jogos de bastidores, é muito difícil ser-se campeão.
Assim, e em função de tudo isto, parecem estar reunidas as condições para que a nossa equipa do Impact de Montreal faça boa figura na  próxima época. Não impede que, alguma imprensa dita «especializada» já lhe tenha dado o título de primeiro treinador da próxima época a ser despedido. É que os dirigentes da equipa, a família Saputo, que fez fortuna na indústria da fabricação de queijo, e como o nome indica, italianos de gema, de sangue latino como nós, não gostam nada de ver os seus atletas evoluirem no estádio com o nome da família,  de 20 341 lugares e situado nas traseiras do grandioso Estádio Olímpico,  com menos de 50% das cadeiras ocupadas.
Na MLS todas as equipas estão actualmente sujeitas a um tecto salarial de 2,8 milhões de dólares anuais, a que se acrescentam mais três jogares de excepção com salário ilimitado, dos quais apenas 335 000$ serão contabilizados na massa salarial. O terceiro jogador com salário superior a 335 000$ anualmente, está sujeito a uma taxa imposta pela liga, e que é distribuída pelas outras equipas do circuito.   Procura-se através destas medidas, similares às de outras ligas de desportos profissionais da América do Norte, criar o máximo  equilíbrio entre  os participantes, dando a todos a possibilidade de serem campeões. O oposto do que se passa na Europa em geral, e em Portugal em particular, onde todos os anos são sempre os mesmos que ganham, e para os quais os meios não contam. Como alguns amigos, gente adulta e responsável, nos dizem por vezes,  o que importa é que a nossa equipa ganhe, mesmo jogando mal. Mesmo que para isso se continue a negar a importância da utilização dos meios electrónicos disponíveis, com os quais se evitariam erros crassos constantes e à vista de todos, mas que normalmente beneficiam sempre os mesmos.  Daqui até à alienação pura e simples, o passo é o de uma criança.  Pensamos no entanto, serem estes os desígnios dos dirigentes planetários do belo desporto que é o jogo da bola.