Natal é tempo de dar, partilhar ou de roubar?

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Gostaria de partilhar informação relativa a algo que me aconteceu na cidade: roubaram-me carteira com inúmeros cartões, documentação importante e peça em ouro que acabara de trazer da ourivesaria. Poderá ter ocorrido na praça da fruta ou loja nas imediações num sábado de grande animação e confusão na cidade.
Após ter feito análises clínicas, senti alguma dificuldade em segurar na mala. Na praça da fruta, o meu gesto rotineiro de colocar a carteira na mala após pequena transação comercial, foi um gesto favorável à manobra de carteirista. Poderá ter sido também no interior da loja sobrelotada e, para meu azar, sem videovigilância para onde segui. Naquele espaço comercial, facilmente um «expert» na arte da apropriação do alheio poderia colocar mão na minha mala e  retirar-me despercebidamente a carteira.
A curiosidade de ver como estava a funcionar a praça, após obras de regeneração, ou o visitar espaço comercial que não conhecia, saiu-me muito caro.
Na verdade, não resido na cidade, pelo que fui surpreendida com um sábado de bulício frenético.(…) Dificilmente se circulava no local.
Na opinião de quem passava em direção à praça, naquele sábado estava mesmo ao  rubro.
Sobreposição, simultaneidade de eventos em espaços só por si caracteristicamente bastante frequentados neste dia da semana e nesta altura do ano, causa uma confusão que cansa quando devia animar e, para oportunistas, pode ser o ambiente ideal para rentabilizar  actividade ilícita.
Na praça a azáfama era muita. E nestes dias, inevitavelmente, tem-se gente colada a nós.
Provavelmente, quem não trabalha fica atento às distrações de quem se cansa para pagar impostos que subsidiam os seus rendimentos mínimos. Boa recompensa.
Tenho pensado no que me aconteceu. Apercebo-me, pelos relatos de partilha, que mais assaltos acontecem na cidade e nos arredores. O que confirma as notícias que vamos lendo ou ouvindo. Minha mãe, octogenária, foi vítima de assalto por puxão a cordão de ouro que tinha, o que a deixou magoada e bastante assustada.
Tive curiosidade de saber como mantêm a vigilância e segurança nestes locais de comércio tradicional. Por isso coloquei a questão a instituições, a responsáveis pela segurança pública. Nas grandes superfícies, espaços fechados, há seguranças. E neste recinto comercial aberto, onde estão os polícias?
No momento de  aflição, em ambientes de confusão, parece-nos pairar a indiferença. Pedir ajuda parece ser um ato inglório, sobretudo quando não encontramos de imediato quem nos proteja.
De acordo com informações prestadas, há polícia nas redondezas.  De facto, agora já reparei que estão  à frente do edifício da Junta de freguesia. Contudo, parece que a sua presença não intimida este tipo de larápios. (…)
Recordo com azedume que a reação da lojista ao meu grande constrangimento foi de uma frieza notável, o que, para mim, prova bem que o Natal é cada vez mais comercial e que situações destas se podem estar a banalizar. Voltei, posteriormente, ao local e as reações mantiveram-se. Pessoas preocupadas em facturar apenas. Não há que perder tempo com palavras solidárias nem mesmo numa época que deveria ser inspiradora de humanização.
Na praça, onde fiz uso pela última vez da minha carteira, o vendedor revelou-se bem mais solidário, pedindo-me um contacto e indicando que com frequência naquele espaço há pedintes suspeitos.
Pessoas simples que me deram atenção e evidenciaram preocupação e proposta de ajuda.
No momento, senti-me desprotegida e sem saber a quem recorrer. Olhei para toda a gente na tentativa de ver o rosto da maldade, mas fi-lo em vão.
Fui participar ocorrência à polícia, enviei e-mail para autarquia, junta de freguesia e agora para vossa redação para que este tipo de crime seja do conhecimento público. Só assim, percebemos que outras pessoas passam pelo mesmo numa cidade que não escapa aos sinais do tempo. Depois disto, vem o medo, a suspeição face à situação de termos evidências da nossa vida pessoal em mãos alheias. (…)
Caldas da Rainha regenera espaços físicos, mas reflexos da crise social degenera a vivência neles,  a nossa qualidade de vida. É importante que os políticos tenham esta questão social na ordem do dia.
Pergunto então: em tempo de crise, Natal é tempo de dar, partilhar, ou de roubar?

Lélia Saldanha