«Trabalhos e paixões de Fernando Assis Pacheco» de Nuno Costa Santos

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O título desta crónica biográfica de Nuno Costa Santos (n.1974) sobre a vida e a escrita de FAP é uma homenagem ao seu livro de ficção, editado em 1993, «Trabalhos e paixões de Benito Prada». FAP (1937-1995) nasceu em Coimbra mas odiava as praxes («Era um futrica – não era um estudante de capa e batina») embora amasse muito a sua cidade: «O paraíso o que é? Deve ser a paz com certeza. Deve ser o Verão, a bondade, o estômago cheio, a água do mar e com certeza não haver casas nem gente a mandar em ninguém e tudo porreiríssimo da vida a ver passar uma coisa que não existe no paraíso: os comboios». No bar de Letras em Coimbra já FAP era um incansável leitor – «Fernando Pessoa, Steinbeck, Faulkner, Joyce, Virginia Wolf».
A sua entrada no jornalismo surge como terceira hipótese depois de um leitorado na Alemanha (cuja resposta tardava) ou ser professor de liceu na província (que não o seduziu) e entra aos 28 anos de idade no Diário de Lisboa. Pelo meio a guerra em Angola de 1963 a 1965: «Dizem que a guerra passa: esta minha / passou-me para os ossos e não sai».
FAP via assim o jornalismo: «Para um jornalista o conhecimento dos outros homens, isto é, do homem, se não for paixão não é coisa nenhuma e então de que vale a pena ser jornalista?» Já sobre a literatura tinha esta opinião: «O poeta deve buscar um acordo com a realidade, sua e dos seus próximos humanos. Deve interpretar essa realidade, livrá-la da ganga que a acompanha, joeirá-la».  FAP deverá ter ficado pasmado com o que lhe aconteceu em São Tomé quando visitou a ilha como repórter de O Jornal: «os empregados de uma roça diziam lembrar-se do seu avô e tinham uma fotografia que era afinal do rei Jorge VI»…
Infatigável caçador de gralhas, FAP teria achado graça a algumas: na página 29 Wolf por Woolf, na página 65 a fundação do República em 1971 (foi em 1911) e na página 149 Camarão por Caramão da Ajuda.
(Editora: Tinta da China, Capa: Vera Tavares)

José do Carmo Francisco