Um Livro Por Semana 235 – «Baleia à vista» de Carlos Lobão

0
463

Quarta edição deste livro com 24 textos – 18 em prosa e 6 em verso. São bem variados os autores desde o Príncipe do Mónaco em 1895 («ofereci-lhes a oportunidade de sermos nós a rebocar o cachalote até ao local para onde o queriam conduzir») a Raul Brandão: «Duma que vi morta no Cais do Pico tinham retirado trinta quilos de massa escura, âmbar, que valia muitos contos de réis. Por toda a parte vasilhas ensebadas, barris de óleo, montões de ossos, resíduos de lenha e toucinho branco cortado em bocados».


Há prosa mas também poesia como Vítor Rui Dores («A Baleia é o boi do mar / Que tombou na agonia / Rema, rema, é só remar / Já findou o negro dia / Quem plantou sonhos nas águas? / Quem do arpão fez seu pão? / Quem sofreu tamanhas mágoas / Em vendavais de emoção?») ou Manuel Alegre: «Eu vi os barcos parados prisioneiros / na sede de um museu. E os arpões / pendurados. E gravadas / em dentes de baleia as passadas navegações / das velhas baleeiras.»
Também havia lutas entre vigias, trancadores, baleeiros e esquartejadores de cachalotes: «Lutava-se. Uma luta renhida, feroz, heróica. Lutavam: espantavam baleias uns aos outros, chegava a haver abalroamentos, vociferavam-se pragaredos de encampação que reboavam sobre o mar, às vezes tudo ficava em águas de bacalhau, o molestado a aguardar, paciente e silencioso, a oportunidade da desforra, às vezes tudo ia parar na Delegação Marítima e no tribunal». A última baleia foi caçada nos mares açorianos em 1987 nas Lajes do Pico mas as memórias não se perdem e continuam.
(Edição: Clube de Filatelia O Ilhéu – Escola Secundária Manuel de Arriaga, Texto da contracapa: Herman Melville)