Alguns testemunhos sobre a crise política no país

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1 – Qual a sua opinião sobre a decisão de Paulo Portas em manter-se no governo, agora ainda com mais poder nas áreas da Economia e Finanças?
2 – Quanto tempo durará o governo?

“Uma situação bizarra”
1- Acho que estamos perante uma situação bizarra, o governo perdeu toda a credibilidade que podia ter. Foi revelado que o “rei vai nú” e, por mais que os príncipes agora queiram mudar de traje, as pessoas agora já sabem a verdade e não há mais nada a fazer do que marcar eleições.

2  – Não me atrevo a fazer futurologia. Creio que este governo não tem condições objectivas para renegociar o que vai ser preciso renegociar. A orgânica é demasiado artificial e artificiosa para que haja um entendimento.
Não se percebe que Passos Coelho depois de ter sido, de alguma forma, subordinado de Vítor Gaspar, queira ser agora subordinado de Paulo Portas. Ao mesmo tempo, creio que lhe está a entregar uma maçã envenenada porque não há condições nenhumas para renegociar o que quer que seja para uma politica de crescimento.
Lino Romão, candidato à Assembleia Municipal pelo BE

“Paulo Portas é mais esperto do que eu pensava”
1 – Creio que o ministro Paulo Portas está a revelar-se mais esperto do que aquilo que eu julgava. Este foi um golpe, ele teve sentido de oportunismo, de modo a ficar com mais poder do que aquele que o primeiro-ministro, Passos Coelho lhe tinha dado.

2 – Creio que vão passar as eleições autárquicas, que devem ser feitas com tranquilidade, a próxima negociação com a Troika e depois creio que este governo deixa de ter condições e por isso acho que não deve continuar.
Leonor Leitão – Professora aposentada

“Não podemos estar permanentemente em eleições”

1 – Houve uma situação de crise que podia originar eleições antecipadas, cujo governo não seria diferente do que temos hoje pois não era constituído com uma maioria absoluta, havendo a forte probabilidade de ter que haver outra vez coligações.
Fiquei preocupado com estas demissões, que teriam prejuízo para o país, e tiveram-no.
O facto de terem sido dados passos para uma situação que não passe por eleições parece-me positivo. É melhor esta solução do que a de convocar eleições antecipadas, porque não resolvem a situação.
Quero registar positivamente a postura do primeiro-ministro, que não embarcou naquilo que poderia ser a sua vontade pessoal e pensou no país. Preferiu fazer algumas cedências para que as condições do Presidente da República se concretizassem, do que caísse tudo.

2 – Penso que o governo não tem outra alternativa senão fazer o mandato completo. A regra deve ser termos eleições de quatro em quatro anos. Não podemos estar permanentemente em eleições, não é bom para o pais.
Não é possível ter estabilidade no pais, os agentes económicos perspectivarem o futuro, haver investimentos, se as regras não forem cumpridas. Sou favorável a que os governos devem durar quatro anos.

Tinta Ferreira, presidente da Câmara das Caldas em exercício

“Vai ser uma espécie de governo de gestão”

1- Em relação ao ministro Paulo Portas creio que a posição dele foi inqualificável. Ele é um jogador de poker, jogou e ganhou. Mas nós é que vamos perder.

2 – Creio que este governo se vai manter pelo menos até Junho do próximo ano, quando decorrer a avaliação final da Troika. Creio que os governantes não têm interesse nenhum nas eleições antecipadas pois sabem que teriam uma derrota esmagadora. Eles vão fazer tudo para se manter a flutuar, a navegar à vista, ou seja, passam a ser uma espécie de governo de gestão.
Jorge Céu – reformado

“Uma decisão um bocado abrupta e não pensada”

1 – Acho que o mais importante é pensarmos no país e na situação que está a passar. Ainda estamos debaixo de auxílio financeiro e os que nos estão a auxiliar olham para nós para ver se são cumpridos os objectivos traçados. Estamos num período muito delicado em que bastou um dia para que se vissem as consequências da instabilidade.
Por razões que não foram explicadas o líder do partido da coligação teve aquela decisão, considerada mesmo dentro do seu partido como um bocado abrupta e não pensada, mas felizmente que as coisas retomaram o caminho, no sentido de um compromisso e envolvimento a todos os níveis.
Penso que esta foi uma exigência do Presidente da República para dar um sinal que todo o partido está envolvido.
Acho que o regresso do Dr. Paulo Portas tem a ver com uma responsabilidade e envolvência que foi exigida para que todo o partido parceiro na coligação esteja envolvido para dar a garantia de que este governo tem todas as condições para cumprir o mandato.

2 – A expectativa é que este governo cumpra o mandato. Acho que haverá um esforço grande para que isso aconteça.
Temos todos que trabalhar para que o governo cumpra o seu mandato. Espero que encontremos a estabilidade necessária para que a economia comece a dar os seus sinais de melhoria.

Maria da Conceição Pereira, deputada do PSD

“O que me importa é ter um governo estável”
1 – Desde o dia do Conselho de Ministros em Alcobaça [22 de Junho] parece ter havido um conjunto de precipitações. Tanto o Dr. Paulo Portas como o Dr. Pedro Passos Coelho não tiveram o cuidado que a situação do país e o respeito que os portugueses merecem perante os sacrifícios sistemáticos que têm estado a fazer e as privações que têm estado a passar.
Entendo que não era o momento para este tipo de divergência, que não acredito que tenha sido apenas por uma questão de não concordância da nomeação da actual ministra das Finanças, mas considero que não há razão para, na actual circunstância do país, qualquer elemento com responsabilidade no governo, para virar as costas aos portugueses.
Esta posição de Paulo Portas de vir agora dizer que está disponível foi uma atitude sensata, de dar a mão ao erro que tinha cometido e espero que o governo entre o CDS-PP e o PSD encontrem uma solução.
Pouco importa o peso de um ou outro partido, o que me importa é ter um governo estável, que consiga cumprir com os nossos compromissos e com mais força para negociar junto da troika e que consiga fazer uma verdadeira reforma de Estado, reduzindo custos.
Acho inclusive que nesta altura todos os partidos, se colocarem o supremo interesse nacional, terão que ajudar na estratégia de negociação e de reforçar a posição do governo, e  não estarem a olhar na perspectiva do mero oportunismo politico de ver quando é que chego ao poder.

2 – Não sei se o governo chegará às próximas legislativas, mas sei que terá que ser um governo forte, pelo menos, até Junho de 2014, sob pena de voltarmos  a sacrificar mais os portugueses.
Espero que haja essa sensatez de “engolir sapos” se for caso disso, para ajudar o pais e a classe média e baixa, que são o sector mais critico.

Humberto Marques, vereador da Câmara de Óbidos

“Muito estranho o ministro Portas continuar no governo”
1 – Acho muito estranho o ministro Portas continuar no governo, após ter tido uma atitude tão imperativa em relação à sua saída e ainda mais estranho como é que o primeiro ministro lhe dá todos aqueles poderes. Quem ganhou as eleições foi Passos Coelho mas parece que Paulo Portas tem hoje mais poder. Está alguém a pregar uma partida a alguém, só não sei quem a quem.

2 – Só Deus sabe, ou melhor, parece-me que só o diabo é que sabe… Nem o Portas, nem o Passos Coelho nem o senhor Presidente da República… é tudo tão dúbio e fora do normal que qualquer juízo que façamos tem 100% de hipóteses de falhar.
Isabel Castanheira, livreira

As demissões foram uma criancice”
1 – Acho que o que aconteceu com as demissões foi uma criancice pois creio que nós não sabemos tudo o que se passa mas a atitude que vimos não é explicada e a atitude seguinte não foi coerente. Pois agora não sei se ele consegue ter capacidade para resolver os nossos problemas.

2 – Não me parece que vá durar muito tempo. Na minha opinião, não creio que chegue ao final deste ano.

Madaíl Mendes, ceramista

“Uma atitude irrevogável não pode ser revogável”
1 – Tudo isto é triste demais…, não se pode correr riscos de perdermos tantos milhões de euros por causa de uma situação que poderia ser evitada…No entanto a solução encontrada é a que mais convém nesta altura. De qualquer modo  ninguém pode governar sem a confiança das pessoas.
Uma atitude irrevogável não pode ser revogável. Que coragem é que este senhor tem em continuar em governar? É por interesse pessoal ou está preocupado com o bem comum? Parece-me que é mais a primeira opção.

2 – Com tudo o que se passou creio que não será possível este elenco governativo governar sem a confiança das pessoas, ser político é ser-se responsável. Por isso acho que este governo não durará mais de seis meses.

Conceição Couvaneiro, professora universitária

“Isto é a política no seu pior”
1 – O ministro Portas está com um pé num sítio e outro noutro lugar. Foi por isso uma tentativa de se descolar de uma imagem cada vez pior, as coisas não correram tão bem como ele imaginava e no fundo dá uma péssima imagem da política. É no fundo a política no seu pior. No fundo é um teatro que tem custos elevadíssimos para o país, uma birra que de um dia para o outro causou um enorme prejuízo que equivale ao sacrifício de muitos dias, semanas e meses do povo português. Foi uma forma de brincar com a realidade das pessoas para colher vantagens num governo de coligação, seja lá com quem for.

2 – Não podemos fazer previsões, os comentadores até podem dizer o que quiserem. A política não é uma ciência exacta, há muito de temperamental e de táctica nestes processos. Não creio que haja uma resposta pois não há uma alternativa clara que traga esperança e eu para ser sincero não a vejo.

Edgar Ximenes, candidato à Assembleia Municipal pelo MVC

“É a completa descredibilização do governo”
1- Esta decisão confirma a completa descredibilização do Governo. É de uma lógica insustentável. Primeiro não estava de acordo com a nomeação da ministra, a demissão era irrevogável, depois já aceita a ministra. É uma farsa falarem de estabilidade que não existe, numa tentativa de se perpetuarem no Governo.

2- Não sou adivinho, por isso não posso dizer quando e que vai cair. Mas a primeira questão que vão ter para resolver é o orçamento, que necessita de um corte de 460 milhões de euros que não se vê como. Depois vão surgir outros problemas que vão conduzir a uma queda que é inevitável.

José Carlos Faria,
candidato do PCP à Câmara das Caldas

Testemunhos recolhidos por:
Fátima Ferreira
fferreira@gazetadascaldas.pt
Joel Ribeiro
jribeiro@gazetadascaldas.pt
Natacha Narciso
nnarciso@gazetacaldas