Pacheco Pereira diz que a política está a ceder lugar ao marketing nas campanhas eleitorais

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O investigador falou sobre a cada vez maior importância das redes sociais na divulgação da mensagem política

“Antes as pessoas colocavam um autocolante com a fotografia do candidato ao peito, mas isso hoje já quase não acontece”, constata Pacheco Pereira. Por vezes ainda há quem exiba um autocolante, mas apenas nas chamadas arruadas e só enquanto estas duram. A moda de andar com um autocolante ao peito, definitivamente, passou.
Isso é uma das razões que leva Pacheco a afirmar que “há um menor sentido de pertença no campo político” e, por isso, muitas das formas tradicionais de propaganda “vão-se tornando obsoletas” e dando lugar a novos meios como as redes sociais.
Além dos autocolantes, o mesmo acontece com os pins e com os tradicionais cartazes políticos. Estes últimos têm vindo a ser substituídos pelos outdoors. As mensagens políticas são cada vez mais simplificadas pois constata-se que “há uma despolitização das campanhas políticas a favor do marketing”. Exemplo disso foi a última campanha para as eleições europeias na qual os grandes partidos tiveram mensagens para os seus eleitores “que foram quase nulas”. As mensagens mais politizadas concentraram-se “nos pequenos partidos, quer à direita, quer à esquerda”, disse, acrescentando que foram eficazes as mensagens de partidos como o Chega! ou a Iniciativa Liberal pois ambos “foram directos e claros na comunicação”. Já os partidos do arco da governação – PS, PSD e CDS – “disseram todos a mesma coisa”.
Na sua opinião, foi o Bloco de Esquerda aquele que teve “a melhor campanha e que contou com o mais arrojado grafismo”. O facto de Marisa Matias ser uma candidata “naturalmente simpática” também ajudou ao sucesso. Os seus cartazes, que apresentavam três ou quatro pessoas a conversar em volta da candidata, tiveram uma boa receptividade, dado que era isso mesmo que Marisa Matias fazia por onde passava. Nos contactos de rua, ela conseguiu “maior proximidade com a população e um sentido de melhor comunidade do que os candidatos dos outros partidos”.

Maiores partidos, menores mensagens

Pacheco Pereira analisou ainda os cartazes dos restantes partidos e criticou as várias opções. “Não se entende por que o CDS/PP colocou os seus candidatos e a líder do partido todos vestidos de branco sob fundo branco, sem qualquer contraste! Parece que o candidato Nuno Melo e a líder do partido estão no céu! Isto não pode ser…”. Também não se compreende a escolha social-democrata de colocar o seu candidato, Paulo Rangel, “sob um mar de branco e laranja” e de o PS ter optado por cartazes com mensagens que “não dizem nada” e que apresentavam Pedro Marques “num falsamente à vontade com o líder do partido [António Costa]”.
No fundo, o que os três maiores partidos têm para dizer “simplesmente não foi colocado nos cartazes”.

A EPHEMERA

Pacheco Pereira partilhou vários dados sobre a sua biblioteca-arquivo criada em 2003, na Marmeleira (Rio Maior). Neste momento já ultrapassa os 200 mil títulos, sendo por isso uma das maiores bibliotecas privadas portuguesas. Em 2009 foi fundada como Ephemera Biblioteca e Arquivo de José Pacheco Pereira e, em 2017, foi criada uma associação que actualmente já conta com mais de 150 associados por todo o país. A biblioteca, que é também o arquivo privado mais público do país, possui documentos, imagens, materiais e objectos relacionados com o activismo social e político português.
A Ephemera também tem pólos em Lisboa e Barreiro, e pontos de recolha em Viana do Castelo, Porto, Lamego, Guarda, Figueira da Foz, Coimbra e Torres Vedras.
Além da conferência, que decorreu a 30 de Maio, na ESAD, a participação deste professor e investigador de História Contemporânea portuguesa contou com uma exposição de cartazes, pins e materiais gráficos de várias eleições. A mostra esteve patente durante os três dias do evento.
A participação de Pacheco Pereira designou-se Grafismos políticos 1974-1986 e decorreu no âmbito do Comunicar Design, iniciativa, que se traduziu em três dias de workshops, exposições e painéis de conferências contou com a participação de profissionais nacionais e internacionais de referência na área do Design.