A Pêra Rocha do Oeste tem a porta do mercado chinês praticamente aberta e as exportações podem começar já no próximo ano. A abertura deste e outros mercados asiáticos pode evitar quebras no volume de negócios da fileira, que está a enfrentar dificuldades nos seus dois principais mercados de exportação: Brasil e Inglaterra.
A carne de porco, que iniciou exportação para a China no início do ano, é uma referência a seguir. Estima-se que o mercado chinês tenha um impacto de 100 milhões de euros para esta fileira já este ano, com exportações acima das mil toneladas por semana.
O processo que deverá aprovar a exportação de Pêra Rocha e de maçãs para a China está perto da conclusão e Domingos dos Santos, presidente da Associação Nacional de Produtores de Pêra Rocha (ANP), acredita que a meio da próxima campanha, ou seja, em 2020, possam chegar àquele país os primeiros contentores com aquele fruto.
Num comunicado emitido no final de Maio, o Ministério da Agricultura anunciou a assinatura de um protocolo para o reforço da cooperação com a China, com o objetivo de harmonizar procedimentos e agilizar os processos de internacionalização. Uma das fileiras beneficiadas com este procedimento é, justamente, o da Pêra Rocha, que está a negociar juntamente com a da maçã.
Domingos dos Santos disse à Gazeta das Caldas que o processo de exportação para aquele país asiático está praticamente fechado. Nesta fase, falta a realização de uma visita técnica chinesa de controlo fitossanitário, que vai analisar os métodos de produção, embalamento e conservação dos frutos.
Na Feira de Xangai em Novembro
Depois dessa visita, está prevista a presença destas fileiras na Feira de Xangai, em Novembro, para a apresentação do produto, podendo a comercialização iniciar-se de seguida.
Apesar de não haver ainda estimativas de quanto poderá significar a China no volume de negócios da Pêra Rocha, o presidente da ANP adianta que este novo mercado será importante para os produtores e para as centrais fruteiras. É que o sector está a sentir dificuldades nos dois principais mercados de exportação: o Brasil por razões económicas, e a Inglaterra por questões políticas relacionadas com o Brexit.
Estes dois países já estão a importar menos pêra e isso fez com que o país que mais importa este fruto seja actualmente Marrocos, com uma condicionante de, naquele mercado, o fruto ter uma valorização baixa.
Na China e noutros países orientais, como a Índia, para onde já foi obtida autorização para exportar, essa valorização pode voltar a crescer.
Na campanha 2017/18, a produção total dos 29 associados da ANP, que representa 86% da fileira da Pêra Rocha, atingiu as 142 mil toneladas. As exportações atingiram cerca de 70 milhões de euros. A campanha 2018/19 não está ainda encerrada, pelo que os números não estão ainda disponíveis.
A relação comercial de Portugal com a China apresenta uma balança comercial positiva no sector agroalimentar e as exportações representam um montante de 150 milhões de euros. O Ministro da Agricultura acredita que há condições para que este valor possa crescer.
O ministro com a tutela do sector, Capoulas Santos, considerou recentemente, após uma visita diplomática à China, que aquele é um mercado interessante para Portugal não só pela sua dimensão de muitos milhões de consumidores que procuram produtos que se diferenciem pela qualidade e por elevados padrões de segurança alimentar.
100 MILHÕES DE EUROS EM CARNE DE PORCO
Sector que iniciou as exportações este ano para a China foi o da suinicultura. À Gazeta das Caldas, o secretário-geral da Federação Portuguesa de Associações de Suinicultores (FPAS), João Bastos, adiantou que os primeiros meses deste processo “têm estado a correr bem e de acordo com o anunciado”. O mercado chinês está a importar entre 10.000 a 15.000 porcos portugueses por semana, correspondente a mais de mil toneladas.
Estima-se que as exportações para a China rondem os 16% da produção nacional já este ano (a que corresponde 100 milhões de euros) e que o valor possa duplicar em 2020.
O dirigente destaca que o mercado chinês é extremamente relevante, uma vez que permitirá mais do que duplicar as exportações existentes para todos os mercados actualmente activos.
A exportação para a China impacta directamente na suinicultura do Oeste, uma vez que “grande parte das explorações que estão a trabalhar com matadouros que exportam para a China, nomeadamente as da empresa Valsabor, estão situadas nos concelhos das Caldas da Rainha, Alcobaça, Torres Vedras e Ourém”, nota João Bastos.
Nesta altura está já a ser colocada em andamento uma segunda fase do acordo de exportação de carne de suíno para a China, que permitirá a negociação das miudezas. A FPAS espera que este acordo esteja fechado até ao final do ano e poderá significar um acréscimo de 20 milhões de euros ao volume de negócios com aquele país. É que “as miudezas de porco, como pés e orelhas, são altamente valorizadas na China”, observa o dirigente.
João Bastos acrescenta que o facto de existirem mais mercados para escoar o produto deverá motivar os empresários suinícolas a produzir mais e, desta forma, “perspetiva-se possível o alcance da auto-suficiência do país em carne de porco em 2030”.
A fileira da suinicultura está num quadro de crescimento no último quadriénio e atingiu no ano passado um total de 507 milhões de euros, tendo atingido os 514 milhões de euros em 2017. A FPAS explica que este decréscimo se ficou a dever à diminuição do preço médio ao produtor por quilo de carcaça, que desceu de 1,56 euros para 1,42. Nesse período as exportações decaíram 2% fruto da instabilidade nos mercados tradicionais de exportação, nomeadamente Angola e Venezuela, e ao aumento de 1% das importações.
Além da China, o sector poderá beneficiar da recente abertura dos mercados da Coreia do Sul e das Filipinas e do acordo que está a ser ultimado com a Índia.