Comerciantes revoltados com os “enganos” no tabuleiro da Praça da Fruta

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praca28Outubro2014aOs 10 meses que duraram as obras na Praça da Fruta provocou prejuízos vários aos estabelecimentos comerciais da zona. Há quem fale em 50% na diminuição das vendas e outros que dizem que o prejuízo ainda foi maior. Uns culpam sobretudo as obras, outros dizem que a crise e as grandes superfícies também não têm sido benéficas para o comércio tradicional.
Gazeta das Caldas falou com vários comerciantes que dizem que o que mais lhes custa aceitar foram os enganos no empedrado do tabuleiro. Uma situação que, dizem, atrasou a obra e revelou a incompetência da Câmara e a falha na fiscalização.

Deixei de vender mil por cento!

Deixei de vender mil por cento! Simplesmente durante a maior parte dos meses das obras, os clientes desapareceram! Disse José Lemos, proprietário da Papelaria Pelicano, queixando-se sobretudo do período em que os passeios não estavam empedrados.
Esta papelaria que antes se dedicava apenas à venda de livros e material escolar, agora comercializava no verão chapéus de sol, guarda-ventos e brinquedos de praia. Habitualmente José Lemos colocava estes produtos de praia à porta do seu estabelecimento comercial. Com as obras não valia a pena e por isso este ano “nem sequer os pus à venda”, disse o comerciante.
Os dias de venda de material escolar também já não são os mesmos, mas isso deve-se sobretudo às grandes superfícies “que vieram dar cabo do comércio tradicional das Caldas”, disse o responsável comentando que há dois anos teve que inclusivamente oferecer os livros escolares comprados para Moçambique.
Mas o que de facto custa a José Lemos é como foram possível os enganos no empedrado da praça. “Então mas não há fiscais? Como é possível fazer e refazer? É inacreditável!”, afirmou.
Apesar de haver uma grande expectativa com o regresso do mercado diário à Praça ao seu local de origem, comerciantes como José Lemos temem que este espaço perca o dinamismo. E porquê? “Olhe, o primeiro erro foi quando tiraram os autocarros do Largo de Termal que fez diminuir o fluxo dos turistas”. E depois, “o aparecimento das lojas dos 300, dos chineses e dos hipermercados deram a machadada final no comércio tradicional”. Actualmente a Pelicano tem apenas uma funcionária, mas já chegaram a ser três, “pois duas não davam conta do recado”.

As pessoas passam, mas não entram!

Rita Machado é uma das responsáveis da Pastelaria Belo Monte e gere o espaço há um ano. A partir de Janeiro, altura em que começaram as obras “notámos uma grande diferença no movimento em relação aos quatro meses prévios”. A maior diferença foi sentida aos sábados que entes eram animados e que agora têm muito menos gente. “Não sei se será só por causa das obras da praça… a própria crise não ajuda nada”, comenta a responsável, queixando-se  que agora até há muita gente a passar “só que não entram!”.
Agora Rita Machado aguarda pelo breve recomeço da Praça, não só para o retorno do dinamismo do espaço como também espera que os próprios comerciantes retornem aos cafés para tomar o seu pequeno almoço, dado que não convém que se afastem muito dos seus locais de venda.
Na sua opinião, a Câmara das Caldas poderia proporcionar algumas actividades de animação da Praça da Fruta. Se assim for “nós também faremos o esforço de estar abertos até mais tarde”, rematou a empresária.

A facturação baixou cerca de 35%

Quem também se sente muito prejudicado é Paulo Leal, da Padaria Morgado (antiga Upacal). Embora a pior altura tenha sido quando o trânsito esteve interrompido na Praça, o facto das obras se terem arrastado por mais meses do que se esperava, fez com que o prejuízo fosse maior do que contava.
Para além dos vendedores e clientes do mercado terem deixado de frequentar o seu estabelecimento, também os turistas andaram mais afastados desta zona da cidade devido a esta intervenção.
“Já não falar dos clientes que perdemos com o encerramento do Hospital Termal, que trazia muita gente para aqui”, adiantou. Paulo Leal também não compreende como é que os candeeiros da Praça, que foram retirados há 10 meses, ainda não estão prontos para serem colocados.

O que foi feito é importante pois há muitos anos que não
se fazia nada

José Filipe, da Tabacaria Ibéria, até concorda com as obras pois na verdade, as coisas “têm que se renovar, o que foi feito é importante pois há muitos anos que não se fazia nada, estava tudo na mesma.”
A única coisa que o comerciante lamenta são os enganos no empedrado da praça. “Toda a gente sabia que seria trabalhoso, agora andar a fazer e a desfazer… não se admite. Penso que é algo que não deveria ter acontecido”, afirmou. José Filipe acha mesmo que o atraso por causa dos enganos no tabuleiro são mais difíceis de aceitar.
O empresário diz que durante os meses das obras teve um decréscimo nas vendas na ordem dos 30 a 40%. “Não dava mesmo para passar por aqui, não havia passeios. E quando chovia era só lama por todo o lado”, disse. José Filipe recordou que também não ajudou ter tido um Verão “que mais parecia Inverno”. Na sua opinião, seria também vantajoso poder apostar nalguma animação com o objectivo de voltar a atrair pessoas de novo para a Praça.

Falta de estacionamento afasta clientes

Joel Santos, da Drogaria Aliança, também se sente prejudicado pelo período em que decorreram as obras e conta que terá deixado de vender 50% do que comercializava antes da intervenção. E isto porque “as pessoas deixaram de ter onde estacionar e por isso preferem ir às grandes superfícies, acabando com o comércio tradicional na cidade”, disse.
Agora, na sua opinião, é tudo uma questão de hábito e não será fácil retomar a ida ao pequeno comércio. O maior abalo foi sobretudo aos sábados, altura em que tínhamos “muitos clientes de Lisboa e oriundos dos arredores que agora, com as obras, simplesmente deixaram de vir”, disse. Com o final das obras, Joel Santos espera que as vendas possam melhorar, mas a falta de estacionamento deixa-o um pouco apreensivo. “Agora o tempo dirá”, comentou.

Não foi assim tão mau

Rogério Ribeiro à frente da retrosaria José Ribeiros & Filhos Lda. há mais de duas décadas, acha que o impacto das obras “não foi assim tão mau”. Reconhece que era inevitável o tempo da obra, que houve alturas em que era difícil a circulação das pessoas, mas de facto os dez meses de intervenção “não causaram assim tanta mossa”. Está mais preocupado com excessivo tempo quente do que propriamente com o tempo em que a circulação era mais difícil.
Agora com o que não se conforma é com o facto de “estar a demorar tanto tempo por causa dos enganos no empedrado do tabuleiro”. O comerciante tem dificuldade em perceber, não só a demora como também não entende se não há fiscais que façam o seu trabalho. “Creio que os seis meses inicialmente previstos tinham sido tempo suficiente”, disse o comerciante. Lamenta por isso que o prazo das obras tenham descaído um pouco, mas diz que a diminuição nas vendas já se vinha a registar mesmo antes da intervenção. Há três anos registou menos 30% nas vendas e em relação ao ano transacto “terá diminuído mais um pouco entre os 10 e os 20%”.

Eles perderam o controlo disto

Também o Café Central se ressentiu muito durante a realização das obras. Segundo Luísa Pião, “em temos comerciais foi do pior que se pode imaginar pois facturámos uma média de 60% a menos do que o ano passado”. Com o arrastar da intervenção durante o Verão, época em que têm sempre mais clientes, a situação ainda piorou mais. “As obras e o barulho afastaram todas as pessoas aqui do centro”, disse. Embora tenha continuado a abrir o café durante as noites do Verão, “foi sempre a perder dinheiro”, contou. Chegou mesmo a pensar em fechar o estabelecimento e ir-se embora. Mas só não o fez porque é proprietária do imóvel e por isso não tem de pagar nenhuma renda.
Luísa Pião queixa-se também da falta de informação por parte da Câmara em relação aos sucessivos adiamentos da reabertura da Praça. A única informação que recebeu foi no início das obras, altura em que foi anunciado que a obra estaria concluída a 20 de Junho. Depois disso não recebeu qualquer explicação da autarquia. “Cheguei a enviar um email ao vereador Hugo Oliveira, mas a resposta também não dizia nada. Acho que eles também perderam o controlo disto”, comentou.

Felizmente não tenho sido muito afectado com estas obras

Américo Bernardino, do Quiosque Bernardino, tem outra opinião. “Felizmente não tenho sido muito afectado com estas obras”, disse. Como o seu estabelecimento fica no topo da Praça, havia muitos clientes do mercado da fruta que não passavam por ali. Com a localização provisória do mercado nas traseiras do Chafariz das Cinco Bicas, o trânsito pedonal aumentou bastante e acabou por ter novos clientes. “As pessoas que vão lá acima têm de passar sempre por aqui”. Aqueles que habitualmente ali faziam as suas compras, continuaram a fazê-lo.

Dificuldades no estacionamento

A clínica dentária OralMed também não foi prejudicada com as obras, a não ser com as dificuldades no estacionamento para os seus clientes. Sara Couto, coordenadora da clínica, contou ao nosso jornal que os utentes se queixaram muitas vezes da dificuldade em conseguirem estacionar nesta zona da cidade e muitas vezes acabavam por chegar atrasados às consultas. De resto, não perderam clientes por causa das obras.

Natacha Narciso
nnarciso@gazetadascaldas.pt

Pedro Antunes
pantunes@gazetadascaldas.com