Freitas do Amaral deixou-nos

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Na passada semana faleceu o professor Freitas do Amaral, umas das figuras emblemáticas a seguir ao 25 de Abril de 1974, que, tendo tido uma relação mais indecisa com o regime anterior, soube atravessar positivamente os 45 anos da democracia, afirmando-se como uma figura chave deste novo período.
Como autocrítica, o professor Freitas do Amaral foi visto durante algum tempo como uma figura cuja adesão aos ideais do novo regime democrático não eram totalmente claras, até por muitas das pessoas ligadas ao anterior se confundiam com ele, mas que ele soube, a partir de certo momento, demarcar-se distintamente, e mostrar o seu real pensamento, cuja apogeu ocorreu quando foi Presidente da Assembleia Geral das Nações Unidas.
Neste lugar de projecção internacional pode demonstrar o seu apego incondicional aos ideias da democracia e da liberdade, bem como do diálogo internacional e da paz.
Com os anos solidificou uma imagem de rigor científico e de sabedoria política, o que se lhe permitiu posicionar com independência em momentos diversos, mais de acordo com a sua consciência que com os ditames da oportunidade e fidelidade partidária.
Ocupou alguns dos mais altos cargos políticos em Portugal e não se guindou à mais alta magistratura da país, certamente por não estar maioritariamente alinhado, nesse momento, com a maioria sociológica do país.
Pessoalmente tive o privilégio fugaz de ter estado este ano associado com ele a um projecto científico destinado a pensar o futuro de um país de expressão portuguesa, naquilo que poderá ou poderia ter sido o seu último projecto de grande alcance, tendo partilhado algumas das reflexões sobre essa realidade, antes que a doença o tenha colhido irreversivelmente. Não parecia limitado nas suas forças, apesar de algum tempo depois ter ficado afastado pela doença, tendo mostrada a sua sagacidade e sabedoria de pensamento em relação às questões constitucionais e administrativas.
De qualquer forma, consideramos que o professor Freitas do Amaral também marcou indelevelmente os últimos 50 anos, pelo que nos curvamos perante o seu desaparecimento.