Idosos beneditenses exortados a terem papel activo no futuro da comunidade

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Canaveira de Campos falou para uma plateia de mais de 150 pessoas que recordaram os tempos marcantes da história da freguesia

A construção da Igreja Nova, o projecto de Desenvolvimento Comunitário e a criação do Externato Cooperativo marcaram a história da Benedita e catapultaram a freguesia para o progresso que atingiu o seu auge nas décadas de 80 e 90. Outrora exemplo do que a união de esforços pode fazer por uma comunidade, a Benedita procura hoje novos impulsos que permitam trazer nova vida a uma vila onde muitas fábricas encerraram, lançando centenas de pessoas para o desemprego e onde há cada vez menos crianças e jovens e cada vez mais idosos.
Mas é precisamente nos mais velhos que se podem encontrar orientações para a tão necessária mudança. Pelo menos é nisso que acredita Canaveira de Campos, o presidente da ANIMAR – Associação Portuguesa para o Desenvolvimento Local, que na noite de 28 de Setembro esteve na vila, a convite da Santa Casa da Misericórdia Local, falando para uma plateia composta por mais de 150 pessoas, composta sobretudo por idosos.Numa conferência dedicada ao tema “Vidas Vividas – O Segredo das Gerações”, Canaveira de Campos defendeu que dos marcos históricos da freguesia ficaram valores que são indispensáveis às gerações mais novas e “fundamentais para qualquer comunidade que queira ter futuro”: sentido de comunidade, empreendedorismo, procura do bem comum e valorização do colectivo. E é precisamente sobre estes quatro valores que devem assentar novos projectos que, à semelhança do que aconteceu com a construção da igreja local e a criação da cooperativa de ensino, sejam capazes de mobilizar a comunidade, aproveitar novos recursos, criar uma sociedade inteligente.
E nesta missão os mais velhos têm um papel a desempenhar. “A Benedita de hoje tem muito mais conhecimento também por ter mais gente de mais idade. Isto é riqueza, se o soubermos aproveitar”, exortou o orador. “Nesta terra com uma história que muitos invejam, além da memória que já ficou, pode haver uma memória futura”.
No entanto, esta memória não pode depender só dos jovens, mas também dos mais velhos que devem fazer por continuar a ter uma participação activa no futuro da sua terra.

“O idoso não é mais que o homem jovem e activo, mas agora mais experiente”

Como podem os mais velhos ajudar os mais jovens na construção do futuro? Para o convidado da Misericórdia, há muito que se pode fazer, ainda que “faltem políticas que permitam que quando se chega a esta idade se chegue com saúde, autonomia, integrados em sociedade. Não marginalizados, nem postos de parte”. É preciso que os mais velhos vejam o trabalho não como castigo, mas sim como uma realização pessoal e criação de riqueza que devem continuar a procurar mesmo quando a idade avança. E o trabalho vai muito além do que se faz por conta de outrem. Há que pôr a experiência adquirida ao serviço de um trabalho por conta própria, do trabalho em cooperação ou até do trabalho voluntário, procurando a realização pessoal pelo serviço aos outros.
E no ano em que se assinala o Envelhecimento Activo e a Solidariedade Entre Gerações, Canaveira de Campos exorta a que se pense diferente, a que a sociedade deixe de ser compartimentada em gavetas, mediante critérios de idade. “Liguemo-nos uns aos outros, porque os que hão-de vir depois de nós, hão-de lembrar-se de nós se o fizermos”, defendeu.
Salientando que “o idoso nada mais é que o homem jovem e activo, mas agora mais experiente”, o presidente da ANIMAR instou os idosos beneditenses a estarem disponíveis para apoiar os mais novos na luta por um futuro melhor. “O apoio passa por ajudarmos, seja de que forma for”, seja com meios financeiros, com uma palavra de incentivo, ou simplesmente apontando caminhos. E ainda que faltem as políticas necessárias a uma verdadeira ligação entre gerações, cabe aos mais velhos “criar um novo relacionamento pessoal, procurar falar com as pessoas, não limitar-se a ver televisão, dia após dia”.

Joana Fialho
jfialho@gazetadascaldas.pt