Há quatro anos que os vendedores voltaram à Praça da República depois de terem passado 10 meses a vender num mercado improvisado atrás do Chafariz das 5 Bicas, para que fossem feitas obras de melhoramentos no tabuleiro centenário. Na altura foi realizada uma hasta pública que resultou na venda dos 120 lugares disponíveis no mercado, criado um regulamento para o seu funcionamento e uniformizadas as tendas e bancas dos vendedores.
Volvidos quatro anos, os comerciantes queixam-se do peso das estruturas, que têm que ser montadas e desmontadas diariamente, da falta de estacionamento que afasta as pessoas da praça e de condições insuficientes para quem vende e para quem compra.

A vender na Praça há 25 anos, Cristina Henriques, do Guisado, acha que os melhoramentos de há quatro anos na Praça foram pensados por “gente que não trabalha aqui diariamente”. A comerciante referia-se às tendas com os toldos coloridos, cujas estruturas “custam muito a montar”. A tentativa de uniformizar a praça até parece uma boa ideia a nível estético, mas há vendedores que não conseguem fazer a montagem e têm que pagar a uma empresa, ou a pessoas, para a fazer. “O problema é que a empresa tem vindo a aumentar o preço de mês para mês”, disse a vendedora à Gazeta das Caldas, especificando que por cada estrutura que montam cobram 180 euros mensais. Entre as soluções apontadas para este problema está a criação de uma estrutura comum a todo o tabuleiro e a possibilidade de usarem apenas chapéus-de-sol. “Há estruturas comuns que são bonitas e não estragariam em nada o mercado”, afirmou Cristina Henriques, acrescentando que quando chove e faz vento, a água molha os vendedores e clientes.
Ao preço da montagem das tendas, pago à empresa ou a particulares que prestam o serviço, acresce o valor mensal de 15 euros (tenda de 1,5 metros) ou 30 euros (tenda de três metros) que os vendedores têm que pagar à Câmara.
Por exemplo, Cristina Henriques paga à Câmara 60 euros mensais pelos dois lugares que possui, para além dos 180 euros que paga pela montagem das tendas.
“Eu venho todos os dias pois sou produtora-comerciante”, disse, explicando que também há quem “só vem vender de vez em quando”.
A vendedora do Guisado lembrou que foram gastos “milhares de euros e em vez de melhorar, afinal piorou!”, acrescentando que a proibição de estacionar ao redor do tabuleiro também não ajuda às vendas. Na sua opinião, é preciso valorizar os vendedores que vêm todos os dias “pois há muitos que nem sequer cobre as despesas! Não nos sentimos devidamente valorizados”, rematou a vendedora, que não vê necessidade da praça mudar de lugar.

Mercados fechados “deixam de ter clientes”

Para João Martinho, de S. Gregório, a Praça da Fruta está melhor. Há sete anos que ajuda a sua mulher, que já faz o mercado há 26. “Eles gastaram muito dinheiro a recuperar a Praça”, disse o comerciante, que discorda da instalação de uma estrutura comum. Gostaria sim que as bancas fossem um pouco mais compridas e, inclusivamente, já se mostrou disponível para ajudar a fazer essas alterações.
Questionado sobre uma eventual mudança da praça para um local fechado, João Martinho entende que isso seria o mesmo que “acabar com ela!”. E também não quer que a Praça seja fechada pois tem havido algumas experiencias na região e o resultado é que os mercados “deixam de ter clientes”.
Em todo o tabuleiro da praça só há duas torneiras, mas “deviam ter grelhas maiores”, diz, apontando outro problema: não há onde deitar fora a água das azeitonas e dos tremoços, que deveria ser separada do esgoto comum.

“Quem cá está apanha mais frio e chuva”

Tânia Dionísio é das Caldas e comercializa pão na praça há mais de 10 anos. Vende numa roulotte que antes estava ao cimo do tabuleiro e que agora passou para o lado oposto junto ao quiosque. “Acho que a Praça agora está pior! As coberturas das barracas são más, pois quem cá está apanha mais frio e chuva”, referiu a vendedora, acrescentando que a única coisa boa da intervenção de há quatro anos foi o tabuleiro ter ficado direito e sem buracos.
Tânia Dionísio considera ainda que o local do mercado não podia ser melhor. “Estamos bem localizados, mas acho que não há boas condições para quem compra e quem vende”, rematou.

“Se vivemos disto, temos que vir todos os dias”

Há dois anos que Carlos Galvão e a esposa vêm diariamente da Sancheira Pequena à praça para vender os seus produtos hortícolas. O também produtor reconhece que sábado e domingo são os melhores dias de venda, apesar de nesta altura do ano “todos os dias serem muito fracos”, devido às baixas temperaturas que não convidam as pessoas a ir à praça e também à concorrência cada vez maior das grandes superfícies comerciais.
Em relação às condições da praça, Carlos Galvão considera que, “bom só o piso e as bancas, os toldos não favorecem em nada”. O vendedor reconhece que nem sempre o que se pode modificar é o melhor para o local porque se um toldo grande beneficiava os vendedores, e até consumidores, por outro lado tinha impacto em termos paisagísticos. “Se a praça tivesse uma cobertura, ou fosse fechada, já não seria única no país e são estas características que a fazem diferente de todas as outras”, disse à Gazeta das Caldas.
Apesar das dificuldades, garante que vai continuar a vender naquele local. “Se vivemos disto, temos que vir todos os dias”, concluiu.

Atendimento personalizado

Maria Rosinda Leitão é da Amoreira de Óbidos e frequenta a Praça da Fruta quase todos os dias. Diz que gosta do mercado “tal como esta está” e vai lá “nem que seja para levar um repolho!”.
Por seu lado, Ana Rita de Jesus contou que é cliente regular da Praça da Fruta há dois anos, altura em que veio viver para as Caldas. A consumidora prefere ir à Praça do que a uma grande superfície, pois poupa na carteira e os produtos têm mais qualidade. “Tenho atendimento personalizado e ganha-se afecto pelos vendedores”, referiu.
Ana Rita de Jesus prefere comprar directamente ao produtor e como é a favor da sustentabilidade e até traz os próprios sacos. Terminada a formação em Gestão de Produção de Pasteleira, Ana Rita vai trabalhar em Madrid e garante que vai sentir falta deste mercado. “Faz parte das Caldas da Rainha… é este colorido sempre durante a manhã”, conclui.

Os novos produtos da Praça

Começou a vender sumos naturais na Praça da Fruta desde Abril e “está a correr muito bem”. Clara Lopes veio de Lisboa para as Caldas há dois anos e começou a procurar casa nas Caldas. Quando começou a vender, nos primeiros dias, “não foi fácil” pois as pessoas não estavam habituadas. Mas, durante o Verão “foi mesmo muito bom!”, conta à Gazeta das Caldas.
Na barraca da Clara Lopes há uma lista de sugestões para misturas de sumos (frutas e legumes). “As pessoas podem propor a sua própria mistura e há muitos estrangeiros nas Caldas que nos deixam as suas sugestões”, referiu a vendedora. Para Clara Lopes, as condições “não são as melhores, pois os toldos não são fechados e quando chove estraga as máquinas de fazer sumos”.
No Verão esteve todos os dias na praça mas, agora em Janeiro, passou a ir apenas três dias por semana. “Enquanto o tempo estiver bom vamos aproveitando”, contou a vendedora que, além dos sumos naturais, vende também compotas caseiras. Propõe misturas como framboesa com tomilho, ameixa e Vinho do Porto, pera com chá ou chocolate até batata-doce com amêndoa. “Até já fornecemos compota à Gramas com Sabores para juntarem às suas propostas”, afirmou Clara Lopes, especificando que vende sobretudo aos estrangeiros que vivem na região.
Os copos de plástico que começaram por utilizar para vender os sumos naturais foram depois substituídos por pequenas garrafas de vidro, por preocupação ambiental dos vendedores, e a resposta dos clientes foi muito positiva. “Levam os sumos para suas casas e depois devolvem a garrafa, que é desinfectada e de novo cheia com sumo natural para outro consumidor”, explica Clara Lopes, que também já recebe frascos de composta.
“No Verão não há dúvida de que isto mexe! E não pode morrer pois a Praça faz parte das Caldas!”, rematou a vendedora.
Há também quem escolha a praça para comercializar os seus bolos e produtos alimentares, cerâmica, sabonetes artesanais e uma série de outros bens, que se adaptam à procura dos novos clientes.