Oeste Lusitano atraiu milhares de pessoas ao Parque D. Carlos I

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Apresentação de um poldro pelo caldense Rodrigo Gomes

O Parque D. Carlos I nas Caldas da Rainha recebeu no passado fim-de-semana a segunda edição do Oeste Lusitano – Feira Regional do Cavalo Lusitano do Oeste. Apesar do espaço mais reduzido em relação ao ano passado, o evento teve lugar numa zona mais central do parque e com melhores condições para a apresentação, atraindo àquele espaço milhares de visitantes no conjunto dos três dias.

Jorge Magalhães, presidente da direcção da Associação de Criadores de Puro Sangue Lusitano do Oeste (ACPSLO) disse à Gazeta das Caldas ter ficado um pouco assustado no início em relação ao espaço colocado à disposição da Feira, mas a nova localização acabou por resultar bastante bem.
O senão foi a redução do espaço de exposição, o que retirou mais pequenos criadores do certame, o que numa terceira edição obrigará ao alargamento do espaço para as boxes.
No entanto, a mudança era imprescindível para aumentar a qualidade da Feira. “Não podíamos continuar na zona do parque de merendas porque o espaço para o picadeiro era muito limitado”, aponta Jorge Magalhães.
O aumento do espaço do picadeiro permitiu não só melhorar as condições para as apresentações dos cavalos, como trazer competição à feira ao nível da equitação de trabalho e modelos de andamento.
O espaço mais pequeno também permitiu juntar mais as pessoas. “Tendo em conta que o que queríamos era ter uma feira de família que mostrasse a nossa ruralidade, neste espaço isso foi plenamente conseguido, ficou um espaço mais acolhedor, a moldura humana mais visível e as pessoas sentiram-se mais em casa”, considera o presidente da associação.
A qualidade da feira também subiu, quer no que ao cavalo lusitano diz respeito, quer em relação aos cavaleiros presentes. “Tivemos aqui dois poldros de dois anos que considero dos melhores que tenho visto ao nível do país e em termos de cavaleiros tivemos Miguel da Fonseca, que foi Campeão da Europa de equitação do trabalho três vezes, e Eduardo Almeida, actual Campeão Nacional”, refere Jorge Magalhães.
Este é um trabalho que não é de agora, já vinha a ser realizado no Oeste antes, mas que pouco mais era divulgado para além das grandes feiras nacionais. Com a congregação dos diversos criadores do Oeste numa só associação e a criação desta mostra anual, Jorge Magalhães acredita que se está a criar uma marca própria. “A ideia é essa, o cavalo deixar de ser só do Ribatejo, ou do Alentejo, e passar a ser também do Oeste”, diz.
Enquanto pai da jovem criadora Joana Magalhães, trineta de Vitorino Froes de apenas 11 anos, para Jorge Magalhães “como criador isto para mim é uma alegria, porque grande parte dos que estamos aqui somos pequenos criadores que gostamos do cavalo e temos três, quatro animais em casa”. Jorge Magalhães conta que a filha é a grande responsável por ter cavalos, “a paixão é basicamente dela, é ela que trabalha os cavalos, que os tosquia, que os limpa, obviamente que com a minha ajuda, mas isto também é uma forma de fazer com que as nossas crianças deixem um bocadinho a vida sedentária porque existe uma vida engraçada no mundo rural”.

Muitos visitantes mas a crise sentiu-se

O Oeste Lusitano teve um orçamento de 42 mil euros, que a associação teve problemas em conseguir colmatar, em parte pela falta de apoios financeiros, que se cingiram à Câmara Municipal das Caldas da Rainha, e à dificuldade para obter receitas extra.
Por opção própria, gerada pela dificuldade em conseguir patrocínios, os patrocinadores contribuíram em géneros, pelo que foram os próprios associados da ACPSLO que acabaram por investir para colocar a feira de pé. “Obviamente têm retorno, mas o que oferecem à população é de longe superior ao retorno que têm, incluindo a Câmara que tem sido castigada por este evento”, salienta Jorge Magalhães.
A organização chegou a colocar a hipótese de cobrar um euro pela entrada, ideia que foi abandonada pelas dificuldades logísticas que isso apresentava, dado o parque ser aberto e ter inúmeras entradas.
Não será, no entanto, esta dificuldade que vai fazer a ACPSLO desistir de futuras edições do Oeste Lusitano, “queremos é sensibilizar as pessoas para que no próximo ano haja uma maior empatia das empresas do Oeste”, explica, e o âmbito da própria feira poderá também ser alargado, procurando envolver também a indústria cerâmica e os produtores de fruta, carne e leite.
A crise notou-se também na zona de restauração, apesar do espaço estar bastante cheio durante as tardes, “à hora das refeições desapareceu toda a gente”, notou.
Associação tem até excedido os propósitos
Com pouco mais de um ano de idade, o presidente da direcção acredita que a ACPSLO tem não só atingido os seus objectivos, tem-nos mesmo excedido, conseguindo congregar os criadores do Oeste e criado sinergias com outras valências da região “para construir um Oeste melhor”.
Exemplo disso foi a recente visita ao Oeste de um grupo daqueles que foram considerados os 16 melhores foto jornalistas do mundo, que estiveram 30 dias em Portugal, dois dos quais no Oeste por iniciativa da Associação.
Durante esses dois dias os fotógrafos recolheram imagens na Lagoa de Óbidos, no castelo de Óbidos, no Parque D. Carlos I, na praia do Rio Cortiço, na Tapada de Mafra, e a associação conseguiu ainda autorização para fotografar no Palácio da Pena em Sintra com cavalos.
Desta iniciativa resultou já um documentário adquirido por uma das maiores cadeias de televisão dos Estados Unidos, “o que será uma excelente propaganda para o turismo no Oeste”, acredita Jorge Magalhães.
A associação tem, de resto, trabalhado bastante esta vertente do turismo, procurando promover sobretudo o cavalo, “mas neste contexto de divulgação de tudo o que Oeste tem para oferecer”, concluiu.

Testemunhos dos criadores

Anne Langan – Emergosol (Torres Vedras)
A Emergosol, uma exploração agrícola em Torres Vedras também criadora de cavalos Puro Sangue Lusitano esteve presente pelo segundo ano consecutivo no Oeste Lusitano. Anne Langan, fundadora da empresa e uma das suas sócias destaca a atmosfera “muito gira e as pessoas muito simpáticas” à volta do certame. “O espaço está melhor que no ano passado, especialmente o picadeiro que permite trabalhar melhor os cavalos, espero que no próximo ano a feira possa ocupar todo o espaço do parque”, afirmou à Gazeta das Caldas.
Anne Langan fez um balanço positivo da participação na feira, “não parámos durante todo o fim-de-semana”, sublinhou, acrescentando terem efectuado inúmeros contactos com pessoas interessadas nos cavalos, inclusivamente pessoas estrangeiras.

Luís da Fonseca – Coudelaria Pimentel da Fonseca (Bombarral)

Sócio da ACPSLO, Luís Pimentel da Fonseca, do Bombarral, destaca na edição deste ano a mudança da localização para uma zona mais central do parque e as melhorias feitas no picadeiro, num evento que, considera, conseguiu superar em termos de qualidade a feira do ano passado, “o que não era fácil”, considerou. “Foi uma feira com nível, espaços bem arranjados e os cavalos expostos são de qualidade”, notou.
Luís Pimentel da Fonseca acredita que a feira está definitivamente lançada e tem pernas para andar, no entanto acredita que é necessário maior apoio das entidades locais para que o evento possa crescer ainda mais. “Foi preciso recusar inscrições por falta de espaço e havia também interesse de produtores agrícolas em vir mostrar os seus produtos, associando-os ao cavalo”, apontou o criador.

Rui Tiago Recto – APSL
Rui Tiago Recto, da Associação Portuguesa de Criadores de Cavalo Puro Sangue Lusitano (APSL), fez um balanço positivo da feira. “É uma feira pequena mas com condições para crescer, assim haja disposição como tem havido de todos os intervenientes”, destaca.
Um dos pontos fortes é “o espaço fantástico”, nota, e os cavalos apresentados pelos criadores do Oeste “são bons exemplares da raça e com margem para que sejam ainda melhores nos próximos anos”. Rui Tiago Recto também dá nota positiva aos espectáculos e aos concursos realizados ao longo dos três dias.
Para o representante da APSL, o puro sangue Lusitano precisa tanto das grandes feiras como destes eventos mais pequenos “para se dar a conhecer cada vez mais e não se tornar uma disciplina elitista”.

Rodrigo Gomes – Coudelaria Casa Gomes (Caldas da Rainha)
Membro do Conselho Fiscal da ACPSLO e criador, Rodrigo Gomes tem dois olhares sobre o certame, o de organizador e o de expositor, mas ambos são positivos. “A feira foi melhor em todos os aspectos que no ano passado, é esse o espírito, melhorar nem que seja um bocadinho a cada ano, e todas as pessoas dizerem que foi um sucesso e que está muito bem conseguido, é muito gratificante para nós”. Enquanto membro da organização, Rodrigo Gomes salientou o trabalho voluntário das cerca de 20 pessoas que ajudaram a colocar de pé o Oeste Lusitano, “todos têm as suas profissões e de forma gratuita e de boa vontade participaram e empenharam-se no trabalho desta associação”. E sublinhou também a comparência dos criadores, para quem a feira é realizada. As dificuldades para obter as verbas necessárias para a realização deste evento são o dado mais negativo, pelo que apela à colaboração de todos para que o evento não morra.