Os YouTubers são os ídolos das novas gerações

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Os YouTubers são os ídolos das novas gerações - Gazeta das Caldas
Tomás Dias é fã do Tiagovski - Beatriz Raposo
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Há 10 anos os actores dos Morangos com Açúcar eram os ídolos de uma geração que vivia colada à televisão e não perdia um episódio desta série juvenil. Hoje, é diferente. Os jovens que já nasceram na era digital preferem o YouTube ao grande ecrã e acompanham diariamente os vídeos publicados pelos YouTubers, esses profissionais do YouTube, na sua maioria jovens também, que descobriram o poder que um vídeo tem na Internet. 

Em 2003 arrancava a primeira temporada dos Morangos com Açúcar. Era o início de uma série que iria marcar uma geração. É impossível esquecer o nome das principais personagens – Pipo, Joana, Ana Luísa, Simão, Sapinho – o ambiente do Colégio da Barra, e toda a aquela onda que se vivia à volta da telenovela. Os jovens corriam atrás dos posters dos actores, ficavam histéricos com os concertos dos D’ZRT e viam naqueles adolescentes um exemplo. Eram os seus ídolos e só queriam ser como eles: ir ao mesmo tipo de festas, vestir-se com as mesmas roupas, usar o mesmo vocabulário, ter o mesmo espírito rebelde. Se na altura existissem redes sociais, certamente os fãs seriam os primeiros a seguir o elenco no Facebook ou Instagram.
Mas e agora, 15 anos depois, do que é a juventude gosta? Os Morangos com Açúcar ficaram para trás e a televisão também. Os jovens preferem o YouTube e o telemóvel. Os seus novos heróis são os YouTubers – pessoas que têm um canal no YouTube e fazem desta plataforma a sua fonte de rendimento – que na maioria das vezes também são jovens e os tratam por tu nos vídeos que publicam. Usam a mesma linguagem.
Mas há mais, porque os YouTubers surgem aos olhos do seu público como jovens de sucesso, com dinheiro e fama que são alcançados com relativa facilidade. Há cerca de um ano, alguns dos YouTubers mais conhecidos do país juntaram-se numa mansão na margem sul em Lisboa e o fenómeno cresceu: passaram a produzir conteúdos em conjunto, a promoverem-se uns aos outros e a partilhar o seu dia-a-dia numa casa milionária. Para os fãs, a notícia foi bombástica, pois significou que os seus ídolos estavam juntos diariamente.
Junto dos jovens, YouTuber é a nova profissão (ou a profissão do futuro) que muitos ambicionam ter. E quais os requisitos? Acima de tudo, ser-se criativo e espontâneo, embora também seja necessário saber editar vídeos e, na maioria dos casos, saber trabalhar com câmaras de filmar e algum material de estúdio. Mas não é preciso saber falar português impecavelmente, nem ter uma imagem de TV. Para os mais curiosos, há já cursos disponíveis que ensinam como ser YouTuber.
As primeiras reportagens que saíram sobre os YouTubers davam conta do fenómeno na perspectiva dos criadores dos conteúdos, mas recentemente o ângulo tem-se alargado ao universo dos educadores e das escolas. Até que ponto os pais sabem o que os filhos andam a ver na Internet? Serão os vídeos próprios para crianças de 10 anos, quando se sabe que há YouTubers que não medem a linguagem utilizada? E em que medida os jovens imitam aquilo que vêem nos vídeos? São muitas as questões que se têm levantado à volta do impacto que o YouTube tem junto das novas gerações e que problematizam o fenómeno.

“O YOUTUBE É A PLATAFORMA DA MINHA GERAÇÃO”

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Tomás Dias tem 13 anos e foi há dois que descobriu o YouTube. Wuant (português com quase três milhões de subscritores no seu canal) foi o primeiro YouTuber que seguiu. O Windoh e o Tiagovsky e os brasileiros Filipe Neto e Vagabbss também fazem parte dos seus favoritos. “Gosto de acompanhar vídeos sobre jogos, vlogs [diários em vídeo] e YouTubers que fazem partidas e desafios”, diz o adolescente à Gazeta das Caldas, realçando que embora subscreva vários canais, não tem activadas as notificações dos vídeos. “Gosto de ser eu a escolher o que quero ver quando me apetece, é chato estar sempre a receber notificações no telemóvel”, explica Tomás Dias, acrescentando que um bom vídeo no YouTube é aquele que tem qualidade gráfica e um conteúdo divertido, criativo e interactivo.
Para o jovem caldense, o YouTube é a plataforma da sua geração. Todos os seus amigos seguem YouTubers e passam horas com os olhos postos no telemóvel a acompanhar os vídeos que estes publicam quase diariamente. “Sou amigo de alguns deles, os que têm menos seguidores e conseguem responder aos comentários dos fãs. Sinto que estou próximo deles”, afirma Tomás Dias, que gostava de um dia ter oportunidade de conhecer pessoalmente YouTubers como o Wuant ou o Windoh “para perceber se na realidade são tão simpáticos, engraçados e espontâneos como aparecem nos vídeos”.

“A TELEVISÃO É LIMITADA COMPARADA AO YOUTUBE”

À saída da Escola Secundária Raul Proença encontramos Rita Branco, Luís Santos e Margarida Matias. São amigos e têm 15 anos. Estão entretidos a ver um vídeo no YouTube, por isso encontram-se mesmo a jeito para uma pequena entrevista à Gazeta. “Foi a minha irmã que me mostrou o YouTube, inicialmente só para pesquisar e ouvir músicas. Mas quando tinha 11 anos comecei a usá-lo para ver vídeos de entretenimento”, conta Rita Branco, realçando que o YouTube é um mundo de possibilidades comparado à televisão. “Na televisão estamos limitados à programação e não há interactividade, no YouTube há sempre conteúdos novos e podemos escolher o que ver quando nos apetece”, explica a jovem, que acompanha grupos de YouTubers que fazem ‘desafios’ (comer uma lata de salsichas no menor tempo possível, por exemplo) e uma família norte americana – The Ace Family – que utiliza esta plataforma online para partilhar o seu dia-a-dia.
Já a amiga Margarida Matias é fã dos tutoriais de maquilhagem dos canais de James Charles e Nikkie. “Aprendo muito a ver os vídeos e ao mesmo tempo identifico-me com aquelas pessoas, isso é cativante”, refere, admitindo que está no YouTube todos os dias, muito mais tempo que em frente à televisão. O mesmo confessa Luís Santos, que por acaso descobriu os britânicos The Sideman, que neste momento são o seu grupo de YouTubers favorito.
Os gamers (YouTubers de videojogos) foram os primeiros a explorar o YouTube, mas actualmente a variedade de conteúdos é tão grande quanto a originalidade dos seus criadores. Há deles que se dedicam ao humor, à beleza, ao fitness, mas também há vídeos de partidas e maquilhagem ou simplesmente sobre o dia-a-dia dos YouTubers. Catarina Filipe é caldense (já foi entrevistada duas vezes pela Gazeta das Caldas) e é actualmente uma das YouTubers mais famosas do país, com 190 mil subscritores. O português com mais fãs tem no YouTube é o jovem SirKazzio, com cinco milhões de seguidores, 967 milhões de visualizações e receitas anuais superiores a 400 mil euros.

Os YouTubers são os ídolos das novas gerações - Beatriz Raposo
Margarida Matias, Rita Branco e Luís Santos têm 15 anos e passam muitas horas a ver vídeos do YouTube no telemóvel – Beatriz Raposo
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