Plataforma de Apoio aos Refugiados defende modelo de integração comunitária

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2-UNICEF-MK-2015-Tomislav-Georgiev-1024x681Rui Marques, presidente do Instituto Padre António Vieira, esteve nas Caldas no passado dia 12 de Novembro, para apresentar a PAR – Plataforma de Apoio aos Refugiados, que agrega já 270 organizações nacionais. Este é actualmente o único programa que existe estruturado no país para acolher e integrar refugiados.
“Vemos, ouvimos e lemos. Não podemos ignorar”. Este o lema da plataforma que assenta numa solidariedade de proximidade, com a existência de instituições anfitriãs por todo o país, em que os seus voluntários dessa comunidade fazem uma recolha de donativos focada nas necessidades de quem vão acolher.

Na semana passada já havia uma centena de instituições, distribuídas por todo o país, com capacidade para acolher 620 pessoas. A informação foi dada nas Caldas por Rui Marques, presidente da PAR, a plataforma criada em finais de Agosto  por 30 organizações e que agora já conta com 270, entre entidades do terceiro sector, autarquias, instituições do ensino superior, fundações e empresas.
Estas organizações da sociedade civil reunidas na PAR desenvolvem um modelo de acolhimento de base comunitária, em que uma instituição anfitriã assume a responsabilidade de organizar o apoio a uma família de refugiados. E tem que dar resposta a seis objectivos: o alojamento autónomo, a alimentação e vestuário enquanto a família não for autónoma, apoio no acesso das crianças à educação, e na procura de e na aprendizagem do português.
“Baseamo-nos no principio da igualdade pois estas pessoas são recebidas e tratadas como nossas convidadas, com os mesmos direitos e limitações que os portugueses”, disse Rui Marques.
A plataforma criou também um secretariado técnico que apoia todas as instituições anfitriãs. Está em curso um programa de formação para 750 pessoas que se inscreveram e estão mais umas largas centenas à espera para se prepararem para acolher bem. “Foi um programa estruturado sem que houvesse dinheiro de Bruxelas ou apoio do Estado, foram as pessoas que disseram que, com os seus recursos, querem ajudar”, explicou o responsável.
A PAR conta ainda com o apoio do IEFP para o reconhecimento e validação de competências dos refugiados.
Rui Marques destaca a solidariedade dos portugueses que, sempre que são chamados a ajudar uma causa, fazem-no “de forma extraordinária”, dando como exemplo o acolhimento dos retornados das ex-colónias, no pós 25 de Abril de 1974. “O que Portugal fez nessa altura com os retornados quereria dizer, proporcionalmente, à Europa ser capaz de acolher 50 milhões de pessoas num ano”, exemplificou.
A guerra na Síria começou há cerca de quatro anos e actualmente na Turquia estão 2,2 milhões de refugiados desse país. Mas, o “país da vergonha” para a Europa é, na sua opinião, o Líbano, o pequeno país de quatro milhões de habitantes em que 1,5 milhões são refugiados. “Um em cada três habitantes é um refugiado”, disse, lembrando que foi pedido aos libaneses que acolhessem os seus inimigos pois durante vários anos o regime sírio invadiu e incentivou movimentos terroristas naquele país.
Para Rui Marques o problema para a Europa não é o numero de refugiados, mas a “vontade, determinação e o sentido das comunidades em termos de acolhimento”, disse, acrescentando que os países estão a afastar-se dos valores solidários iniciais do projecto europeu. Referindo-se a Portugal destacou que os 4.500 refugiados previstos para acolhimento dá uma média de 16 refugiados por concelho e realçou que todos eles passam por um crivo das autoridades europeias e nacionais.

Caldas prepara duas residências

Caldas da Rainha já mostrou disponibilidade para acolher 10 famílias, que poderão adoptar a metodologia desta plataforma.
De acordo com a vereadora Maria da Conceição Pereira, estão a ser preparadas duas residências em locais diferentes da cidade para acolher duas famílias. “Estamos disponíveis, em caso de necessidade, para alugar outros espaços na cidade ou nas freguesias, de acordo com o mais acertado com as famílias que recebermos”, disse a autarca, acrescentando que estão a fazer um levantamento das necessidades em conjunto com as instituições e depois chamarão a sociedade civil, que já se mostrou disponível a ajudar.
Também o Concelho Empresarial do Oeste – CEO (que congrega 10 associações) está disponível para ajudar. A sua presidente, Ana Maria Pacheco, informou que há abertura por parte dos empresários em colaborar, mas que é preciso saber mais sobre quem vem para a região. “Se na altura em que estão a tratar dos papéis  [os refugiados] disserem logo as suas qualificações podemos ir acelerando logo a possível resposta ao nível de trabalho”, disse a também presidente da AIRO.

Fátima Ferreira
fferreira@gazetadascaldas.pt