Uma obra que é de todos excepto do Estado. Foi inaugurado no domingo, dia 12 de Novembro, o lar de idosos da Associação para o Desenvolvimento Social da Freguesia de Alvorninha (ADSFA), um equipamento que custou mais de um milhão de euros e que já era uma vontade antiga desta instituição. Concretizar este sonho só foi possível graças a um empréstimo bancário de 700 mil euros, aos apoios da Câmara da Caldas (400 mil euros), da Junta de Freguesia de Alvorninha (30 mil euros) e também aos donativos feitos pela população (mais de 24 mil euros).
Resumindo e concluindo, só mesmo a Administração Central é que não comparticipou este equipamento, que está agora à espera de se poder candidatar aos acordos de cooperação com a Segurança Social.
É difícil quantificar quantas pessoas estiveram presentes na inauguração do lar de Alvorninha. Não será exagerado dizer centenas. Prova disso é que assim que abriram os portões para a população entrar no edifício – os discursos oficiais decorreram à “porta fechada”, embora quem estivesse do outro lado do muro conseguisse ouvir as entidades oficiais – a circulação pelos corredores do lar ficou apertada. Famílias inteiras (dos mais velhos aos mais novos) quiseram conhecer a nova valência da ADSFA, que já dispunha dos serviços de Centro de Dia e Apoio Domiciliário. A população de Alvorninha deslocou-se em peso ao lar, fruto também dos muitos donativos que fez nos últimos tempos para ver nascer esta obra. Ao todo, mais de 24 mil euros.
O novo equipamento localiza-se no centro da localidade, num terreno de 10 mil metros quadrados (doado pelo município), tem 18 quartos com capacidade para 34 utentes e conta com vários espaços apadrinhados devidamente identificados. Isto porque no orçamento inicial não estavam previstos os 100 mil euros necessários para mobilar os quartos e equipar a cozinha e a lavandaria (só um quarto individual ronda os 740 euros, por exemplo). Por isso mesmo, a ADSFA contou com a contribuição de 14 empresas e entidades (a praxe solidária da ESAD também ajudou) que ao todo doaram cerca de 35 mil euros.
“AGORA SERÁ AINDA MAIS DIFÍCIL”
Foram vários os representantes oficiais que discursaram na cerimónia de inauguração. Depois do padre Alfredo Plácido ter abençoado a obra, Arcelino Martins, presidente da ADSFA, deu conta que “este foi um processo longo e com avanços e recuos” pois em 2009 já tinha existido um projecto do lar candidato a fundos comunitários mas que não foi aprovado.
“Mas se até aqui não foi fácil, provavelmente vai passar a ser ainda mais difícil”, disse o responsável, referindo-se essencialmente ao pagamento do empréstimo de 700 mil euros à Caixa de Crédito Agrícola em 16 anos. Já Virgílio dos Santos, presidente da assembleia da associação, disse que espera que o poder central não esqueça as suas responsabilidades, 17 e realçou que o Lar de Idosos de Alvorninha é uma obra de todos. “Fernando Pessoa disse ‘Deus quer, o homem sonha e a obra nasce’, eu atrevo-me a dizer ‘A freguesia quis, as pessoas sonharam e a obra está pronta’”, acrescentou.
No seu primeiro discurso oficial após as eleições autárquicas, José Henriques, o novo presidente da Junta de Alvorninha, salientou o facto deste equipamento ser uma conquista do mandato do anterior presidente Avelino Custódio. “Ele é que deveria estar aqui a falar, não eu, tanto que cheguei a telefonar-lhe para que fosse ele a discursar”, frisou José Henriques, que também elogiou a adesão massiva da população à inauguração. “Prova que somos uma freguesia dispersa, mas unida”, disse.
O último a tomar a palavra foi Tinta Ferreira, presidente da Câmara das Caldas, que afirmou que já lá vai o tempo em que se arrumavam os velhotes a um canto: hoje queremos qualidade de vida nos seu período de envelhecimento. “Só que no passado, os lares que se construíram em IPSS foram fruto de comparticipações do Estado ou do acesso a fundos comunitários, isto porque a política social é maioritariamente uma responsabilidade do poder central. O que significa que a Câmara – que comparticipava obras desta natureza em 25% – fez mais do que lhe competia pois apoiou com 35%”, acrescentou Tinta Ferreira, salientando que o munícipio não podia ficar à espera do Governo para uma obra tão necessária.
FALTA COMPARTICIPAÇÃO DA SEGURANÇA SOCIAL
Faltaram as ajudas do Estado no financiamento do lar de Alvorninha e falta agora estabelecer os acordos de cooperação com a Segurança Social. Presente na inauguração, Maria do Céu Mendes, directora do ISS de Leiria, explicou que este ano terminou já o processo de candidaturas à comparticipação social (ao qual a ADSFA não pôde concorrer em Maio porque ainda não tinha concluído a obra), mas disse que espera que o possa fazer em 2018.
Actualmente, o lar de Alvorninha está a praticar mensalidades semelhantes àquelas que são praticadas em IPSS’s que têm comparticipação social, mas a longo-prazo esta situação será insustentável. “A verdade é que não podemos pedir o preço que os privados pedem, mensalidades acimas dos 1000 euros, porque nesta freguesia as reformas são muito baixas”, explicou Susana Costa, directora técnica da associação, salientando que a sua equipa não vai baixar os braços e irá continuar a promover iniciativas para angariar o máximo de fundos.
A responsável afirmou que ainda não estão seleccionados todos os utentes que integrarão o lar, mas revelou que está a ser dada prioridade àqueles que já eram utentes nas valências de Centro de Dia/Apoio ao Domicílio, bem como aos residentes na freguesia de Alvorninha.
“Temos apenas duas pessoas seleccionadas que não são da freguesia e que foram escolhidas porque fizeram a sua inscrição há mais tempo”, acrescentou Susana Costa, realçando que embora o lar só tenha capacidade para 34 idosos existe já uma lista com mais de 60 inscrições.
A um ano de celebrar um quarto de século, a Associação para o Desenvolvimento Social de Alvorninha ficará agora com perto de 110 utentes (34 no Lar, 55 no Apoio Domiciliário e 22 no Centro de Dia). Esta IPSS é ainda responsável pelo transporte de crianças e pela confecção das refeições escolares no ensino pré-escolar. Emprega ao todo 25 funcionários, estimando-se que este número venha aumentar para 40 com a abertura do lar, que se estima que comece a funcionar em pleno a partir do dia 1 de Dezembro.