Projetos de Orçamento Participativo Jovem sem concretização à vista

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O grupo Teatro da Pessoa ainda não conseguiu “adaptar” e equipar a sua sede, uma proposta vencedora do OPJ de 2018

Dois projetos vencedores do Orçamento Participativo Jovem, propostos por caldenses, não estão a ter o desenvolvimento desejado pelos proponentes, que dizem ser excluídos da concretização

O Teatro da Pessoa concorreu ao Orçamento Participativo de 2018 para criar a sede de trabalho. A ideia era adaptar um espaço no centro da cidade que pudesse albergar as atividades daquele grupo teatral. A futura adequação de um espaço previa que este fosse, em simultâneo, de espetáculos e ensaios e que iria incluir uma biblioteca artística, uma galeria e uma loja solidária. Mas a ideia ainda não passou do plano das intenções.
Ana Sequeira, vice-presidente da associação, fez a licenciatura de Teatro na ESAD e desde 2013 que trabalha com Tânia Leonardo, tendo sido a proponente do projeto que ganhou o Orçamento Participativo Jovem de 2018. Por isso, desde então que tem estado em contacto com responsáveis do Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ), que coordena a concretização dos mesmos.
“Ao longo de dois anos sempre nos foi dito que o projeto iria avançar”, frisa Tânia Leonardo, líder do Teatro da Pessoa, explicando que já tinham encontrado um espaço no centro da cidade e feito as diligências técnicas exigidas para assegurar o avanço do projeto, cuja implementação teve uma verba aprovada de 100 mil euros.
Foram informadas que a implementação do projeto “poderia ser atribuída a uma outra entidade”, mas não sabiam que poderiam ser excluídas, o que acabou por acontecer.
No final de 2020, as responsáveis do Teatro da Pessoa foram informadas que o IPDJ havia encontrado irregularidades nas propostas vencedoras. Foram, também, informadas que o projeto – e sobretudo os objetivos que tinham delineado – iriam ser entregues para execução à Direção Regional de Cultura do Centro (DRCC). A ideia vai, assim, transformar-se na realização de workshops culturais em várias cidades.
Ana Sequeira continua a ser informada sobre o que vai acontecendo e vai sendo chamada para reuniões de trabalho, apesar de o grupo ter sido excluído, enquanto Tânia Leonardo não sabe o que dizer aos pais dos alunos nem a outros grupos de teatro que querem fazer protocolos de colaboração com o grupo de teatro local . “Acaba por ser um processo perverso e muito frustrante… É algo que nos faz perder a esperança no sistema político…”, disse a responsável.
O deputado Hugo Oliveira (PSD) também considera este desfecho “muito estranho”, pois conhece casos noutras zonas do país de adaptações de espaços pre-existentes e de aquisição de material, que se concretizaram. Por outro lado, também conhece outros projetos vencedores de OP “que não saíram do papel”. Como tal, o social-democrata apresentou um requerimento a questionar o ministro da Educação sobre estes processos “não concretizados”. O social-democrata considera, inclusivamente, que no caso do Teatro da Pessoa “é desadequada” a transferência da verba para a implementação do projeto do Teatro da Pessoa para a DRCC. Relembrou ainda que os projetos vencedores foram apresentados publicamente, com pompa e circunstância e aguarda as respostas do ministro, pois “não faz sentido excluir quem propôs o próprio projeto”.

 

Passados meses, o
IPDJ
informou as proponentes que não
farão parte da concretização do projeto

Sustentabilidade à espera
A caldense Filipa Silva, de 30 anos foi uma das vencedoras do OPJovem de 2019, tendo sido a proponente do projeto Portugal ECOntigo. À Gazeta das Caldas, a jovem explicou que esta “seria a maior plataforma portuguesa relacionada com a sustentabilidade do país”.
Filipa Silva queria agregar nesta plataforma digital informação que está dispersa sobre o que está relacionado com a sustentabilidade nas áreas da agricultura e floresta, da energia e da economia e ainda relacionado com as artes e as viagens.
“Iria incluir mapas interativos sobre o que existe nas várias regiões”, contou a proponente, que tem no projeto informação útil sobre a implementação dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, propostos pela ONU. A caldense esteve em várias reuniões, aceitou apresentar a ideia a várias entidades, como o Instituto Camões, a especialistas de várias universidades… mas o ECOntigo continua por se concretizar. “Sucedem-se os reveses e não há meio de se conseguir alavancar o projeto”, lamenta.
Tal como sucede com o caso do Teatro da Pessoa, Filipa Silva também sente enorme frustração. “Empenhei-me muito, dei ao projeto muitas horas de trabalho e, afinal, nada feito”.
As autoras dos projetos que venceram em dois anos consecutivos o OP consideram, aliás, que os processos “são pouco transparentes”.
A Gazeta das Caldas contactou a Instituto Português do Desporto e da Juventude para obter esclarecimentos sobre estes processos, mas não obteve resposta até à hora de fecho desta edição. ■