Três períodos ou dois semestres? Directores das Caldas e de Óbidos dividem-se

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A eventual alteração do calendário escolar não reúne consenso |Bruna

Quando o assunto é a organização do calendário escolar, as opiniões dividem-se. Enquanto os directores dos Agrupamentos de Escolas Rafael Bordalo Pinheiro, Josefa de Óbidos e do Colégio Rainha D. Leonor concordam que o calendário deveria ser revisto e alterado para dois semestres, os directores dos Agrupamentos de Escolas Raul Proença e D. João II são a favor do modelo actual com três períodos.
Gazeta das Caldas procurou saber qual a posição dos dirigentes escolares após a publicação de um estudo de âmbito nacional em que 54% dos directores inquiridos revelou preferir os dois semestres.

“O que pensam os directores e os presidentes de Conselhos Gerais sobre questões pertinentes da escola portuguesa” é como se designa o estudo elaborado pelo professor Alexandre Henriques (autor do blogue ComRegras), cujos resultados foram apresentados no início de Setembro.
Participaram neste inquérito 181 directores e 131 presidentes de conselhos gerais, num total de 312 profissionais.
Uma das questões deste estudo e que tem sido motivo de debate é a possibilidade do calendário escolar ser alterado de três períodos para dois semestres. Isto porque 54% dos directores inquiridos respondeu que concordava com a mudança e apenas 14% disse que o modelo actual “está bem assim”. Os restantes 33% não são a favor da divisão semestral, mas admitiram que o calendário precisa de ser revisto.
Contactados pela Gazeta das Caldas, os directores dos agrupamentos de Escolas Rafael Bordalo Pinheiro, Josefa de Óbidos e do Colégio Rainha D. Leonor afirmaram que defendem um ano lectivo divido em dois.
Um dos principais argumentos de quem aplaude os dois semestres é que os três períodos actuais não têm a mesma duração. Isto porque as interrupções lectivas são determinadas pelo Natal e Páscoa. Sendo o feriado da Páscoa móvel, a duração do último período também varia de ano para ano. O terceiro período é então o mais pequeno, este ano com 40 dias de aulas, enquanto o primeiro e o segundo têm 63 (excluindo os alunos do 9º, 11º e 12º anos que acabam as aulas mais cedo).
Sandra Santos e Raquel Galeão, da direcção pedagógica do Colégio, concordam com este argumento, salientando que “o calendário escolar se encontra desequilibrado” e que “se, por um lado, no terceiro período já se denota algum cansaço por parte dos alunos, também é verdade que este período é muito curto, não havendo tempo suficiente para a consolidação dos conteúdos”.
Esta opinião é partilhada por Artur Oliveira, director do Agrupamento de Escolas Josefa de Óbidos, que diz que em alguns anos se verifica que o terceiro período é demasiado pequeno, “tornando mais difícil a revisão e sistematização doe conhecimentos”. O responsável considera que seria mais confortável, equilibrado e justo que os períodos lectivos tivessem a mesma duração.
Embora João Silva, director do Agrupamento de Escolas Raul Proença, tenha participado no inquérito e votado contra a mudança para os dois semestres, entende que deve ser encontrada uma solução que evite um terceiro período excessivamente curto. “Não sei até que ponto não se devia separar, em certos anos, a interrupção do segundo período das festividades da Páscoa, de modo a evitar-se os constrangimentos associados a uma “Páscoa tardia” no calendário, assegurando-se um número mínimo de semanas para o último período”, afirma.
João Silva acrescenta que modificar o calendário para dois semestres é “andar a gastar energias com experimentalismos”. Na sua opinião, outra questão bem mais urgente seria perceber a dificuldade que as escolas vão sentir com a redução para as 35 horas semanais, nomeadamente ao nível dos assistentes operacionais.

3º PERÍODO: MOTIVAÇÃO OU DESMOTIVAÇÃO?

Outro dos argumentos pró-dois semestres é que no terceiro período se verificam casos de alunos que, tendo consciência que já não têm hipótese de transitar de ano, acabam por faltar mais às aulas, baixar os braços e, nalgumas situações, adoptar maus comportamentos.
Sobre esta questão, Artur Oliveira (Óbidos), disse que “em termos psicológicos, a predisposição para um menor empenho verificar-se-á de forma mais acentuada quando o aluno sente que não irá transitar de ano”, mas que esse tipo de atitude não acontece exclusivamente no terceiro período. Ao mesmo tempo, o absentismo ou os maus comportamentos não são causados apenas por uma possível desmotivação dos estudantes.
Por outro lado, João Silva (Raul Proença) discorda totalmente deste argumento, salientando que “por norma acontece o contrário, pois no último período são muito frequentes as situações de alunos que trabalham de uma forma mais intensa para evitarem a sua retenção”. Na opinião de Jorge Graça, director do Agrupamento de Escolas D. João II, a existência de três períodos possibilita aos alunos mais momentos de avaliação e de reunião dos professores com os encarregados de educação, ou seja, mais oportunidades para corrigir o que poderá estar a correr mal.
Caso o calendário escolar fosse reduzido para dois semestres, os directores da Bordalo Pinheiro e da Josefa de Óbidos concordam que os momentos de avaliação também deveriam ser alterados para dois, enquanto a direcção pedagógica do Colégio não partilha da mesma opinião: “os momentos de avaliação devem ir ao encontro daquilo para que foram criados: a aferição dos conhecimentos dos alunos. Assim, devem ser diversificados para reflectirem, o melhor possível, a evolução dos mesmos”.
Se a organização do ano lectivo passasse a dois semestres, funcionaria à semelhança do que ocorre nas universidades, em que as interrupções lectivas mantêm-se no  Natal, Carnaval e Páscoa, embora por menos uma semana na última pausa. No calendário das faculdades está ainda prevista uma interrupção entre meados de Janeiro e meados de Fevereiro, no caso em que os alunos “passam” aos exames da primeira fase e não necessitam de fazer exame de recurso ou melhoria.