Pouco tempo depois de terem inaugurado as novas instalações, os utentes da Universidade Sénior da Benedita tiveram, no passado dia 23 de Dezembro, mais um motivo para festejar. A instituição lançou o seu primeiro livro: “O Brilho do Crepúsculo”, uma colectânea de poesia e prosa que reúne trabalhos do professor de Literatura, Alfredo Silva, e de alguns alunos.
A presidente daquela universidade, Natália Serrazina, diz que o livro e a casa cheia no seu lançamento a deixam “extremamente feliz” e acredita que este é “o primeiro de muitos” que se hão-de seguir numa instituição “o que será bom para a nossa terra”.
Coube a Alfredo Silva justificar o título do livro. “Recuso-me a olhar para o crepúsculo da vida como uma zona de penumbra e prefiro vê-lo com uma zona de luz”, explicou.
Para o professor, há que reconhecer que o livro da Universidade Sénior da Benedita “não será um best-seller e os seus autores não serão candidatos a um Nobel, mas é importante entender o que está subjacente à sua publicação”. Trata-se da primeira publicação para muitos dos alunos, alguns dos quais novos escritores, outros escritores antigos, mas que nunca tinham dado a conhecer os seus trabalhos.O responsável pela publicação realçou ainda “o grande contributo dos alunos para um projecto de auto-financiamento de que tanto necessita esta instituição”, e deixou a garantia de que “fazer parte deste grupo de amigos é algo que não se explica em palavras, vive-se”, salientando que todos os que se ligarem à universidade, seja de que forma for, só terão a ganhar.
O “Brilho do Crepúsculo” conta com prefácio de Acácio Catarino, o que para Natália Serrazina é “um privilégio”. O sociólogo, e antigo conselheiro do ex-presidente Jorge Sampaio, defendeu que, mais do que uma universidade, no verdadeiro sentido da palavra, as universidades seniores são “verdadeiras universalidades porque aqui cabem todos os saberes”. E entre as muitas virtudes dos seus alunos está o que definiu como “saber não saber”, ou seja “sabermos que não sabemos tudo e que ainda há muito para aprender”, o que leva os mais velhos a estarem “abertos a tudo e a todos”.
Instituições como a Universidade Sénior da Benedita são, na sua opinião, espaços de partilha e de encontro de todos os saberes e das histórias de vida de cada um. Por isso mesmo, Acácio Catarino salientou que a obra agora publicada “é literatura, é testemunho de vida. É até mais que isso – é a própria vida”.
Apresentado numa sala cheia, “O Brilho do Crepúsculo” está agora à venda por cinco euros nas instalações da USB (antigo jardim-de-infância da Benedita) e nalgumas livrarias da vila. Entretanto está já a ser preparado o segundo livro da instituição, que também deverá reunir trabalhos originais dos alunos.
Testemunhos
Teresa Almeida “Escrever é como uma terapia”
A escrita não é uma novidade para Teresa Almeida. Mas aos 68 anos, ainda não tinha nada publicado em livro, com excepção para alguns trabalhos divulgados em jornais regionais nos anos 60. “Eu escrevo desde miúda e para mim escrever é como uma terapia”, garante a autora de alguns dos trabalhos, sobretudo poemas, do livro da Universidade Sénior da Benedita. Teresa Almeida escreve quando está triste, quando está eufórica, quando tem problemas. “Pondo por escrito, sou capaz de objectivar aquilo que quero dizer”, explica.
Agora diz que é com muita alegria que vê os seus trabalhos transformados em livro, “é dar aos outros qualquer coisa que eu tinha, que era só minha e que passa a ser de todos”. Algo que diz ser “um sinal de generosidade, uma afectividade com as outras pessoas, um carinho muito grande”.
Teresa Almeida é aluna da instituição há quatro anos. “Há muita camaradagem, incentiva-nos a ser mais, a viver mais, a abrirmo-nos mais aos outros”, afirma.
Natália Canário “Uma actividade que nos transforma”
Natália Canário, de 69 anos, é também uma estreante na publicação dos seus trabalhos. “Eu sempre adorei poesia, de ler, de escrever, mas apenas escrevia umas coisinhas sem importância nenhuma”, que acabaram por nunca sair da gaveta.
Com a entrada de Alfredo Silva na universidade tudo mudou. O professor de Literatura puxou pelos alunos e “motivou-nos, não só para que continuássemos a escrever o que sentimos, mas também para melhorarmos a composição das quadras, dos versos, das sílabas”, conta Natália Canário.
A escritora faz parte do primeiro grupo de alunos da instituição e aconselha a experiência a toda a gente. “Isto não é uma universidade apenas para ocupar tempos livres, mas é sobretudo uma actividade que nos preenche, que nos transforma até”, garante. Entre as mais-valias destaca “a boa disposição que se encontra aqui, porque somos um grupo muito solidário”.
João Santos “Isto para nós é uma nova vida”
Escritor regular de poesia, sobretudo de quadras soltas à moda de António Aleixo, João Santos tem dois poemas no livro da USB. Mas os seus trabalhos também nunca tinham sido publicados, e por isso o aluno se diz “muito orgulhoso” com esta edição.
Aos 72 anos, João Santos nem pensa parar de aprender e encontrou na instituição beneditense um lugar onde garante que se sente muito bem. “Se não estivesse aqui, para mim seria muito mau, porque me sentia muito monótono”, garante o aluno. João Santos destaca sobretudo o convívio que se cria entre alunos e professores, tudo “pessoas amigas”. “Isto para nós é uma nova vida”, acrescenta. Deixa, por isso, o desafio a que mais gente se junte a este grupo. “Isto para nós é fundamental para fugirmos à rotina do dia-a-dia, nós aqui aliviamos o stress e fazemos coisas, e aprendemos e ensinamos algumas coisas que sabemos. Aqui damos e recebemos”, afirma.
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