Ana Luísa Faro, uma contadora de histórias que se tornou numa autora

0
1242
Gazeta das Caldas
Ana Luísa Faro conta histórias em jardins-de-infância, escolas e bibliotecas
- publicidade -

Ana Luísa Faro dedica-se às histórias. Às dela e às de outros. Leva-as aos jardins-de-infância, às escolas e aos eventos da cidade, onde encarna as suas personagens e conquista miúdos e graúdos pela forma emotiva como os leva pela mão a viver o que se passa noutros universos.
A contadora de histórias é caldense formou-se em Artes Plásticas na ESAD e já editou dois livros. Gazeta das Caldas foi conhecer melhor esta autora e as suas obras onde gente de carne e osso aprende com animais e vice-versa.

A caldense Ana Luísa Faro tem 37 anos e nada a deixa mais feliz do que contar histórias. As dela e as de outros autores. Fá-lo de forma divertida, assumindo por vezes as próprias personagens. De trajes coloridos, rapidamente conquista as plateias, seja nas bibliotecas, nos eventos do Parque ou nos próprios estabelecimentos de ensino onde é frequentemente convidada para contar narrativas.
E de onde vem este gosto? “Já vem de trás”, explicou a caldense, que obteve experiência de palco através da dança (desde os três aos 18 anos) e que incluiu uma passagem pela Casa da Cultura com José Correia e pelo Atelier da Dança e Escola Vocacional de Dança com Vanda Aguiar e Isabel Baptista. Actualmente integra o colectivo XIU (que tem sede nos Silos) com orientação de Joana Carlos, sua irmã.
Entre os 13 e os 16 anos, aprendeu teatro nos Pimpões, com o professor Aníbal Rocha. ”Tive o privilégio de ter um crescimento muito atento a estas formações”, disse à Gazeta das Caldas. Ana Faro licenciou-se em Artes Plásticas ESAD em 2008 e os seus interesses revelaram-se nas áreas da imagem e do vídeo pois “o meu olhar é sempre muito cénico”. Foi no ensino superior que se interessou pelo estudo das personagens e daí até chegar às histórias, foi um instante que dura até hoje.
Entretanto, a caldense tornou-se professora de actividades lúdico-expressivas nas AECs (Actividades Extra-Curriculares) e com toda a sua experiência de representar e de dançar, qualquer narrativa que conta, causa impacto em quem a escuta.
Em 2006 tirou o curso profissional de Audiovisuais na Restart em Lisboa e que lhe foi útil para trabalhar nas luzes de palco dos Pimpões. Mas as histórias continuavam a “chamá-la” pois não cessavam os pedidos para a caldense se deslocar a escolas para se dedicar às narrativas “sempre contadas com muito amor e carinho”, diz.
Em 2015 tinha um conto em rascunho que envolvia um gigante e caracóis. De tanto a contar, Ana Faro decidiu passá-la ao papel. Pediu ilustrações à sua amiga Dulce Nunes, que lecciona na Escola Secundária Raul Proença enquanto Bárbara Anes, foi a responsável pelo design do livro. E assim há dois anos ganhou corpo o Caracócegas, o seu primeiro livro que continua a ser apresentado por todo o lado. No início “não lidava bem em estar na pele da autora”, contou Ana Luísa Faro, que antes de a interpretar deu vida a personagens de histórias como A Menina do Mar, A Princesa Baixinha e O Jardim dos Cravos.
Um gigante amigo de caracóis

Gazeta das Caldas
Estes são os primeiros livros da caldense

No livro “Caracócegas” fala-se sobre um gigante que desconhecia a existência dos caracóis. “Ele só queria comer batatas e como tal passava o dia a lavrar a terra onde as plantava”, disse a autora, acrescentando que a personagem as comia fritas, cozidas ou em puré. Este gigante “é rabugento” e tem como vizinhos os caracóis que, entretanto, se apresentam e alertam-no para o facto deste estar a destruir o seu terreno, situado ao lado do dele, devido ao fervor com que plantava as suas batatas.
A narrativa é simples e o destino do gigante vai tomar novo rumo a partir do momento em que os caracóis decidem que vão mudar a maneira de ser do vizinho. E decidem fazê-lo com um ataque de cócegas ao próprio.
A história é contada por Ana Faro de forma expressiva e aborda o tema “do respeito pelo outro, mesmo quando não o conhecemos”, explicou. O gigante carrancudo acaba por ir visitar todos os dias os caracóis para se poder rir. “A minha escrita é de contador. As rimas são simples, sem grandes jogos poéticos, mas é a simplicidade da história que tem conquistado quem a ouve”, explicou a autora.

- publicidade -

Humanos e animais são personagens

Depois do “Caracócegas”, a autora foi convidada a estar presente na Feira do Cavalo Lusitano, em Maio último, num espaço onde podia contar histórias, no Parque D. Carlos I.. Logo surgiu um novo livro, designado O menino e um cavalo. Nesta história, o animal não gosta de tomar banho. Ele, que tanto gosta de brincar com o menino, faz sempre birra quando chega a hora da higiene. Até que o cavalo vê um conjunto de cavalos selvagens e vai com eles passear. Chegados a um rio, todos brincam na água e “quando dá por ele, até está a gostar da experiência de se molhar e brincar na água com os seus novos amigos”, disse a contadora. Ana Luísa Faro explica que O Menino e um Cavalo fala sobre o facto de que na vida das pessoas “há coisas que cada um tem que descobrir por si”. A história deste livro é representada por Ana Faro, acompanhada pela sua irmã, Joana Carlos, que interpreta com grande êxito o cavalo do conto.
Tal como em relação ao primeiro livro, foram feitos em edição de autor, 100 exemplares, tendo contado com a colaboração da mesma ilustradora e designer. Neste momento, os dois livros estão presentes em várias escolas e bibliotecas do concelho. Entretanto Ana Luísa Faro criou a Fora do Livro, o seu projecto dedicado aos contos e às histórias.

A magia das emoções

“Não sei descrever quantas são as emoções que sinto ao ver os rostos das crianças quando assistem a uma história que eu conto”, disse a autora, acrescentando que “deixo de ser eu e passo a ser as personagens”. E acha que é quase “por magia” que consegue que os seus ouvintes passem de assustados a contentes ou de tristes a intrigados, consoante o desenrolar das narrativas. A contadora nomeia Mia Couto, Marion Zimmer Bradley, Paulo Coelho e Luís Sepúlveda como alguns dos seus autores favoritos e é deste último uma das suas obras favoritas: “O Velho que Lia Romances de Amor”.
Além das aulas nas AECs e das histórias que conta por todo o lado, Ana Luísa Faro ainda se dedica a uma outra dimensão profissional. É também terapeuta de reflexologia (massagens nos pés). “Gosto de ver as pessoas bem”, disse, explicando que após a consulta, as pessoas “sentem-se com os pés nas nuvens”. No que diz respeito às histórias, Ana Luísa Faro quer também contar narrativas a adultos e já está a pensar em juntar histórias dos autores que mais aprecia.

- publicidade -