A Igreja de Nª Sra. do Pópulo vai ser alvo de remodelação. A autarquia, com recurso a fundos comunitários, vai proceder a uma intervenção naquele templo, orçado em 462 mil euros.
A comparticipação da UE cifra-se em 255 mil euros cabendo o restante à Câmara Municipal.

A Igreja de Nª Sra. do Pópulo é o único edifício classificado como Património Nacional das Caldas da Rainha. Por isso, a autarquia, para poder intervir, teve que pedir um parecer à Direcção Geral do Património Cultural, que foi enviado a 31 de Outubro passado. “Ainda aguardamos o parecer daquela entidade”, disse Tinta Ferreira à Gazeta das Caldas. O edil caldense considera que a intervenção poderá ter início no segundo semestre de 2019 e vai ter o prazo de um ano.
No total, a intervenção vai custar 462 mil euros e a comparticipação cifra-se em 255 mil euros, cabendo o restante à Câmara Municipal. “Será uma intervenção minimalista”, disse o autarca, explicando que a intervenção prevista vai incidir em obras de estabilização e de limpeza no edifício. Também vão ser substituídas telhas e serão desentupidas as gárgulas. Está prevista igualmente a reabilitação de algumas pinturas e recuperação do património azulejar, assim como das talhas. A instalação eléctrica será substituída e vários elementos de madeira serão pintados. Os rebocos serão tratados com biocida.
No âmbito destas obras será igualmente intervencionada a Pia Baptismal (que data de 1510-15) e serão tratadas as cantarias. Segundo o autarca, vai também realizar-se um trabalho de dessalinização com um produto próprio.
Tinta Ferreira garantiu que será recuperada a caixa do órgão e vai proceder-se ao fornecimento de um novo mecanismo para o instrumento musical.
De qualquer modo, sendo a Igreja do Pópulo Património Nacional não deveria ser a Câmara a proceder a estes trabalhos, mas sim o Estado a financiar esta intervenção. O mesmo argumento serve para defender a obra. Sendo o único classificado “temos que tratar bem o único edifício que pertence à Rede dos Monumentos Nacionais”, disse o presidente. Estão igualmente previstas limpezas e desinfecções nas estátuas e também nos pavimentos.
Um caldense dedicado ao estudo da história local e da Igreja do Pópulo

Laulo Baptista tem 83 anos. Desde que há 20 anos se reformou da empresa Abílio Flores, passou a investigar temas de numismática e de História nacional e local. Um dos seus interesses é a Igreja de Nª Sra. do Pópulo acerca da qual fez um estudo pormenorizado. Nele descobriu, por exemplo, que há um erro gravado na pedra inscrita que circunda a porta da sacristia. “O que lá está escrito é 1005 em vez de 1500!”, disse o autodidacta à Gazeta das Caldas. A numeração usada naquela inscrição foi criada por D. Manuel em 1520 e pretendia substituir a numeração romana. “Andei alguns anos a estudar este sistema numérico especial”, explicou o caldense, acrescentando que ali se encontra gravado um B que deveria ter um C pequeno por cima para poder valer quinhentos, algo que não se constata. “Os pedreiros que lá andaram, taparam o C e desta forma alterou todo o sistema de datação”, informou o estudioso, que lamenta esta situação.
Laulo Baptista conhece a fundo as biografias da rainha D. Leonor e do seu marido D. João II e também do cardeal Alpedrinha, ligação dos monarcas portugueses a Roma. Estudou a fundo o Compromisso da Rainha, assim como os mais variados factos relativos à fundação da igreja e do hospital caldense.
Na construção da Igreja e Hospital Termal estiveram o arquitecto Mateus Fernandes I, o Velho que tinha anteriormente trabalhado na Mosteiro da Batalha entre 1490 e 1514. A este responsável sucederam os filhos Mateus Fernandes II e Aleixo Henriques.
Laulo Baptista, seguindo as suas pesquisas, levanta a hipótese de Mateus Fernandes I ter trabalhado nas Caldas com o seu genro, o arquitecto francês Diogo Boytac (1460-1527) já que os dois arquitectos dividiram intervenções em Coimbra e na Batalha.
O investigador diz que encontrou artistas ligados às obras da Igreja do Pópulo, como Diogo Castilho (1490-1574) e Reimão de Armas, um saboiano que veio para Portugal em 1533 e que tem a categoria de “pintor e restaurador”. Este autor exerceu funções no Convento de Cristo de Tomar (1535-1536) e na Igreja de Nª Sra. Pópulo (1538).
Questionado sobre quais seriam as principais medidas e reconstruções ligadas a este templo, Laulo Baptista afirmou que gostaria que a porta principal da igreja pudesse “voltar a ser ornamentada tal como foi inicialmente pensada”. O investigador encontrou decorações similares no Palácio da Justiça em Sintra, atribuídas a Diogo Boytac e ainda estabeleceu relações entre as obras que se encontram nas Caldas e Itália. Considera ainda que é urgente intervir na Pia Baptismal, uma peça que data de 1510-15 e que é atribuída aos escultores da pia da Sé Velha de Coimbra. “Encontra-se muito degradada e a necessitar de urgente intervenção”, comentou Laulo Batista, também muito satisfeito por finalmente começarem as obras de recuperação do órgão de tubos desta igreja e que data de 1825.
Este investigador quis ainda salientar a pintura principal desta igreja. Trata-se de um tríptico de pinturas a óleo sobre madeira (que data de 1510-1515). O autodidacta apoia-se nos historiadores Pedro Dias e Vítor Serrão para afirmar que esta obra é uma obra prima da pintura portuguesa e que se constitui como um caso ímpar de solução estética, concebida com perfeita integração no espaço. É atribuída ao Mestre da Lourinhã (desconhece-se o seu nome), mas sabe-se que seria um artista erudito do círculo intelectual da rainha D. Leonor a quem se deve a encomenda da obra. Afirma-se ainda que se trata de um trabalho desenvolvido em parceria entre o Mestre da Lourinhã e Cristovão Figueiredo.
Laulo Baptista tem vindo a compilar informação sobre esta igreja caldense sobre a qual diz que gostaria um dia de escrever um livro.