Assim como as pessoas, também os livros podem ter vidas felizes ou infelizes. Este pequeno livro, que deve ter sido escrito e publicado com todos os cuidados e até mesmo com amor, passou por uma vida muito difícil, em que sabe-se lá que maus tratos sofreu. Folhas soltas, capas resgadas, páginas escritas, teve que ser sujeito a intensos primeiros socorros, que felizmente lhe proporcionou um novo alento de vida.
“O Pintor Malhoa”, com notas biográficas da autoria de Cruz de Magalhães, integrado numa coleção chamada “A Arte Ensinando o Povo”, foi publicado pela “Fabri – Porto”, tendo sido composto e impresso na Tipografia Santos, no Porto. As suas dimensões são: 17,50×13.
Foram vários os escritores que deram a sua contribuição para este livrinho de homenagem, a saber: J. Fontana da Silveira, Vaz Passos, João Dinis e Rocha Peixoto. Como é sabido, José Malhoa nasceu nas Caldas da Rainha, em 28 de Abril de 1855.
Cruz Magalhães dedicou-lhe dois poemas, sendo o segundo o que passamos a transcrever:
“O Melhor Original
Um pintor, que assim produz,
E que até pintando a esmo
Sempre, sempre, nos seduz:
Deve pintar-se a si mesmo.
Talvez não goste, o Malhoa,
Cuidando a quadra uma léria,
Imprópria de tal pessoa,
Pois olhe que a coisa é séria.
Quem tantos originais
Tem legado a Portugal,
Deve deixar-lhe, entre os tais,
O melhor «Original»!
Segundo o seu biógrafo, “Malhoa é um bizarro espírito irrequieto e vibrante, palpita-lhe no peito um nobre coração de artista, que vota à Arte o máximo culto. A sua conversa é atraente, possui uma sólida educação estética. Só desbatizada pela tenacidade, pela fé, e pelo amor com que exerce a sua querida Arte, que tanto o conforta e seduz.
Se cultivasse as letras, daria um distinto crítico humorista; são interessantíssimas as suas impressões íntimas de viagem, que ele escreveu, aos poucos, todas as noites, durante uma larga digressão por todos os países estrangeiros. A franca chalaça portuguesa esfuzia em páginas de boa, consciente e hilariante crítica.
Uma das qualidades que caraterizam o grande pintor, e bem rara é a facilidade extrema, mas natural que possui de encantar qualquer pessoa com quem trate, desde as de mais alta estirpe até às de mais tacanha condição. Há magia naquele olhar, prendimento naquela voz, um não sei quê fascinante naquela figura nervosa!…” Estudo para Nascida das Águas – Pg. 30
Termino com uma promessa: um dia destes vamos conhecer caricaturas assinadas por José Malhoa. Até lá.
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