Escritora Cristina Gálvez esteve em Óbidos a preparar o seu novo livro de contos

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A escritora de Granada tem no conto o seu género de eleição

A escritora Cristina Gálvez, natural de Granada (Espanha), esteve durante um mês em residência em Óbidos para trabalhar no seu novo livro. Autora de “dois livros e meio”, como a própria diz, por ter escrito um em parceria, encontra no conto o seu género de eleição e gosta de escrever sobre o mundo actual e o papel da mulher.
Trata-se da quarta residência literária que é feita na vila classificada pela Unesco e que já contou com a presença de outros escritores espanhóis como Begoña Callejón, Alejandro Pedregosa e Juan Domingo Aguilar.

Desde pequena que Cristina Gálvez gosta de escrever. Recorda-se que aos nove anos escreveu um conto e, desde então, a poesia e as pequenas histórias fazem parte do seu quotidiano a par de um diário, onde colocava as suas ideias, e que lhe deu o “músculo” necessário para depois escrever contos.
Formada em Antropologia, Cristina Gálvez partilhou os estudos das Ciências Sociais em ateliers literários e oficinas criativas com vários autores, onde foi aprendendo as ferramentas para começar a escrever. “Sempre escrevi para mim e só depois de ter participado nas várias oficinas pensei que poderia publicar”, referiu a autora, que escreveu crónicas para revistas e participou em antologias e colecções de contos.
Cristina Galvez conta que o seu primeiro livro, “Afinidades”, foi escrito em conjunto com um amigo que conheceu num atelier de literatura e que foi publicado por uma pequena editora de Granada. “Digo sempre que tenho dois livros e meio publicados”, salienta, referindo-se ao que escreveu em conjunto com Tomás Conde.
Seguiu-se “Monstros Quotidianos” e, mais recentemente “O Verão já não está aqui”. Tratam-se de obras de contos, onde a autora aborda temas do quotidiano, como a insatisfação, as desilusões e alegrias. “Interessa-me muito explorar a ideia da diferença e porque nos sentimos diferentes a dado momento, ou mesmo sozinhos”, contou a escritora à Gazeta das Caldas.
O conto é o seu género de eleição e entre os seus escritores preferidos estão Clarisse Lispector e Júlio Cortázar, este último considerado o mestre o conto e da narrativa curta. Cristina Gálvez destaca ainda como autores de referência o russo Anton Tchekhov e os italianos Natália Ginzburg e Ítalo Calvino.

A vila “inspira e ajuda à criação”

Cristina Gálvez teve conhecimento do projecto das residência literária em Óbidos, e apresentou um projecto e foi seleccionada. “Gosto muito de Portugal, interessa-me a cultura portuguesa e Óbidos pareceu-me um sítio ideal para vir”, conta a escritora que nunca antes tinha feito uma residência literária.
A sua estadia de um mês (entre 2 de Outubro e 3 de Novembro) permitiu-lhe trabalhar num terceiro livro de contos, que ainda não está terminado. “A minha ideia era conseguir um núcleo interessante de histórias e, a partir daí, trabalhar nelas e ver por onde queria ir, completando esse núcleo principal”, explica, acrescentando que se tratam de contos curtos, com várias histórias, uma diversidade de personagens e temas, mas também com uma voz narrativa comum.
“Quanto penso em escrever nunca sei qual será esse elo condutor, mas nesta obra dei-me conta que os personagens femininos estão em destaque”, salienta Cristina Gálvez, que actualmente está “muito interessada em perceber como, no século XXI, diferentes mulheres enfrentam as suas insatisfações”.
Óbidos não é cenário para as suas histórias, mas “inspira e ajuda à criação”, diz a escritora que considera que a vila reúne duas características muito importantes para o trabalho literário: a quietude e a harmonia. Quando chegou, despertou-lhe o interesse o facto de existirem tantas livrarias, “tão bonitas e bem cuidadas, numa terra tão pequena”. A sua estadia em Óbidos coincidiu com Folio, que viu como uma oportunidade para assistir a conferências e conhecer autores.
Durante este mês de residência na vila não falou com muita gente, até porque a língua é um entrave, mas gosta de observar as pessoas e perceber que, por exemplo, há um senhor que se senta sempre à tarde na soleira da porta com uma manta sobre os joelhos e que uma senhora escolhe sempre a sombra do varandim junto à praça. “Estou interessada em descobri-los, pouco a pouco, gosto de observar devido à minha formação”, destaca.
Caracterizando-se como uma escritora “lenta”, Cristina Gálvez trabalha por etapas. Conta terminar o primeiro manuscrito nas próximas semanas e depois vai deixá-lo repousar, para ter alguma distância quando voltar a lê-lo. Em repouso actualmente está um outro projecto, de histórias curtas, todas em torno da mesma personagem, uma menina chamada Vera, e que pretende ser uma reflexão sobre a infância e como nos convertemos em adultos, abordando os papéis da família, sociedade e religião, entre outras.
Cristina Gálvez é antropóloga, trabalha em investigação, é escritora e lecciona ateliers de escrita criativa para jovens e adultos. Venceu vários concursos de contos e micro-contos e colabora com o Centro Andaluz das Letras em diversas actividades de fomento da leitura.
A escritora ganhou a quarta residência literária em Óbidos no âmbito da parceria estabelecida entre Óbidos e Granada, ambas Cidades Criativas da Literatura da UNESCO, que tem como objectivo promover a internacionalização dos seus escritores.
A vila já recebeu, durante os meses de Abril e Outubro de 2018, os escritores Begoña Callejón e Alejandro Pedregosa e, em Abril desde ano, Juan Domingo Aguilar.

Óbidos integra projecto para profissionais literários em início de carreira

Óbidos integra o projecto CELA – Connecting Emerging Literary Artists, cuja primeira reunião de trabalho decorreu em Bruxelas, nos dias 24 e 25 de Outubro. Integrado no Programa Europa Criativa, que permite uma cooperação transnacional intensiva entre escritores, tradutores e profissionais literários em início de carreira.
O projecto proporciona um percurso de quatro anos, entre 2019 e 2023, com formação, instrumentos e uma rede, de modo a possibilitar aos profissionais uma carreira internacional e estabelecer uma prática integrada. Está previsto um programa multinacional de residências, formação e master classes para preparar os participantes para trabalhar no mercado europeu, bem como a sua digressão por vários festivais europeus.
Actualmente as organizações estão em processo de selecção de escritores e tradutores para os próximos quatro anos, tendo cada cidade a possibilidade de inscrever três escritores e nove tradutores. Os interessados em participar poderão contactar a autarquia de Óbidos, até 15 de Novembro, através do e-mail obidosvilaliteraria@cm-obidos.pt ou consultar www.cela-europe.com.
O projecto CELA envolve entidades da Bélgica, República Checa, Itália, Holanda, Polónia, Portugal, Roménia e Sérvia.