Crónicas de Bem Fazer e de Mal Dizer – CXXIV – CANTINHO DA SAUDADE

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Um livro com o título “Cantinho da Saudade”, não é de certeza um livro escrito nos presentes dias; seria considerado um título “piroso”, sem impacto comercial e não respeitando as regras de bem vender com base em títulos atrevidos e por vezes raiando o mau gosto.
“Cantinho da Saudade” é um discreto livro da autoria de Lourenço Rodrigues, publicado sob a chancela da Livraria Popular Francisco Franco, editora que se dedicava com grande relevo à publicação de temas de agricultura e de criação de animais domésticos. Um dos seus grandes sucessos foi um livro que tinha por título “O Manual do Passarinheiro”. Outros tempos; editoras/livrarias que apenas existem na memória.
O autor do “Cantinho da Saudade” faz a evocação de inúmeras personalidades com quem contactou num ambiente da Lisboa boémia. Entre eles, Rafael Bordalo Pinheiro, texto esse que passamos a transcrever:
“Rafael Bordalo Pinheiro – Um nome que dispensa objetivos. Este inexcedível caricaturista, exímio artista da cerâmica e originalíssimo decorador, foi também crítico dramático e figurinista. Para uma revista que há oitenta anos se representou no Teatro Príncipe Real, fez Rafael uma série de caricaturas em tamanho natural, pintadas em tamanho natural, pintadas sobre enormes ventarolas chinesas. O êxito foi extraordinário. O público todas as noites rompia em grandes aplausos e esta novidade constitui o atrativo da revista, que durante largo tempo se conservou em cena.
Também para as revistas “Reino da Bolha” e “Formigas e Formigueiros”. Rafael pintou espirituosos figurinos.
Bordalo Pinheiro, a maior parte das vezes, exprimia em desenhos os seus pensamentos. Há milhares de bonecos que atestam o que dizemos e quem for ao seu museu, atualmente ao fim do Campo Grande, passa ali uma ou duas horas de espiritual enlevo.”
O artigo continua, mas nós ficamos por aqui, após termos tomado conhecimento de mais uma faceta da personalidade bordaliana: o seu trabalho em prol do teatro de cariz popular.

Isabel Castanheira