A história da publicidade ilustrada pode ser vista em Óbidos

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Gazeta das Caldas
Mais de 200 imagens contam a história da publicidade em Portugal na primeira metade do século XX

Mais de 200 imagens de grandes dimensões escolhidas a partir de revistas, jornais e almanaques da colecção do designer Jorge Silva convidam a uma reflexão sobre a ilustração da primeira metade do século XX em Portugal. A exposição “Anúncios Classificados” encontra-se patente até finais de Abril no Museu Abílio, em Óbidos.

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O editor João Paulo Cotrim (ao centro) destacou o trabalho dos ilustradores nos anúncios expostos

“Fora com os sabonetes comuns que estragam a pele, prefira o Legionário”. Esta a frase que acompanha a campanha publicitária a um sabonete, publicada no Século Ilustrado em 1936, e onde se pode ver um soldado, com a farda de Legionário, a ameaçar um outro sabonete, vestido como se de um revolucionário se tratasse. O anúncio a um simples sabonete acaba por ser muito mais do que isso, contendo uma importante mensagem política associada ao Estado Novo.
Este é apenas um dos muitos exemplos de como a publicidade, além da leitura gráfica e estética, também tem associada um cariz sociológico, antropológico e político. A mulher, por exemplo, é muito maltratada na primeira metade do século XX, ao ser apresentada como supérflua e com uma atitude de subserviência em relação ao marido.
E há também anúncios que à luz da época actual são politicamente incorrectos como é o caso de uma senhora a ser salva por dois bombeiros e a dizer que felizmente conseguiu salvar a sua caixa de pó de arroz.
Também os produtos a anunciar vão-se alterando com o tempo. Enquanto que no início do século se anunciavam produtos utilitários e de beleza, a partir da década de 50 começam a ser publicitadas viagens, consumíveis como o café, a cerveja e os congelados, aparelhos televisivos, ou mesmo as botijas de gás.

As 202 imagens que compõem a mostra constituem parte significativa da Biblioteca Silva, uma coleção privada dedicada à Ilustração Portuguesa. O comissário, Jorge Silva, não esteve presente na inauguração (a 3 de Fevereiro), por motivos de agenda, mas fez-se representar pelo amigo e editor, João Paulo Cotrim, que destacou o facto de todos os anúncios expostos serem desenhados por ilustradores. “É a fina flor da ilustração do século XX em Portugal”, disse, dando como exemplo Almada Negreiros, Roberto Nobre e Carlos Carneiro.
O responsável considera que a exposição acaba por ser um retrato informal de um pedaço da vida de Portugal e ressalva que não houve um critério científico na escolha dos anúncios. “Não nos interessava representar com o mesmo número de exemplo as várias épocas, mas fazer um panorâmica deste período e estar atento aos ilustradores”, referiu, acrescentando que a exposição procura mostrar os usos que a ilustração teve neste contexto da publicidade.
A exposição “Anúncios Classificados” estará patente até finais de Abril e será pretexto para duas conversas com especialistas, uma em Março e outra em Abril. Será também lançado um livro e as escolas irão ver a mostra e trabalhar os seus conteúdos.