No Coro da Assembleia da República a política fica de fora e quem manda é a música

0
628

PGC-CoroAR2Depois da dança, foi vez da música dar vida ao Museu José Malhoa, que contou com a presença do Coro da Assembleia da República no passado sábado, dia 14 de Março. Os 18 elementos coordenados pelo maestro Afonso Granjo fizeram encher a sala Malhoa, que aplaudiu de pé as actuações do grupo. O espectáculo surgiu de um convite realizado pela Liga dos Amigos e teve o apoio financeiro da Câmara das Caldas e da Junta de Freguesia de Nossa Senhora do Pópulo, São Gregório e Coto.

Muito próximo do seu 10º aniversário, que ocorre em Maio deste ano, o Grupo Coral da Assembleia da República é constituído por 25 elementos, essencialmente funcionários do parlamento. Actualmente, nenhum deputado faz parte do coro, mas nem sempre foi assim. João Oliveira (PCP) e o ex-deputado Mendes Bota (PSD) são dois exemplos de antigos membros. Além dos funcionários da AR, o coro é também formado por pessoas que trabalham em organismos perto da Assembleia, como a Comissão Nacional de Eleições ou o Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida. Há ainda lugar para uma enfermeira e um agente da PSP.
“O coro nasceu do Grupo Desportivo Parlamentar porque a dada altura achou-se que fazia falta uma actividade cultural deste tipo”, começou por explicar o coralista Nuno Santos Silva à Gazeta das Caldas. Depois, quando encontraram o maestro Afonso Granjo, que os acompanha desde o início, o grupo iniciou uma aprendizagem que partiu praticamente do zero porque a maioria não tinha conhecimentos de música. Agora, com dois ensaios por semana, já sabem ler pautas e cantam em diversas línguas, desde o português e o inglês, ao espanhol, alemão, francês, russo, italiano e mesmo norueguês.
Dentro do coro as rivalidades e hierarquias políticas ficam de fora, comentou a coralista Maria do Rosário Tavares, que esclarece que um dos objectivos da actividade é precisamente “o melhoramento da rotina profissional porque permite que as pessoas se conheçam fora da rigidez da Assembleia e do trabalho parlamentar”. Em “dias difíceis”, continuou Maria, é o ânimo e a terapia do coro que a relaxam. Também o maestro Afonso Granjo sublinhou como só existe uma hierarquia nos ensaios: “uma única coisa que está acima de todos, que é a própria música”.
Apesar do espectáculo ter hora marcada para as 17h30, na meia hora antes já se formava uma fila para assistir à actuação do coro. Alexandre Quadrio, espectador que estava sentado na última fila, afirmou ter sido “um belíssimo coro”, mas não deixou de apontar que “foi pena não actuarem mais tempo porque toda a assistência ficaria para ouvir”. Salientou igualmente as boas condições sonoras da sala, que “infelizmente se revelou pequena para tanta gente interessada”.
Já Lurdes Gonçalves admitiu que gostou muito do espectáculo, “à semelhança do que o museu tem organizado ultimamente”. Aliás, já se considera uma fã assídua deste tipo de iniciativas, que considera “fundamentais para chamar mais gente ao museu”.
Carlos Coutinho, director do Museu José Malhoa, disse à Gazeta como é “importante que o museu seja um espaço vivo e dinâmico, para assim poder manter uma relação aberta com a comunidade”. Na sua opinião, a sala Malhoa é um espaço distinto, que consegue criar uma mística envolvente porque permite a conjugação da pintura com outras formas de arte, neste caso a música. “Ao contrário de alguns auditórios, na sala Malhoa existe uma grande proximidade entre o público e os artistas e, por isso, as palmas sentem-se doutro modo”, finalizou o director.
O coro da Assembleia da República cantou quatro peças, “Prière du Soir” (Charles Gounod), “Patria Oppressa” (Giuseppe Verdi), “West Side Story” (Leonard Bernstein) e Cabaret (John Kander), acompanhadas pelo pianista Pedro Vieira de Almeida.