Revolução de Abril dá mote ao novo romance de Álvaro Laborinho Lúcio

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Além da escrita de romances, o antigo ministro da Justiça pertence à comissão independente que estuda os abusos sexuais da Igreja Católica em Portugal

“As Sombras de uma Azinheira” tem como pano de fundo a revolução de Abril e aborda o Portugal antigo e um outro, em construção, após a revolta

O novo romance de Álvaro Laborinho Lúcio aborda Portugal, nos 45 anos que antecederam o 25 de Abril, contado através da história familiar e política de João Aurélio.
“As Sombras de Uma Azinheira”, que chegou às livrarias na semana passada, refere-se também aos 45 anos que se seguiram à revolução, pois é narrado pelo percurso de Catarina, a filha de João Aurélio.
São, pois, 90 anos, separados por uma revolução, que servem de pano de fundo para este novo livro, “onde a ansiada revolução e o nascimento da criança perdem o significado no momento em que se cumprem para o personagem principal, João Aurélio”, contou o autor à Gazeta das Caldas. E isto porque o nascimento da filha implicou a morte da sua amada e, nesse momento, o militante comunista deixa de se interessar por tudo, incluindo a revolução. Deste modo, João Aurélio vai mergulhar no isolamento, na solidão, refugindo-se na aldeia onde nasceu. Longe dele, a sua filha Catarina procura saber quem é, no que faz e se propõe fazer. E é essa descoberta que o autor quer fazer com o leitor.
Esta obra foi escrita durante o primeiro confinamento, com a premissa de que “não seria sobre a pandemia”, contou o autor. Há muito que o magistrado desejava escrever sobre Abril de 1974 e fê-lo agora que se aproxima a celebração dos 50 anos da revolução.
“A ideia-chave baseia-se na história de uma família de classe média e através dela conta-se também a história do próprio país”, afirmou o autor, natural da Nazaré.
O país anterior é simbolizado pelo pai, uma personagem que renega tudo e que se fecha sobre si próprio e a filha, que representa o que há de novo, a esperança no futuro e na fundo na democracia.
Na primeira parte de “As Sombras de Uma Azinheira” conta-se a vida de João Aurélio, a militância pelo PCP e o enorme desejo por um filho e pela revolução também.
A trama desenrola-se entre o pai, “apresentado como uma figura acabada” e Catarina “que é uma personagem em construção, tal como o novo país, saído do 25 de Abril”.
Catarina vai viver com tios para Lisboa. Anseia conhecer alguém que tal como ela, também tenha nascido no dia 25 de Abril. E vai encontrar um engenheiro de minas, com quem se envolve e que, tal como ela, também faz anos nesse mesmo dia, marcado pela libertação do país. E com ele toma contacto com outras realidades como as que se vivem nas ex-colónias.
“Creio que há muitos leitores que se vão encontrar neste livro”, disse o autor, que estudou nas Caldas e já soma quatro romances.
O antigo ministro da Justiça mantém-se ligado à educação e pertence à comissão que estuda os abusos sexuais da Igreja Católica Portuguesa.