Linha do Oeste quase sem comboios devido às greves

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À espera do comboio… que cada vez está menos certo.

Todos os dias vários comboios da linha do Oeste são suprimidos porque a CP transfere os maquinistas que deveriam conduzi-los para outros serviços mais rentáveis e em linhas com maior visibilidade no país. É assim desde há meses, devido ao surto de greves às horas extraordinárias e aos dias de descanso, mas agora a situação agravou-se com a falta de pessoal no mês de Agosto por motivo de férias.
Como os maquinistas se recusam a trabalhar nas suas folgas (por ter sido alterada a forma de pagamento do trabalho extraordinário), a empresa não tem pessoal suficiente para assegurar o serviço na sua totalidade e prefere pôr nos carris os Intercidades para o Porto, Évora ou Faro, em detrimento dos comboios para as Caldas da Rainha ou Leiria.
Só na passada terça-feira foram suprimidos 11 circulações na linha do Oeste porque, pelos vistos, esta funciona agora como uma reserva à qual a CP vai buscar recursos humanos para assegurar os serviços nas linhas do Norte, do Alentejo e do Algarve.Desta forma, aquilo que o governo não conseguiu devido à contestação autárquica e popular – o encerramento parcial da linha – o Sindicato dos Maquinistas e o Conselho de Administração da CP estão a fazê-lo agora. Uma linha onde as pessoas nunca sabem se podem contar com os comboios, onde as estações e apeadeiros não têm pessoal nem sistemas de comunicação para informar os passageiros sobre a supressão das circulações, está condenada a ficar sem ninguém.
Para a CP isso até parece uma bênção pois vai conseguir índices de procura de tal modo reduzidos, que será pretexto para efectuar nova machadada na oferta, eliminando mais uns quantos comboios do horário e contribuindo assim para o encerramento total da linha.

ERA PARA MARÇO MAS FICOU PARA O FIM DO ANO

Este episódio é revelador da forma pouco atenta – para não dizer negligente – em como a CP gere este eixo ferroviário. Em Fevereiro passado Gazeta das Caldas questionou a transportadora pública pelo facto de a maioria dos serviços serem feitos com automotoras Allan (as mais velhas que a CP tem em todo o país) e não com as UDD (Unidades Duplas Diesel), que têm um melhor grau de conforto.
A empresa respondeu que tal se deveu a “necessidades operacionais temporárias que se prevê estarem resolvidas até finais do mês de Março”. Quando a situação ficar regularizada, dizia a CP, “ficarão ao serviço nessa linha cinco automotoras UDD, mantendo-se as Allan como reserva operacional.”
Até Março, dizia a CP. Mas até hoje nada mudou. E até o Interregional que faz Lisboa-Coimbra, a única ligação decente que a empresa tem na linha do Oeste, é por vezes realizada com uma tremelicante Allan, que se arrasta de Entrecampos às Caldas, onde a empresa brinda os seus clientes com um transbordo para …outra Allan igual à anterior.
Confrontada com este atraso na tal “regularização” do serviço, a CP respondeu à Gazeta das Caldas, em Julho passado, que um atraso no fornecimento de automotoras alugadas em Espanha para a linha do Minho, comprometera a vinda das UDD para a linha do Oeste, o que só deverá ocorrer “durante o último trimestre de 2012”.
Acerca do futuro da linha do Oeste, a transportadora pública disse ainda que “nas actuais condições da infra-estrutura nada irá alterar significativamente os resultados operacionais do serviço”, indexando a responsabilidade para a Refer a quem compete modernizar este corredor ferroviário.
Alguns responsáveis da Refer, por seu turno, dizem que não vale a pena investir na linha do Oeste porque a CP, com as velhas automotoras que tem e o serviço regional que nela presta, está bem servida com a actual infra-estrutura.
E está completada a quadratura do círculo.
Acerca do estudo apresentado pela Câmara das Caldas da Rainha, realizada pelo especialista em caminhos-de-ferro, Nelson Oliveira, onde são propostas soluções concretas para melhorar a oferta ferroviária com ligações directas a Lisboa, Leiria e Coimbra, a CP nada acrescentou.

Carlos Cipriano
cc@gazetadascaldas.pt

1 COMENTÁRIO

  1. O IR Lisboa-Coimbra parte em Santa Apolónia e não obriga a mudança de comboio nas caldas. Eu já andei nele, sei do que falo.