Porto da Figueira da Foz quer o Oeste na sua área de influência

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Porto da Figueira da Foz - Gazeta das Caldas
O projecto da Administração do Porto da Figueira da Foz vai permitir que navios de maior calado operem nesta infraestrutura e aumente o volume de carga transportada - Carlos Cipriano

Um investimento de 16 milhões de euros destinado a tornar o porto navegável por navios de maior calado pode permitir duplicar a carga transportada e estender o seu hinterland (zona de influência) às regiões Centro e Oeste de Portugal. Neste projecto a linha do Oeste readquire nova importância no transporte de mercadorias. 

O projecto tem o apoio do Ministério do Mar e poderá contar com fundos comunitários para a sua execução. A ideia é reposicionar a Figueira da Foz na geografia portuária do país e duplicar a carga transportada no seu porto através de um investimento de 16 milhões de euros que permite aumentar de 6,5 para oito metros o calado dos navios que ali operam.
Isto porque já em 2005 bastou terem-se feito dragagens que possibilitaram aumentar o calado (profundidade a que se encontra o ponto mais baixo da embarcação em relação à linha de água) dos navios de 5,5 para 6,5 metros para que a carga tivesse duplicado. Por isso, há razões que levam os responsáveis do porto a acreditar que agora poderá registar-se um novo salto quantitativo no número de toneladas movimentadas.
O investimento é relativamente simples: basta dragar até aos 10 metros para se poder receber navios com oito metros de calado, alargar a bacia de manobras do porto e melhorar a frente de acostagem através da expansão dos cais.
E a sua rentabilidade é tão sólida que os privados estão dispostos a entrar com 25% do financiamento, contando que o restante seja suportado em partes iguais pelo Estado e por fundos comunitários.

UM PROJECTO CONSENSUAL

O projecto foi desenvolvido pela Administração Portuária, com o apoio de uma empresa consultora, e conta com o natural apoio da Câmara Municipal e da Comunidade Portuária. Esta última é uma entidade sem fins lucrativos destinada a defender os interesses do porto e dos seus operadores, sendo formada pelos seus principais clientes.
O seu presidente, Gonçalo Vieira, é um entusiasta deste projecto, até porque a própria empresa que representa, a The Navigator Company (antiga Portucel) utiliza o porto para as exportações de papel e pasta de papel e teria muito a ganhar se pudesse utilizar navios de maior dimensão.
Para este responsável, o aumento do calado no porto é imprescindível, até porque os navios de pequena dimensão que hoje ali atracam estão a desaparecer. “A quantidade que existe a nível mundial é muito reduzida e já não se constroem navios destas dimensões. Os que restam ligam alguns portos no Norte da Europa ou fazem cabotagem na costa de África. O futuro são os navios de maior calado e a Figueira da Foz não pode deixar de se preparar para os receber”.
Mas o grande impacto do investimento é mesmo o alargamento do hinterland da Figueira da Foz e um maior uso da ferrovia dado que, em média, só dois comboios de mercadorias servem diariamente o porto.

A IMPORTÂNCIA DA LINHA DO OESTE

Para a Comunidade Portuária haverá condições para que a ferrovia venha a ter um papel mais importante e, dentro desta, a própria linha do Oeste.
Em 2019 a Infraestruturas de Portugal vai lançar um concurso para a concessão do terminal de mercadorias da estação de Leiria e isso vai permitir que as empresas do eixo industrial Leiria/Marinha Grande façam transportar os seus produtos em contentores para aquele terminal, que seguirão depois, em comboio, para a Figueira da Foz.
Segundo Gonçalo Vieira, basta um comboio com 24 vagões entre Leiria e Figueira da Foz para que o preço do contentor transportado seja 25% a 30% mais barato do que por via rodoviária.
“A linha do Oeste é uma oportunidade que não está a ser aproveitada”, diz Gonçalo Vieira, que lamenta que a modernização prevista seja só de Meleças até às Caldas e não se prossiga já com a electrificação de toda a linha pois, com essa melhoria, os custos do transporte de mercadorias para a Figueira da Foz reduzir-se-iam consideravelmente.
De resto, a ideia é que o hinterland se alargue até mesmo Alcobaça e Caldas da Rainha, cujas empresas exportadoras beneficiarão em escoar os seus produtos pela Figueira da Foz. Um bom serviço ferroviário de mercadorias poderia até atrair empresas do eixo Caldas da Rainha – Torres Vedras que, embora estando mais perto de Lisboa, encontrariam na Figueira da Foz um porto sem as limitações e o congestionamento do da capital.
Gonçalo Vieira é director de logística da Navigator, a maior empresa de papel do mundo, que em Portugal tem fábricas na Figueira da Foz, Vila Velha de Ródão, Aveiro e Setúbal e que exporta para 130 países. A sua experiência leva-o a defender a ferrovia como o modo de transporte terrestre mais eficiente e mais sustentável na cadeia logística. Por isso, entende que é urgente a modernização das vias férreas porque tal vai proporcionar custos mais baixos no transporte de mercadorias, com a vantagem de se emitir menos CO2.
Daí a “urgência” na electrificação total da linha do Oeste. Seria bom para o porto da Figueira da Foz e para o próprio transporte ferroviário.