Afinal o Hospital Termal parece que dá lucro, mas pretendem oferecê-lo aos privados

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Apresento-vos um facto controverso que é o de, ao contrário do que nos têm querido fazer acreditar, ser bem possível que o Hospital Termal esteja neste momento  a dar lucro. Mas caso isto não esteja de facto  a acontecer, o que sucede de certeza é que não dá o prejuízo apregoado.
O que se passa é que não estão a ser contabilizados nas suas contas a utilização que o Hospital Distrital dele faz.
Passo sucintamente a explicar:
Devido à contaminação nas suas águas, houve a obrigação de fechar o Hospital Termal.
Desse encerramento forçado acabou por resultar o facto do Serviço de Hidrologia ter neste momento internamentos  apenas, e infelizmente, em cinco quartos. Surpreendentemente, o serviço de Fisiatria deixou também de internar doentes, mas neste caso não se percebe o fundamento de tal decisão, até porque logicamente deveria ser esse um dos seus empenhos vocacionais, o que acarreta um enorme  prejuízo na rentabilização do Hospital.
Neste momento os serviços de Ortopedia, Psiquiatria e Fisiatria pertencentes ao Hospital Distrital estão a utilizar os serviços do Hospital Termal.
No entanto, nas contas  do Termal apenas é contabilizado o trabalho realizado pela Hidrologia. Toda a produção e utilização de espaços pelos outros serviços que mencionei, e que usam o Hospital Termal, é contabilizada no Hospital Distrital.
Mas a realidade é a de que, quando chega o momento de mostrar contas ao Ministério, contabilisticamente os números vão errados e o ministro da Saúde olha para eles e acaba por ser enganado, agindo e concluindo de forma desacertada. Daí o desabafo incompreensível que proferiu de que prefere criar pavões, ou dar dinheiro a pavões, do que manter o nosso Termal no SNS, que acaba por ser consequência e culpa da administração actual do CHON ao permitir que estes números assim cheguem à tutela.
Mas ainda há mais: até os Cursos de Técnicos de Balneoterapia realizados no Hospital Termal e que só têm a ver com o Hospital Termal, são contabilizados no Hospital Distrital.
Mas mesmo que o Termal de facto dê lucro, como o dá a RTP, que importância tem isso para o governo actual?
Alienar e privatizar, mesmo a estrangeiros, é a resolução
incompreensível e misteriosa para estes e muitos outros serviços  públicos.
Para o nosso Hospital Termal e para a sua entrega aos privados, parece que a Câmara das Caldas da Rainha tem já o seu papel atribuído  pelo governo.
Ora, eu penso que, se a Câmara das Caldas se quer meter nestes assuntos de Hidroterapia, então ela poderá ter um óptimo papel a desempenhar, mas que não será de certeza a privatização do Hospital Termal.
Este  auto-governou-se durante 500 anos, como o legado da Rainha D. Leonor nos exigiu e os nossos antepassados cumpriram. E não será a nossa geração, a mais bem preparada de todas, que não terá capacidade para o continuar a gerir. Até porque o Hospital Termal é por direito e legado da rainha D Leonor pertença do povo português, como o quis a Rainha, e doá-lo a privados é moralmente incorrecto, é um crime e felizmente constitucionalmente impossível.
A Câmara poderia, de facto, ter um óptimo papel, e isso sim, ajudando a concessionar a privados os magníficos pavilhões do Parque, que poderiam utilizar as águas termais, tal como o Dr. Mário Gonçalves preconizou, estudou e apresentou, e que poderiam ser Spas, hotéis, espaços de convívio e de congressos, etc., impedindo assim a sua total derrocada, apostando eu que a partir do seu funcionamento o mistério das legionellas e afins teria surpreendentemente o seu fim.
Este seria de facto o papel importante que a Câmara deveria ter e que iria colocar novamente as Caldas da Rainha no lugar que sempre teve de principal cidade termal Portuguesa.
Poderia terminar aqui este texto, mas propositadamente não o faço por querer, por interesse patriótico e cívico, que se debata o seguinte:
Quais são os interesses que este governo tem, para que nos casos do Hospital Termal, RTP e outros serviços públicos, tanto desejar as suas privatizações?
– Interesse político?
– Interesse económico?
– Compadrio?
– Corrupção? Isso poderia também pensar-se, mas penso eu que não, por não ser próprio de gente de bem que nós elegemos para proteger os nossos interesses.
Meditar sobre isto é cívico, patriótico e necessário para impedir acções que no mínimo serão apenas negligentes, mas que nos irão prejudicar a nós e aos nossos descendentes.
Termino lembrando, com o mesmo propósito de meditação, o que Henry Ford, disse em 1922: “convém que o povo não perceba o sistema bancário e monetário, pois se o percebesse, acredito que haveria uma revolução antes de amanhã de manhã”.

António Luís Gaspar