correio dos leitores – José Afonso

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Jorge, podia ter-te telefonado mas preferi partilhar com os nossos leitores o que penso, sobre a opinião que partilhaste também com os nossos leitores, sobre o José Afonso e da sua ida ou não para o Panteão Nacional (PN).
Não me vou repetir em relação ao papel que ele teve na nossa geração e à grande família de portugueses (e muito em particular de caldenses) que o adoptou como símbolo maior da resistência contra a ditadura, nunca mudando de rumo antes e após o 25 de Abril. Concordo inteiramente com as tuas palavras – eu não faria melhor.

Quando o Zeca manifestou a intenção de ser sepultado em campa rasa, estava consciente e igualzinho a si próprio – é desnecessário dizer mais. Permite-me comparar esta intenção à de qualquer um de nós, sobre coisas que consideramos importantes e muito nossas.
Enquanto cá estamos, batemo-nos pelas nossas ideias e exigimos um mínimo de respeito. Depois do nosso corpo partir, em nome de que valores ou princípios, e com que direito é aceitável que outros ponham em causa a nossa vontade?
Com todo o respeito e admiração por muitos dos portugueses sepultados no PN, penso que neste caso estamos claramente a remar contra a sua vontade, contra a imagem (que muitos de nós guardamos) do verdadeiro Zeca, que será talvez o melhor legado a deixar aos nossos filhos, netos e por aí fora…
Também eu desejo e muito que a memória de José Afonso não esmoreça, e não há dúvida que no PN ficaria “guardada” entre quatro paredes, mas não chega porque a memória precisa de ser alimentada todos os dias. E o que fazem os órgãos de comunicação social? E os “amigos”? – Contra mim falo. Felizmente que há grupos musicais a trabalhar as suas canções, mas muito mais devia ser feito a começar pela escola, com os programas respectivos a aprofundar a história contemporânea, etc., etc.
E se outra razão não houvesse para o evocarmos para além dos valores que referiste e muito bem, meditemos na premonição de muitas letras bem conhecidas de canções suas, que infelizmente continuam muito mas mesmo muito actuais, como é o caso de “Os Vampiros”.

Carlos Mendonça